quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

EIDOS INFO ZINE # 13

Editorial


Caros Amigos,


Depois de um ano que saiu a 12ª edição do Eidos, estamos de volta. Esse período, mais ou menos longo, em que estivemos ausentes serviu para que pudéssemos retomar e amadurecer nossas reflexões a respeito do que aconteceu em torno da realidade que nos circunda nesse intervalo.
Na sua 13ª edição, o Eidos traz um artigo de Jacy Alves de Seixas, publicando a tradução de um excerto do seu livro “Memoire et oubli: Anarchisme et Syndicalisme Revoluttionaire au Brésil” onde a referida historiadora procura demonstrar o caráter político, muitas vezes negado pela historiografia, da estratégia de ação direta do primeiro movimento operário brasileiro. Destacamos também o artigo de Thiago Lemos Silva sobre as repercussões do protesto do professor Fernando durante o desfile militar de 7 de setembro em Patos de Minas. Há ainda, a indicação de um vídeo postado no Youtube, em que Nildo Avelino, Secretário do Centro de Cultura Social de São Paulo, disserta a respeito do pensamento único no movimento socialista. Por fim, trazemos um texto assinalado pela Farj (Federação Anarquista do Rio de Janeiro) e por outras organizações anarquistas acerca da última crise econômica que se abateu pelo mundo.
Como já assinalamos em editorial anterior, apesar de vivermos em uma sociedade onde o “consentimento sem consentimento” se impõe cada dia mais com uma força renovada, anunciando o fim da história e decretando o fim da utopia, ousamos dissentir, colocando, dessa forma, na ordem do dia a atualidade da mensagem anarquista. É dentro desse espírito que aceitamos com humildade, porém sem medo, o desafio de buscar a diferença em meio à uniformidade. Por isso conclamamos a todos para lutar... O sonho ainda não acabou, continuemos, pois, a exigir o impossível.

Boa Leitura e anarquizem!

Contatos

Fernanda Caroline de Melo Rodrigues: fernandaanarquista@yahoo.com.br
Thiago Lemos Silva: thiagobakunin@yahoo.com.br



O campo do político


Essas duas diretrizes – ação e autonomia – delineiam o caráter político, que habitualmente se recusa a reconhecer, da estratégia operária da ação direta, operando em uma sociedade oligárquica, que fez da tutela, social e política, seu mais sutil e eficaz mecanismo de dominação.
Há questões que permanecem sem resposta satisfatória se persistimos a não levar em conta a dimensão política do sindicalismo de ação direta. Um único exemplo: a historiografia se interroga frequentemente sobre o comportamento político contrastante da população urbana durante a “Primeira República”, caracterizada, de uma parte, por uma indiferença manifesta em relação à política enquanto esfera pública regulada pelo Estado e acessível aos cidadãos ( em síntese, sua indiferença à se colocar a si-próprio como corpo e coração da cidadania), e de outra parte, pela participação interessada, cada vez mais massiva, em outras esferas de ação. Como, então, compreender essa dualidade (indiferença política/participação social) que, assim formulada e incessantemente reproduzida, parece reconhecer os movimentos sociais, mas, lhes negar a sua dimensão política?
O que é sentido como uma dualidade no comportamento político resulta de um cálculo estratégico preciso: uma escolha (do) político. Esse cálculo modelou o movimento operário e o transcendeu em graus diversos: evento impossível de se medir e que é, entretanto, sensível à observação, que encontramos nos grupos subalternos urbanos, da população das grandes cidades. Incluso em uma estratégia anti-capitalista, esse cálculo visa afirmar uma presença, um poder. É, portanto a questão do político que está em causa aqui, ainda que esse cálculo se distancie dos marcos democráticos do exercício da política parlamentar clássica. Trata-se de uma estratégia anti-parlamentar e sindicalista, responsável por um sindicalismo autônomo durante a “Primeira República”, mas, onde a organização escolhida, o sindicato, fica dependente da ação direta e de suas modalidades, ofensivas ou de resistência.
Neno Vasco, no seu precioso livro inacabado, precisa que, “o que é essencial no sindicalismo é a organização de classe do proletariado. É o movimento sindical” (Vasco, Concepção Anarquista do Sindicalismo, Lisboa: A Batalha, 1920, p.46-47). Para compreender essa expressão, devemos separar os dois termos e estabelecer entre eles uma relação ligeiramente hierárquica: movimento (relacionado à ação), sindical (relacionado à organização). “Movimento” guarda aqui uma acepção material, física; é o que move e o que pode fazer mover os homens e as classes sociais, e que pode criar poderes. A organização, ainda que essencial, lhe é tributária.
A primazia é dada à ação direta: essa relação, carregada de tensão (ação > organização) vai definir todo um campo do político onde a participação dos trabalhadores será chamada a se exercer de forma radicalmente autônoma para ganhar corpo efetivamente pouco a pouco.O sindicalismo revolucionário francês criou e difundiu a expressão: “o homem torna-se ferreiro forjando” (Griffuelhes; Keufer, . “Les deux conceptions du syndicalisme: I. Le syndicalisme révolutionnaire ; II. Le syndicalismo réformiste. Le Mouvement socialiste, nº146, 1/01/1905). No mesmo espírito, uma imagem análoga se espalha no Brasil, imagem que procura considerar cuidadosamente a juventude das classes trabalhadoras:“Aqueles que caminham correm o risco de tropeçar; sobretudo quando se começa e faltam experiência, musculatura e elasticidade.” (Vasco. “A ação direta”. A Guerra Social, nº5, 3/09/1911).
A ação é o melhor termômetro da organização sindical. Ela se exprime espontaneamente e se integra na linguagem cotidiana dos militantes. Assim, nos períodos de depressão do movimento operário, eles dizem: “Os operários não se preocupam com a luta, as associações na maior parte dos casos estão em um estado letárgico, a federação não se move, a propaganda pelas oito horas é deficiente” (Novo Rumo, nº 17, 28/12/1906).
Se pelo contrário, o movimento se porta bem, como no dia seguinte da greve geral de 1907, estimam que o sindicato realizou sua “tarefa de incitação à ação”, e que tende a se tornar “um centro de ação capaz de desencadear movimentos sérios de revoltas” (A Lucta Proletaria, nº 1, 17/01/1908.).
É a ação, mais que as profissões de fé ideológica, que pode conferir um caráter revolucionário as organizações, quer se trate de importantes federações ou de modestas ligas de ofício, perdidas nos distantes subúrbios. As organizações operárias, prescrevem a FOSP, devem ter um “caráter revolucionário”, entendendo por isso que elas devem “agir de forma direta com os meios reconhecidos como os mais eficazes contra o capitalismo” (La Lotta Proletária, nº23, 24/09/1908). É o princípio da ação direta que atravessa e legitima inteiramente o sindicalismo dito de “resistência”. Fazendo com que a sua instituição chave possa ser definida simplesmente como um “grupo de ação ligado pelo interesse” (A Lucta Proletária, nº10, 21/03/1908). De fato, sua mais forte instituição não é outra senão a própria ação direta.
Dito de outra forma, a propaganda sindicalista revolucionária no Brasil não está baseada sobre a função, presente e futura, do sindicato enquanto instituição essencial para a constituição da classe operária: essa função é substituída e realizada pela ação direta. Entretanto, não poderíamos negar aos partidários da ação direta de ser igualmente, mas, diferentemente, partidários da ação política. É o que replicam os sindicalistas revolucionários a seus contemporâneos que os acusam de ser inimigos da política. Assim, sublinham eles, a ignorância do dirigente amarelo Pinto Machado sobre a questão social, quando ele qualifica os anarquistas de antipolíticos: “Nós queremos ser chamados de anti-governamentais, anti-eleitorais e só” (A Terra Livre, nº 4, 17/02/1906).
Para não incorrer em um erro similar, devemos conferir à estratégia de ação direta o projeto de repensar e refazer, o político à luz de suas próprias práticas. O ponto de partida dessa “demarche” é o questionamento da separação do Estado (lugar do político) e da sociedade civil, seguida do investimento na criação de um espaço político alternativo em que novas formas de exercício do poder poderiam se desenvolver. O cálculo visa, através da força criativa da qual creditamos ao movimento operário, a deslocar o político da esfera político-parlamentar e, ao mesmo tempo, alargá-lo na sua significação e suas modalidades de exercício.
Quantas vezes ouvimos, no mundo operário brasileiro das três primeiras décadas desse século, a afirmação que a “luta eleitoral” não constitui “em si e somente toda a luta política” e que o sindicalismo revolucionário “não aceita a política parlamentar, mas faz luta política” (“Sociedade de resistência” A Terra Livre, nº 2, 13/01/1906); ou ainda que: “Nossa ação deve ser inteiramente libertária, quer dizer, revolucionária, anti-parlamentar, anti-política, se a palavra política atribui o sentido vulgar do termo – ciência de Estado, forma de governar as pessoas”... (Vasco. A Nossa Ação. Renovação. Rio de Janeiro, n° 6, Abril de 1922)
Estamos aqui em presença de uma concepção do político ancorada nas relações sociais e econômicas e em relação fundadora com a ação. “O método de organização é a questão política fundamental”, conclui Neno Vasco (Vasco, Concepção Anarquista do Sindicalismo, Lisboa: A Batalha, 1920, p.89). Ora, essa relação, carregada de tensão, que podemos formular assim “ação > organização = o campo do político” é válida em todos os lugares onde o movimento operário está voltado para o sindicalismo revolucionário, no Brasil, a particularidade reside no fato que essa relação coincide com o âmbito da identidade das classes operárias e do nascimento de um movimento operário autônomo. Se for verdade que o apelo à ação direta ressoa vivamente no movimento operário brasileiro, porque não poderíamos acentuar, ao mesmo tempo, o desinteresse dos grupos subalternos pela esfera pública e a participação eleitoral? Esse desinteresse constitui, portanto a contra-partida do interesse pela ação direta e pelo espaço público que ela propõe, que consiste em deixar o povo inventar novas vias de participação e novos poderes.
“Nossa ação deve ser... direta”, escreve Neno Vasco, “cada indivíduo deve querer e fazer e incitar os outros a querer e a fazer sem pedir permissão”... (Vasco, A Nossa Ação. Renovação. Rio de Janeiro, n° 6, Abril de 1922)


Jacy Alves de Seixas


Excerto de Seixas, Jacy Alves de. Memoire et oubli. Anarchisme et Syndicalisme Revolutionaire au Bresil. Paris: E.M SH. 1992, p.175-178. Livre tradução de Thiago Lemos Silva




Da Comemoração à Rememoração: a procura de um outro sentido para o 7 de setembro em Patos de Minas ( o caso do professor Fernando em questão).



No dia 7 de setembro de 2008, a cidade de Patos de Minas realizou, como acontece todos os anos, um desfile militar para comemorar o dia da independência do Brasil. Como era previsto, os militares promoveram um longo e demorado desfile, onde apresentaram sua banda, suas armas, seus carros...Como era também previsto, os civis, compostos por uma miríade de pessoas que iam desde homens até mulheres, passando por crianças e idosos, compareceram, em peso. Ambos, militares e civis, imbuídos do mais profundo senso patriótico se encontraram e se reuniram na Avenida Getúlio Vargas, mais especificamente em frente ao Fórum Municipal, para comemorar durante toda manhã a independência do seu querido e estimado Brasil.
Mas, eis que de repente... surge, ou melhor, irrompe do nada um homem com uma faixa nas mãos, gritando várias palavras, um tanto quanto soltas e desconexas, em um aparente sinal de protesto. Para assegurar a continuidade e o desfecho do desfile, mas, também para acalmar “os bons cidadãos patenses”, que estavam “chocados”, a polícia militar prendeu o manifestante.
No dia seguinte, uma emissora local prestou os devidos esclarecimentos a respeito dos fatos ocorridos. O nome do manifestante era Fernando, tinha por volta de 27 anos, e, trabalhava como professor de sociologia e filosofia em uma escola pública em Patos de Minas.
Curiosos quanto aos motivos que levaram o jovem professor a tomar uma tal atitude, os repórteres da referida emissora local foram a sua procura e lhe perguntaram  qual era o fator que havia originado o seu protesto. O professor Fernando lhes respondeu que o motivo do seu protesto encontrava a sua “razão de ser” nas atuais condições de ensino que existem nas escolas públicas, onde os salários dos professores são baixos e os índices de aproveitamento dos alunos são irrisórios, resultados inequívocos, argumentou ele avançando e concluindo sua explanação, do modelo econômico dependente do país.
Para além do trabalho que deu a polícia e, claro do choque que causou nos “cidadãos de bem” de Patos de Minas, a ação imprevisível e, por isso mesmo incômoda, do professor Fernando colocou aos patenses, porêm não só, uma questão de suma importância: ora, há algum sentido em se comemorar, hoje, a independência do Brasil?
Com efeito, aqueles que se recordam da História sabem que a libertação colonial, onde a nobreza brasileira colocou um fim na dominação política do império português, não conseguiu, de forma alguma, elevar o Brasil a condição de país independente. Muito pelo contrário, o fim da colonização portuguesa apenas fundou o início da dependência econômica brasileira em relação à Inglaterra.
De lá para cá, essa situação não se alterou de forma substancial, a ponto de se dizer que o Brasil é um país independente. Pois o Brasil continua em estado de extrema dependência em relação ao mercado econômico internacional, ontem em relação ao inglês, hoje em relação ao estadunidense.
Diante do imenso quadro que constitui o tema em questão e, que foi apenas gizado nesse pequeno artigo, fica um tanto quanto difícil responder de forma positiva se há algum sentido em comemorar, hoje, a independência do Brasil.
Todavia, quando voltamos o olhar para a atitude tomada pelo professor Fernando e analisamos a natureza do seu protesto, nos deparamos com uma segunda questão, que viria, por assim dizer, como que para substituir e atualizar a primeira: por que o professor Fernando, então, escolheu justamente o 7 de setembro para realizar o seu protesto?
Me arriscaria a dizer, mesmo correndo o risco de incorrer em um grande equívoco, que os fatores que o motivaram a escolher a referida data para realização do seu protesto, está vinculada a procura ( de caráter profundamente político) de um diferente sentido para o 7 de setembro, que não pode ser encontrado na comemoração, mas, sim na rememoração.
Diferentemente da comemoração, que procura apenas recuperar e atualizar a lembrança a respeito do que aconteceu no passado, legitimando, dessa forma, os interesses dos dominantes de hoje, que são herdeiros dos dominantes de ontem, a rememoração possui um sentido radicalmente diferente. Ela objetiva, a despeito de todas as dificuldades, retirar aquilo que ficou recalcado e reprimido nos interstícios da memória, trazendo a tona o que não teve, ainda, direito a lembrança.
Todavia, a rememoração não se reduz a uma atitude nostálgica e romântica, que procura apenas lembrar o que foi esquecido. Muito pelo contrário, ela procura, sobretudo, impelir as pessoas a agir sobre o seu presente. Pois, a fidelidade ao passado não sendo um fim em si busca a transformação do presente.
Portanto, a escolha do professor Fernando não foi nada fortuita. Ela serviu para mostrar aos patenses, e a todos os brasileiros, que ao largo de todos esses anos de independência, o Brasil é, no sentido mais amplo do termo, um país dependente.
Isso nos leva, inequivocamente, a colocar em questão o nosso presente, experimentado e vivenciado até então como vencedor, e a olhar para trás, buscando no passado uma outra referência para o presente e para o futuro do país. Essa outra referência se ancora, evidentemente, nas múltiplas experiências de resistência dos mais diversos grupos sociais, que possuíam, conscientemente ou não, um projeto independente para o Brasil, mesmo aqueles que foram construídos fora dos marcos das idéias de nação e de nacionalismo.
Com base na atitude tomada pelo professor Fernando e, no que sempre disseram os anarquistas, finalizo esse artigo reforçando a idéia de que é na ação direta, individual ou coletiva, que os vários sujeitos envolvidos no processo de transformação social encontram a ferramenta metodológica para materializar os seus objetivos, que, podem ser difíceis, mas, nunca impossíveis de se alcançar.


Thiago Lemos Silva

Socialismo: um pensamento único?

Aqui colocamos os links de dois vídeos de Nildo Avelino, Secretário do Centro de Cultura Social de São Paulo, onde o mesmo disserta a respeito do pensamento único dentro do movimento socialista. Mostra, ainda, como que o ranço do autoritarismo é latente no pensamento marxista, desde Marx, e para tanto remonta até os debates que este último travou com o anarquista Proudhon.
Em um dos trechos da apresentação ele lê um segmento de carta de Proudhon à Marx. Ali já é possível captar as críticas futuras de todos os anarquistas ao marxismo:"Aplaudo, de todo o coração, sua idéia de trazer todas as opiniões à luz. Iniciemos sim uma boa e leal polêmica; tentemos dar ao mundo um exemplo de tolerância sábia e perspicaz, mas não nos transformemos, pelo simples fato de que somos os líderes de um movimento, em líderes de uma nova forma de intolerância; não podemos ser apóstolos de uma nova religião, mesmo que seja a religião da lógica e da razão".

Os vídeos em questão foram originalmente apresentados por Nildo Avelino no Seminário “Doutrina do Pensamento Único”, entre os dias 17 e 18 de outubro de 2008 em Salvador na Bahia,e, posteriormente disponibilizados na internet através do Youtube.
Quem tiver se interessado, segue o link:
http://www.youtube.com/watch?v=VuRVAm-ntAw
http://www.youtube.com/watch?v=r7Yzp-4N9FE




Declaração anarco-comunista sobre a crise econômica mundial e a reunião do G20

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1. A crise atual é típica das crises que aparecem regularmente na economia capitalista. A “superprodução”, a especulação e o subseqüente colapso são inerentes ao sistema. (Conforme Alexander Berkman e outros apontaram, o que os economistas capitalistas chamam de superprodução é, na verdade, um problema de baixo consumo: o capitalismo impede que um grande número de pessoas satisfaçam suas necessidades e, por isso, mina seus próprios mercados.)
2. Qualquer solução para a crise dada pelos capitalistas e governos continuará a ser uma solução dentro de capitalismo. Não será uma solução para as classes populares. Na verdade, como em todas as crises, os trabalhadores e os pobres estão pagando – enquanto o capital financeiro está sendo afiançado com enormes somas de dinheiro. É provável que isso continue. Nenhuma transformação dentro do capitalismo pode resolver os problemas das classes populares; menos ainda, tal solução pode ser esperada de individualidades do mundo da política, como Barack Obama. O que esses políticos podem fazer é ajudar a encontrar uma saída para os capitalistas, e talvez, jogar algumas migalhas para a classe trabalhadora.
3. Os auxílios econômicos aos bancos mostram não apenas quais interesses são defendidos pelos Estados, mas também o tão irreal compromisso capitalista com o livre mercado. Ao longo da história, os capitalistas vêm defendendo o mercado quando isso lhes convém, e a regulação estatal e os subsídios quando precisam deles. O capitalismo nunca poderia ter existido sem o apoio do Estado.
4. Nos E.U.A, no Reino Unido e no resto do mundo, os auxílios tomaram a forma de nacionalização das instituições financeiras com problemas – com o apoio total do capital. Isto mostra que os capitalistas não têm qualquer problema fundamental com a propriedade estatal, e que a nacionalização não tem nada a ver com o socialismo. Ela também pode ser um método de oprimir a classe trabalhadora. Nós mesmos, e não o Estado, precisamos assumir o controle da economia.
5. Devido à globalização do capital sob o neoliberalismo, a classe dominante reconhece que a solução deve ser global. O G20 está reunido desde 15 de novembro para discutir a crise. Isto é muito significativo. Os governantes dos E.U.A, da Europa e do Japão compreenderam que eles não podem lidar com a crise sozinhos; precisam, não só de um ao outro, mas de outras potências, notavelmente a China (que está emergindo como uma potencia industrial de primeiro nível, e esta à caminho de se tornar a terceira maior economia mundial). Índia, Brasil e outras economias “emergentes” terão lugares à mesa. Isto indica um reconhecimento – que está em discussão há alguns anos – que o G8, sozinho, não é mais o fator decisivo na economia mundial. Isto marca uma mudança no funcionamento do sistema econômico global.
6. Não temos nenhuma esperança na inclusão de novas potências capitalistas. Governantes da China podem se declarar socialistas; outros, como Lula do Brasil e Motlanthe da África do Sul, podem apresentar-se em momentos como defensores dos pobres. Mas, na verdade, todos são defensores do capitalismo, exploradores e opressores do povo de seus próprios países, e, cada vez mais, imperialistas ou sub-imperialistas exploradores do povo de outros países.
7. Se da crise queremos que saia algo que não seja a derrota completa das classes populares em todo o mundo, mais pobreza, exploração e guerra, as classes populares devem se mobilizar. Temos de exigir auxílios econômicos, não para os capitalistas, mas para nós. Nós anarco-comunistas vamos lutar por aqueles que conseguiram um lar por meio de créditos, sendo auxiliados para poderem manter seus lares. Vamos continuar a apoiar e a participar da luta por empregos com melhores salários e menos horas, habitação, serviços básicos, serviços de saúde, assistência social e educação, proteção do meio ambiente. Lutamos por um fim às guerras imperialistas e à repressão da nossa classe e suas lutas.
8. Apresentamos essas demandas em resposta à reunião do G20, e continuaremos a apresentá-las no futuro. Através de tais demandas, e através da ação direta, nós iremos trabalhar no sentido de construir um movimento global das classes populares que podem colocar um fim ao capitalismo, ao Estado e às crises que eles geram.
Assinado:
Federação Anarquista do Rio de Janeiro (Brasil)Alternative Libertaire (França)Federazione dei Comunisti Anarchici (Italia)Melbourne Anarchist Communist Group (Australia)Zabalaza Anarchist Communist Front (Africa do Sul)Unión Socialista Libertaria (Perú)Union Communiste Libertaire (Québec, Canadá)Liberty & Solidarity (Reino Unido)Asociación Obrera de Canarias/Ēššer Ămăhlan n Təkanaren (África)Anarchistische Föderation Berlin (Alemanha).

Fonte: http://www.farj.org/

Um comentário:

Aquario da Beta disse...

Fico sem chão quando vejo uma notícia dessas como a do prof. Fernando , não foi um caso que teve grande atenção pois confesso que só fiquei sabendo pelo blog . Mas são pequenas ações que nos proporcionam momentos de reflexão , que nos mostram a nossa capacidade de fazer algo para mudar . Com certeza o que eu li aqui plantou uma sementinha de mudança em minha mente, e sei que essa nova visão propiciada pelo texto vai me amadurecer novas idéias .

BEIJO NANDA !