sábado, 12 de dezembro de 2009

EIDOS INFO-ZINE # 21


Editorial,

Caros Amigos,

Nesse número, o Eidos traz a publicação de um artigo do antropólogo norte-americano David Graeber, problematizando a ausência dos anarquistas no âmbito acadêmico. Logo em seguida, temos o artigo assinalado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Política – NEPHISPO que discute o caráter (in)oportuno da imagem de Costa e Silva que foi colocada na reitoria da Universidade Federal de Uberlândia-UFU nesse ano de 2009. E por fim, está o manifesto de fundação da Federação Anarquista de São Paulo-FASP, a qual nós desejamos uma longa vida.
Boa leitura e anarquizem!

Por que existem tão poucos anarquistas na academia?

Esta é uma questão pertinente já que enquanto filosofia política, o anarquismo está realmente explodindo neste momento. Anarquistas ou movimentos inspirados pelo anarquismo estão crescendo em todos os lugares; os princípios tradicionais do anarquismo - autonomia, associação voluntária, auto-gestão, ajuda mútua, democracia direta - estão na base organizacional do movimento anti-globalização, agindo da mesma forma em movimentos radicais em todos os lugares.
Revolucionários no México, Argentina, Índia e demais lugares, têm crescentemente abandonado até mesmo a possibilidade de falar em tomar o poder e começaram a formular ideais radicais distintos sobre qual seria o significado da revolução. A maioria, admitidamente fica tímida em empregar a palavra “anarquista” em suas práticas. Mas como Barbara Epstein recentemente colocou, o anarquismo de longe tomou o lugar do marxismo nos movimentos sociais dos anos 60 e todos aqueles que não se consideravam anarquistas perceberam que teriam que se posicionar com relação ao anarquismo e foram atraídos por suas idéias.
Até então este fenômeno não sofreu nenhuma reflexão dentro da acadêmia. A maioria dos acadêmicos parecem ter apenas uma idéia vaga do que o anarquismo defende; ou o omite com os estereótipos mais ignorantes (“Organização anarquista! Mas isso não é uma contradição?”). Nos Estados Unidos existem várias centenas de acadêmicos marxistas das mais variadas linhas, mas dificilmente encontramos algumas dúzias de especialistas que se considerem anarquistas.
So are academics just behind the curve here? É possível. Talvez em alguns anos a academia será amplamente ocupada por anarquistas. Mas não estou prendendo meu fôlego. Parece que o marxismo têm uma afinidade com a academia que o anarquismo nunca terá. E foi, no final de contas, o único grande movimento social que foi inventado por um Ph.D., mesmo que, depois de tudo, tenha se tornado um movimento que pretendia se vincular à classe trabalhadora. A maioria dos relatos da história do anarquismo presumem que sua origem foi basicamente similar, o anarquismo é apresentado como fruto das cabeças de certos pensadores do século XIX – Proudhon, Bakunin, Kropotkin, etc.- e depois inspiraria as organizações da classe trabalhadora, passaria a envolver-se em lutas políticas, dividida em seitas... O anarquismo, nos relatos padrão, normalmente aparece como o primo pobre do Marxismo, teoricamente malformado, mas com paixão e sinceridade, compensando com alguns cérebros. Porém, na melhor das hipóteses, a analogia é algo forçada. Os "pais-fundadores" não se pensavam enquanto inventores de algo novo. Os princípios básicos do anarquismo - auto-organização, associação voluntária, ajuda mútua - faziam referência a formas de comportamento humanos que se pensava existir desde o início da humanidade. O mesmo vale para a rejeição ao estado e a todas as formas de violência estrutural, desigualdade, ou dominação (anarquismo significa literalmente "sem governantes"), inclusive para a premissa de que todas essas formas estão de alguma forma relacionadas e reforçam umas as outras. Nada disso foi apresentado como uma doutrina brilhantemente nova. E de fato não o era: podemos encontrar registros de pessoas apresentado argumentos similares por toda a história - ainda que haja razão para acreditar que, na maioria dos tempos e lugares, tais opiniões fossem as menos prováveis de terem sido colocadas no papel. Estamos falando, então, menos de um corpo teórico do que de uma atitude, ou talvez, alguém diria, de uma fé: a rejeição de certos tipos de relações sociais, a confiança de que outras relações sociais seriam muito melhores para construir uma sociedade e a crença de que tal sociedade poderia, de fato, existir.
Mesmo se compararmos as escolas históricas do marxismo, e do anarquismo, podemos perceber que lidamos com projetos completamente diferentes. Escolas marxistas possuem autores. Assim como o Marxismo veio da cabeça de Marx, temos os Leninistas, Maoístas, Trotskistas, Gramscianos, Althusserianos... (Note que a lista começa com chefes de estado e desloca-se, sem nenhuma costura, até professores franceses). Pierre Bourdieu notou, certa vez, que, se o campo acadêmico é um jogo no qual estudiosos lutam para dominar, então você sabe que ganhou quando outros estudiosos começam a pensar sobre como fazer de seu nome um adjetivo. E é, presumivelmente, para preservar a possibilidade de ganhar o jogo que os intelectuais insistem, ao discutir entre eles, em continuar empregando o tipo de teorias da história sobre os Grande Homens, as quais rejeitariam em qualquer outro contexto: as idéias de Foucault, assim como as de Trotsky, nunca são tratadas como o produto de um certo meio intelectual - como algo que emergiu de conversas infindáveis e argumentos envolvendo centenas de pessoas - mas sempre como se tivessem emergido da genialidade de um homem singular (ou, ocasionalmente, mulher). E também não é que a política marxista se organizou como uma disciplina acadêmica ou que tenha se tornado um modelo para a maneira como os intelectuais radicais - ou, cada vez mais, todos os intelectuais - se tratam; ao invés disso, ambas se desenvolveram uma depois da outra. Desde a perspectiva da academia, isso levou a muitos resultados salutares - o sentimento de que deveria haver algum centro moral, de que as preocupações acadêmicas deveriam ser relevantes para a vida das pessoas - porém, também levou a muitos resultados desastrosos: tornar muito do debate acadêmico em uma paródia da política sectária, com cada um tentando reduzir o discurso do outro a caricaturas ridículas de forma a declará-las não somente erradas, mas também maléficas e perigosas - mesmo se o debate normalmente se desenrola em uma linguagem tão arcaica que quem não pudesse bancar sete anos de graduação não poderia ter como saber que o debate estava acontecendo.
Agora considere as diferentes escolas do anarquismo. Há Anarco-sindicalistas, Anarco-comunistas... Nenhuma delas foi nomeada por algum Grande Pensador; ao invés, elas são nomeadas, invariavelmente, por causa de uma prática ou, mais frequentemente, devido a um princípio organizacional. (De forma significante, as tendências marxistas que não possuem o nome de indivíduos - tal como o Autonomismo ou o Comunismo de Conselhos - são as mais próximas do anarquismo). Anarquistas gostam de se distinguir dos outros pelo que fazem, e pela forma como se organizam para fazê-lo. E, de fato, os anarquistas gastaram a maior parte do seu tempo pensando e discutindo sobre isso. Anarquistas nunca tiveram muito interesse nas amplas questões filosóficas e estratégicas que preocuparam historicamente os Marxistas - questões como: São os camponeses uma classe potencialmente revolucioária? (Anarquistas pensam que isso é algo que os camponeses devem decidir.) Qual a natureza da forma-mercadoria? Em vez disso, eles tendem a discutir entre eles sobre qual a forma verdadeiramente democrática de tocar uma reunião, em que ponto uma organização deixa de possibilitar o empedramento e começa a esmagar a liberdade individual. Ou, por outro lado, sobre a ética de opor-se ao poder: O que é ação direta? É necessário (ou correto) condenar publicamente alguém que assassinou um chefe-de-estado? Pode o homicídio - especialmente se é para evitar algo terrível, como uma guerra - ser um ato moral? Quando é possível quebrar uma janela?
Para resumir, então:
1. O marxismo tendeu a ser um discurso analítico e teórico sobre estratégia revolucionária.
2. O anarquismo tendeu a ser um discurso ético sobre prática revolucionária.
Obviamente, tudo o que eu disse foi um pouco caricatural (existiram grupos anarquistas loucamente sectários, e muitos marxistas libertários orientados para a prática, incluindo, discutivelmente, eu mesmo). Porém, mesmo dito dessa forma, isso sugere uma boa dose de complementaridade potencial entre as duas. E, de fato, houve: mesmo Mikhail Bakunin, com suas batalhas infindáveis com Marx sobre questões práticas, traduziu pessoalmente O capital, de Marx, para o russo. Mas também ajuda a entender porque existem tão poucos anarquistas na academia. Não é que o anarquismo não tenha tendência para ser usado nas grandes teorias. É que ele está preocupado, primariamente, com formas práticas; ele que, antes de mais nada, acredita que nossos meios devem estar de acordo com nossos fins; pois não se pode criar a liberdade através de meios autoritários; na verdade, é preciso incorporar o máximo possível, nas relações com inimigos e aliados, a sociedade que se quer criar. Isso não combina muito bem com atuar dentro da universidade, talvez a única instituição ocidental - com exceção da Igreja Católica e da monarquia Britânica - que tenha sobrevivido a Idade Média com o mesmo formato, realizando duelos intelectuais em conferências em hotéis caríssimos, e tentando fingir que isso, de alguma forma, dá continuidade à revolução. Ao menos, imaginaríamos que ser um professor abertamente anarquista significaria desafiar a forma como as universidades são dirigidas - e tampouco me refiro à demandar um departamento de estudos anarquistas - e isso, é claro, trará problemas muito maiores que qualquer coisa que se possa escrever.

David Graeber
Disponível em: http://deriva.com.br/index.php



Da escolha ou porque (não) cometer uma heresia
A propósito da imagem de Costa e Silva na reitoria da UFU em 2009

Há pelo menos dois incômodos na exibição da imagem de um ex-general do Exército, tornado à força presidente da República, na porta de entrada da reitoria de uma universidade: o culto à personalidade e autoridade; a submissão a um suposto ato fundador. Ambos remetem essencialmente à questão da escolha. Ambos reeditam constrangimentos históricos da trajetória política deste país, da experiência das pessoas que por aqui passam, passaram, passarão.
O retorno do culto à personalidade (ou retorno ao culto da personalidade) pode ser entendido como reedição da busca de modelos para guiar comportamentos ou ainda como gesto que busca identificação com a escolha (com o escolhido). Ao eleger um personagem, essa atitude necessariamente exclui outros sujeitos e outras versões das narrativas. Ao elevar a autoridade do personagem, isolando-o das circunstâncias históricas em que atuou, essa eleição parece ignorar a história recente de nosso país e as feridas abertas e ainda não cicatrizadas, além de minimizar a importância das tensões, da diferença, da pluralidade. Cabe perguntar-se sobre a propriedade do culto à personalidade no seio da universidade – espaço plural por definição e fim.
Ademais, a personalidade em questão é no mínimo controvertida, pela expressiva participação do ex-general do Exército, Arthur da Costa e Silva, na institucionalização de um dos governos autoritários mais intolerantes e violentos da história política do Brasil e da América Latina, na condução da ditadura militar entre 1967 e 1969. A inegável identificação dessa personalidade aos rumos mais radicais da discutível escolha da forma ditatorial como possibilidade de solução aos conflitos é gritante. Salta aos olhos a participação central desse personagem na definição de um dos piores instrumentos jurídicos mobilizados neste país, o Ato Institucional n.5, aos 13 de dezembro de 1968 – marco do período mais cruel da ditadura. Costa e Silva assinou o ato que permitiu suspender os direitos políticos e, com eles, os direitos humanos daqueles considerados opositores ao dito regime militar. “O AI-5 caiu com a violência de um soco disparado no fígado.” [Martha Vianna. Uma tempestade como a sua memória: a história de Lia, Maria do Carmo Brito. RJ: Record, 2003, p. 49]. Entre outros, foi capaz de impor a contraditória “liberdade vigiada” e derrubar autoritariamente, com uma “canetada”, um dos pilares-base da democracia: a liberdade de pensamento e opinião. Estranha escolha para uma universidade. Incômoda heresia na atualidade.
A escolha de um ato fundador simbólico para a universidade (ou submissão a um suposto ato fundador), único e onisciente, incita ainda outro incômodo. A eleição de um momento fundador atribui a tal ato uma força geradora desproporcional aos rumos tomados em momentos posteriores, e impõe vinculações entre passado e presente que mais uma vez relegam a importância das tensões, dos conflitos, da diferença, da pluralidade. A submissão a um ato fundador supõe em alguma medida a crença em certa continuidade ou a identificação de elementos do passado no presente, como se fossem decorrências naturais; ignora rupturas, assola e atropela escolhas outras. Afinal, cabe perguntar-se sobre a importância da assinatura de um decreto-lei em 1969 para a trajetória e atualidade desta instituição. O decreto-lei que autorizou o funcionamento de uma Universidade Federal em Uberlândia em 1969 só pode ter desdobramentos importantes com o aproveitamento de faculdades já em atividade, além de ser efetivado apenas nove anos depois, a partir da federalização da UFU em maio de 1978. Cada interpretação desses registros dos “inícios” pode levar à eleição de um momento diferente como “ponto de partida”. Seria o começo da UFU a formação dos cursos de direito, de medicina ou a fundação da faculdade de filosofia, ciências e letras? Seria o início a fundação do conservatório de música? Seria o momento da federalização, pela importância na reunião dos inícios plurais para configuração da universidade como tal? Seriam as inúmeras discussões e ações coletivas que colocaram em pauta a importância de uma universidade nestas cercanias? Ao se considerar essa diversidade de inícios – diversidade, aliás, desejável no espaço universitário, além de comum ao percurso de muitas universidades no Brasil – torna-se ainda mais incômoda a escolha de um fato passível de tanta polêmica como o momento da assinatura de um decreto-lei em 1969, no contexto da reforma universitária no país.
Ao se conhecer essa pluralidade de inícios, torna-se no mínimo constrangedora a eleição de uma imagem fundadora que invoca de imediato a autoridade do mesmo Ato Institucional n. 5, que permitiu tantas violências inclusive nas universidades, que institucionalizou a perseguição a estudantes, funcionários e professores. Seria possível saudar o signatário do decreto de 14 de agosto 1969 ignorando-se o ato de 13 de dezembro 1968? Seria cabível isolar o signatário em apenas um ato? Se a escolha quer assinalar marcos históricos, definir uma memória (em detrimentos de tantas outras possibilidades) e, com isso, estabelecer uma discutível continuidade entre o passado e o presente, cabe perguntar: que herança se quer sublinhar quando se remete o ato fundador a tal momento? Se um ato fundador pode sempre remeter a um “terreno movediço” de significados e perspectivas, cercado por muitas complexidades, certamente não comporta personalismos. Mais uma vez, estranha escolha para uma universidade. Incômoda heresia na atualidade.
Embora relacionada cotidianamente a temas da religiosidade, a heresia, etimologicamente, remete diretamente à dimensão ética da escolha. Como ato ou efeito de escolher, heresia revela sempre uma preferência, uma opção, uma predileção. Diante da heresia que a fixação da imagem de Costa e Silva na reitoria da UFU em 2009 parece revelar, registramos neste momento outra escolha, julgando-a fundamental para a vida ativa na universidade: o direito a uma outra heresia. Heresia como capacidade de discernimento, como qualidade daquele que professa uma doutrina contrária à imposição de escolhas sem discussões, aos autoritarismos. Questionamos a decisão tomada sem, no mínimo, considerar a história da universidade e conclamamos os hereges a discuti-la.
Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Política – NEPHISPO
Disponível em: http://www.adufu.org.br/artigospublicados.



MANIFESTO DE FUNDAÇÃO DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA DE SÃO PAULO (FASP)
Companheiros e companheiras,depois de pouco mais de um ano do chamado para a constituição de uma organização anarquista especifista em São Paulo, nos reunimos hoje para finalizar esta etapa da Pró-Federação Anarquista de São Paulo. Há exatos 20 meses, alguns companheiros, motivados pelas experiências do anarquismo organizado no Brasil e identificando a necessidade de uma atuação organizada dos anarquistas nos movimentos populares, decidiram iniciar as discussões para formar uma organização específica anarquista. Estas discussões culminaram no I Encontro Pró-FASP, realizado em julho de 2008, e no II Encontro Pró-FASP, ocorrido em julho de 2009, que tiveram ampla participação, mostrando o interesse pela proposta.Neste período, constituímos um núcleo de militantes e um grupo de apoio que se reuniram periodicamente e, em pouco tempo, se engajaram nos trabalhos práticos, aproveitando o que já vinha sendo realizado por militantes individualmente. Hoje, a Pró-FASP divide-se, para o trabalho social, em duas frentes: uma camponesa e indígena, que realiza atividades com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e com o movimento indígena, e outra, comunitária, que realiza atividades com o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável (MNCR). Internamente, temos realizado relações com individualidades e outras organizações, além de atividades de formação política. Após incansáveis horas de reuniões e realizações de atividades, nos sentimos preparados para dar mais este passo rumo à próxima etapa: a fundação de nossa organização.A FASP coloca-se dentro de uma tradição que sempre foi majoritária no campo libertário que é a do “anarquismo social” ou do “anarquismo de massas”, responsável por impulsionar fenômenos de grande importância como o sindicalismo revolucionário. No entanto, ainda que sustentemos a necessidade do anarquismo desenvolver-se nos movimentos populares – o que alguns chamaram “vetores sociais do anarquismo” – defendemos que para isso é fundamental a organização específica anarquista, posição esta que nem sempre foi majoritária. Esta posição foi defendida, historicamente, desde o surgimento do anarquismo, por Bakunin (Aliança da Democracia Socialista), Malatesta, e mesmo Kropotkin em determinados momentos, passando pelos anarco-comunistas russos do Dielo Truda e pelos búlgaros da Federação dos Anarco-Comunistas Búlgaros (FAKB). Na América Latina há experiências importantes como a Junta do Partido Liberal Mexicano, a Federação Anarquista Uruguaia e a Resistência Libertária, da Argentina.No Brasil essa tradição de massas do anarquismo social se faz presente há mais de 100 anos, e foi responsável pelas mobilizações sindicais que tiveram muita relevância no início do século XX. Foi ela que organizou a classe trabalhadora brasileira que ingressou na luta por conquistas como a jornada de oito horas de trabalho. Nos inspiram acontecimentos como a Greve de 1917, que contou com participação significativa dos anarquistas. No campo da organização específica anarquista, houve grupos que tentaram organizar a militância, mas sem grande sucesso, visto que naquele momento, o anarquismo no Brasil, da mesma forma como em outros lugares do mundo, estava hegemonizado pelas concepções sindicalistas, que não julgavam importante a constituição de organizações anarquistas para o trabalho nos sindicatos. São exemplos de organização deste tipo, o primeiro Partido Comunista Brasileiro (1919), a Aliança Anarquista do Rio de Janeiro e grupos de São Paulo que se constituíram em torno dos periódicos desta época, que sustentavam os níveis diferenciados de atuação – da organização anarquista e dos movimentos populares, o que outros chamam de “dualismo organizacional”.O anarquismo esteve em evidência e foi fundamental na luta de classes do Brasil até a década de 1930 quando, por uma série de fatores externos e internos, perdeu espaço nos sindicatos e não conseguiu encontrar novos espaços de atuação em meio a outras lutas que se deram nas décadas posteriores. Esta conjuntura resultou no surgimento de centros culturais, ateneus libertários e grupos de anarquistas que, se por um lado significavam o afastamento dos anarquistas do campo da luta de classes, por outro tiveram a importância de manter acesa a chama do ideal anarquista e permitir que ele sobrevivesse até os fins da ditadura militar.A abertura política dos anos 1980 foi importante para a reinauguração do Centro de Cultura Social de São Paulo (CCS-SP), um destes centros, fundado ainda em 1933. A rearticulação do CCS-SP e a mobilização que ele conseguiu para suas atividades teve significativa importância para o ressurgir do anarquismo em São Paulo, no momento pós-ditadura. As palestras e debates sobre diversos temas motivaram ampla participação e uma tentativa de atividade sindical desenvolveu-se, visando reavivar a Confederação Operária Brasileira. Aqui prestamos a devida homenagem ao CCS-SP, que foi fundamental, nos anos 1990 e início dos 2000, para a formação dos militantes que iniciaram a proposta da FASP. Nosso contato com seus militantes mais velhos como Jaime Cubero (in memoriam), Antônio Martinez (in memoriam) e José Carlos Morel foram muito importantes para nossa formação. Junto com eles, também nos fizeram conhecer e nos aprofundar no ideal anarquista, as publicações da editora Novos Tempos / Imaginário feitas por Plínio A. Coêlho.O desenvolvimento do anarquismo nos anos 1990 e início dos 2000 nos ensinou muito. Tivemos contatos com experiências como a Federação Anarquista Gaúcha, a Federação Anarquista do Rio de Janeiro e outras iniciativas que derivaram do processo da Construção Anarquista Brasileira aqui em São Paulo. Ao mesmo tempo, nestes anos, alguns de nós realizaram militância nos movimentos populares, fundamentalmente nas mobilizações comunitárias na periferia, em movimentos de sem-terra, sem-teto, entre outros. Além disso, participamos do “movimento de resistência global” e de diversas manifestações e enfrentamentos de rua, ocupações e outras formas de ação direta. Este acúmulo entre o que houve de positivo e de negativo destas experiências, ainda que seja modesto, nos fez estar certos de algumas coisas:
* Os movimentos populares que organizam, por suas necessidades, as classes exploradas que sofrem os efeitos da luta de classes nos parecem os únicos meios para operar uma transformação revolucionária da sociedade visando à construção do socialismo.
* Assim, nossos esforços devem buscar construir e participar destes movimentos.
* Neste processo de construção e participação, estar nos movimentos individualmente e desorganizados não é suficiente. É fundamental que estejamos lá com um projeto programático e com a devida organização.
* Devemos nos preocupar com a relação entre a organização anarquista e os movimentos populares para não incorrermos em conhecidos equívocos: nem estar atrás dos movimentos, “a reboque” deles, nem à frente, querendo exercer função de partido de vanguarda.
* Para isso, não é suficiente a auto-identificação como anarquista, mas a identificação com um projeto determinado. Precisamos de um modelo de organização que dê conta dos objetivos que nos propomos a atingir.
* Estas premissas apontam para a necessidade de criarmos uma organização específica anarquista que, com unidades no campo da teoria e da prática, poderá agrupar militantes responsáveis, que trabalhem com estratégia, dando a devida coesão ao nosso trabalho.
Portanto, é isso o que pretendemos realizar hoje aqui. Humildemente, plantar mais uma semente do anarquismo em nosso solo latino e trabalhar com determinação para que ela germine e dê frutos promissores. Aproveitar as lições aprendidas no passado para trabalhar na construção do futuro. E, por meio do exemplo, conseguir novos e renovados militantes para nossa causa.Esta data escolhida para nossa fundação alude a um momento-chave na história do anarquismo no Brasil. Em 18 de novembro de 1918 os anarquistas realizaram uma insurreição no Rio de Janeiro com o objetivo de criar o primeiro soviete no país. Apesar de frustrada, a experiência nos inspira por representar um momento histórico do anarquismo no seio do movimento popular, com muita combatividade na luta pela revolução social.
Finalmente, entoamos as consignas de outras organizações para declarar fundada, neste momento, a Federação Anarquista de São Paulo!
Ética, compromisso, liberdade!Não tá morto quem peleia!
Arriba los que luchan!
Viva o anarquismo!
Viva a FASP!
Federação Anarquista de São Paulo (FASP)
Fonte: http://www.anarquismosp.org/



Notícias

NOTA OFICIAL DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA APÓS A CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLÍTICO-POLICIAL CONTRA A ORGANIZAÇÃO

Companheiras e companheiros,

Até o Grupo RBS reconheceu que a causa é política e não um caso de policial e nos colocou na editoria de POLÍTICA. O delegado titular caracterizou com todas as implicações possíveis e a nota que saiu há pouco no Plantão da Zero Hora reflete a compreensão dessa farsa jurídico-policial. Temos a total confiança de que vamos conseguir nos defender e provar que o ocorrido foi um ato político de responsabilização de um evento de repressão ao MST cuja chefe do Executivo estadual e o comandante dentro do campo de operações são, de fato, os responsáveis políticos. Em qualquer país da América Latina esse episódio iria gerar uma indignação popular. Esperamos que o conjunto das entidades de base, movimentos populares e a esquerda autêntica compreendam que hoje é com a FAG, amanhã pode ser contra qualquer outra agrupação que ouse falar o que pensa e provar o que sabe.

Solidariamente, Federação Anarquista Gaúcha
Fonte: www.vermelhoenegro.og/fag

Violência policial contra manifestantes em Brasília

Mais de 2.000 pessoas participaram do ato contra a política corrupta do governo de Arruda e aliados/as no DF nesta manhã de quarta-feira. Após o meio dia, alguns/mas manifestantes iniciaram panfletagem entre os carros, paralisando as vias do eixo monumental. Além de um ato para agregar todas as pessoas que exigem o impeachment e punição para os/as deputados envolvidos no escândalo de propina do GDF, a manifestação teve como intuito 'parar a cidade', como meio de manter o clima de ingovernabilidade coerente com a indignação sentida pela população.
A polícia repreendeu o bloqueio das pistas de maneira brutal e despropositada. Além da PM, tropas de choque, Rocam, Polícia Canina, Cavalaria e um tanque de guerra estilo caveirão/brucutu, iniciaram uma ofensiva contra os/as manifestantes avançando contra o cordão humano com cerca de 200 pessoas, agredindo-as inclusive quando estavam na ilha que divide as pistas, ou seja, quando não estavam obstruindo o trânsito.
Mesmo estando desarmados/as e exercendo o direito de protesto em local público, os/as manifestantes foram atacados/as com cerca de uma dúzia de bombas de efeito moral, gas de pimenta, e pisoteados pelos cavalos. Várias pessoas estão feridas e três foram presas.Grupos de apoio já estão na 5a Delegacia de Polícia do DF para efetuar a soltura dos/as presos/as.
A polícia declarou a imprensa que a operação foi "perfeita". Vale lembrar que na ultima segunda feira policiais militares e bombeiros fizeram uma manifestação de apoio ao Arruda, carregando faixas com os dizeres "não se iluda, quem é Arruda não muda". A OAB irá analisar as imagens e para estudar a possibilidade de fazer denúncia contra o GDF no Ministério Público.
Amanhã vai ser maior: ato/assembléia as 13h na praça Zumbi dos Palmares, Conic.
*Sexta dia 11/12, a Convergência de Grupos Autônomos do DF convida a população para um carnaval fora de época na Rodoviária do Plano apartir das 17hs.
*Sábado dia 12/12, haverá uma uma carreata/bicicletada saindo às 9 horas do Palácio do Buriti e indo para a residência oficial do Governador em Águas Claras.
*Bicicletada Fora arruda e toda a mafia:quarta, dia 16/12, às 18h, saindo da Praça das Bicicletas, Museu da República

Fonte:http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2009/12/460428.shtml


Manifestação contra a OMC em Genebra na Suiça.

A mobilização ocorreu neste sábado (28), em Genebra. Os anticapitalistas também lançaram fogos de artifício na principal rua comercial da cidade, e pedras contra os policias, que, fortemente armados, revidaram com bombas de gás lacrimogêneo, gás pimenta, canhões de água e balas de borracha para dispersar os manifestantes, que seguiam para a sede da OMC. Pelo menos 40 pessoas foram presas. Amanhã, 30 de novembro (N30), comemoram-se os 10 anos da batalha nas ruas de Seattle, cidade dos Estados Unidos, onde foi realizado o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC), da chamada "rodada do milênio".

Fonte:Agência de Notícias Anarquistas


Protesto contra o fim dos cursos para professor em Patos de Minas-Minas Gerias

No dia 20 de novembro, alunos do curso de História protestaram contra o fim de algumas licenciaturas em Patos de Minas. Este ano, o vestibular para História e para outras áreas das exatas não será realizado. O motivo do protesto foi a falta de apoio da instituição. A pequena quantidade de inscritos para o vestibular levou à interrupção no oferecimento dos cursos. Para que isso não aconteça, os universitários fecharam a Major Gote com gritos e cartazes em apoio aos profissionais do magistério.Os alunos pedem maiores explicações a respeito do fechamento dos cursos e reivindicam melhores condições de estudo. Eles, apesar dos baixos salários pagos ao professor e a falta de condições de trabalho, sabem da importância do educador para a sociedade e desejam que não acabem com os cursos.



Campanha Associativa do Centro de Cultura Social de São Paulo

Fundado em 14 de janeiro de 1933, o Centro de Cultura Social (CCS) de São Paulo é uma associação sem fins lucrativos remanescente da forte militância anarcossindicalista na Primeira República. Quando o fluxo imigratório se acentuou a partir dos últimos anos do século XIX, os trabalhadores que aqui chegavam, ao organizarem seus sindicatos para lutar por melhores condições de vida, criaram também seus centros de cultura.
Desde sua fundação o CCS promove intensa atividade política e cultural. Já em janeiro de 1933 anunciava a conferência da escritora argentina Concepción Fernandez, com o título "A Música como Fator de Aproximação dos Povos". Além das conferências, cursos, exposições, montagens teatrais etc., o CCS participou de campanhas políticas de envergadura, como a luta anti-integralista, juntamente com o jornal A Plebe e a Federação Operária de São Paulo (FOSP). Promoveu comícios, publicou panfletos e em sua sede se reuniram os trabalhadores que confrontaram os integralistas em outubro de 1934. Trajetória que faz do CCS patrimônio cultural e lugar de preservação da memória e cultura anarquista e das lutas operárias na cidade de São Paulo.
Durante seus mais de 75 anos de existência, o CCS enfrentou muitos problemas políticos, entre eles três ditaduras, permanecendo ativo até os dias de hoje. É constituído de uma biblioteca especializada em anarquismo e socialismo com diversos livros e periódicos, sustenta um serviço de livraria com publicações nacionais e estrangeiras e mantém uma programação regular de atividades sociais e culturais. Contando apenas com a contribuição financeira voluntária de seus associados e colaboradores, o CCS encontra sérias dificuldades no aprimoramento e continuidade de seu trabalho. O objetivo desta campanha associativa é o de superar tais dificuldades.
Tornando-se Sócio Contribuinte do CCS você não apenas ajuda de maneira direta a manter suas atividades, como também usufruirá do serviço de biblioteca circulante (exceto obras raras) e receberá grátis por correio suas publicações (boletins, livros etc.). Ao preencher a ficha de inscrição e enviá-la por e-mail, um carnê lhe será remetido pelos correios com o valor e o número de contribuições indicados. Por exemplo, ao escolher o valor de R$ 30,00 e a periodicidade mensal você receberá um carnê com 12 contribuições de R$ 30,00; periodicidade trimestral com 4 contribuições; e semestral com 2 contribuições. Ou você pode optar em realizar uma única contribuição no valor escolhido diretamente na conta do CCS: Banco Itaú, Ag. 021-1, C/C 68.704-1.


Fonte: Francisco Ripo
E-mail: franciscoripo@gmail.com




Campanha ajude a Casa da Lagartixa Preta( Santo André-São Paulo) a se livrar do aluguel!

A Casa da Lagartixa Preta “Malagueña Salerosa” é um espaço de autogestão, solidariedade e ajuda mútua no bairro Casa Branca, em SantoAndré. É um ponto de difusão e encontro de pessoas e práticas libertárias, aberto para a vizinhança e para a região do ABC, bem como para outros coletivos e gentes das partes mais diversas do planeta ou de fora dele.Sua localização é de fácil acesso, está a mais ou menos dois quilômetros(15 minutos a pé) da estação Santo André, na qual se cruzam duas linhas importantes de transporte no ABC e na Grande São Paulo: a linha de trem Luz-Rio Grande da Serra (que corta as cidades de São Paulo, São Caetano,Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) e a linha de tróleibus Jabaquara-São Mateus (que corta São Paulo, Diadema, São Bernardo,Santo André e Mauá). No local também há um terminal de ônibus municipais e intermunicipais.Através da casa e das atividades que trazemos para ela ou que levamos delapara outros lugares, buscamos pôr em prática o modo de vida em que acreditamos, fazendo experiências de intercâmbio e produção não-mercantis,valorizando as diferenças humanas e não só humanas, com base na ecologia e na ajuda mútua.Fazemos experimentos de permacultura, bioconstrução, reciclagem, dádiva e reaproveitamento de objetos usados, uso de plantas que crescem na cidade (parafins medicinais e alimentares), reaproveitamento de alimentos (que coletamos nafeira livre na rua da casa), culinária (com foco no vegetarianismo),faça-você-mesmo (produção de livros, camisetas, sabão etc.), criação e fomento de cooperativas (de alimentos, roupas etc.), pedagogia libertária e o que mais tiver a ver com maneiras solidárias, libertárias e ecológicas de vida. Temos horta e biblioteca comunitárias,captador de água da chuva, composteira,círculo de bananeiras (alimentado pela água da pia da cozinha etc.), estante de dádivas (na qual pode-se doar objetos usados em bom estado, ou retirá-los gratuitamente), um espaço para produções e artes (pintura, artesanato,silk-screen) e brinquedos para as crianças, uma sala para debates e momentos de ócio, um galpão que construímos (onde guardamos ferramentas, banco desementes e fazemos manutenção de bicicletas) e espaços abertos para novas propostas.Lá promovemos debates sobre os mais diversos temas, encontros de agroecologia e permacultura, fanzineiros, pedagogia libertária, reuniões de coletivos libertários, eventos artísticos e festivos. Durante a semana temos atividades fixas como a Segunda Vagabunda (atividade quinzenal com temas diversos sobreartes, que mudam mensalmente, das 20h às 22h na segunda-feira), ioga(quinta-feira, das 15h às 17h) e o Almoço Grátis (coleta de alimentos na feira, produção, comilança e limpeza coletiva, das 12h30 às 15h nasexta-feira). Temos grupos de estudos e práticas de capoeira angola(segunda-feira, das 9h às 11h) e agroecologia e construção (quinta-feira,das 9h às 13h). Mensalmente também oferecemos uma festa que visa arrecadar fundos para o pagamento do aluguel da casa, sempre com um tema culinário:pizza, feijoada vegana etc.Também atuamos na nossa rua (jogando futebol, fazendo brincadeiras e danças),no bairro (plantando árvores, coletando ervas nativas das calçadas e apoiando vizinhos) e estamos ligados a outros coletivos e espaços no ABC e fora dele.A Casa da Lagartixa Preta “Malagueña Salerosa” é um espaço aberto também à sua intervenção, desde que de acordo com nossos princípios. Venha participar!
Todo mês pagamos um valor bastante alto de aluguel [veja "prestação de contas"]. O dinheiro que usamos é conseguido nas festas, com venda de comidas, bebidas, camisetas, CDs e DVDs, e também com doações. Apesar de toda a solidariedade, o que conseguimos ao final não sobra para praticamente mais nada. Isso faz com que seja muito difícil juntarmos dinheiro para comprar a casa de vez. Por isso, contamos com o apoio de pessoas e coletivos que colaborem conosco, fazendo doações.
Como fazer? É muito simples: deposite o quanto quiser na CONTA POUPANÇA (lembrem-se dessas duas palavrinhas) número 1008762-7, AGÊNCIA 0112-0, Banco Bradesco e nos encaminhe um email nos informando sobre o depósito.
Agradecemos muito sua colaboração!

Fonte: http://www.ativismoabc.org/index.php

Contatos

Fernanda Caroline de Melo Rodrigues: fernandaanarquista@yahoo.com.br
Thiago Lemos Silva: thiagobakunin@yahoo.com.br

Um comentário:

ventodeliberdade disse...

é isso aí!
Informativo muito completo!