sexta-feira, 27 de agosto de 2010

EIDOS INFO-ZINE # 25 ( ESPECIAL DE 10 ANOS)




EDITORIAL


“No princípio era o grito. Nós gritamos” John Holloway.


 Em meados de julho de 2000, Breno Geovane me convidou para confeccionarmos um informativo que abordasse assuntos que, em sua visão, não eram apresentados e, muito menos, discutidos no espaço editorial da(s) folha(s) que existia(m) e circulava(m) em Patos de Minas. Acreditávamos, talvez de uma maneira um tanto romântica é verdade, que poderíamos (e deveríamos) utilizar a nossa voz e pena para dizer e escrever a respeito daquilo que tanto nos incomodava na cidadela dos “Porto”, “Nascimento” e companhia (i)limitada. Foi então que o Eidos info-zine nasceu. Nasceu, portanto, de um grito, como diz John Holloway na epígrafe deste editorial. Um grito contra os “conluios políticos” existentes entre as famílias que se revezavam no poder; as “mazelas sociais” de uma estrutura econômica excludente e a “obrigatoriedade imposta pelos exércitos” para que os jovens se alistassem no serviço militar.
Em 2003, o volume de nosso grito diminui, pois Breno Geovane se viu obrigado a deixar o Eidos por motivos de estudos. Apenas em 2004, ele voltou a aumentar, uma vez que Daniel Pereira, Clarrise Russo e Thiago de Oliveira ouviram o meu grito e, assim, começamos a gritar juntos. Começamos a gritar juntos contra a mediocridade de um sistema educacional que forma “leitores analfabetos”; “o machismo dos homens” em relação às mulheres (e das mulheres em relação às mulheres também) e  “o pão e circo” oferecido pela indústria cultural capitalista. Em 2005, Ismael Carrilho e Fernanda Caroline se juntaram a nós e começamos a gritar contra o “encarceramento dos jovens rebeldes” e as tentativas de “disciplinarização dos trabalhadores” proposto pelo modelo toyotista de produção.
Em suma, gritamos contra tudo aquilo que sempre julgamos opressivo  em Patos, no Brasil e na Terra. Em 2008, quando pensei que o nosso grito já havia se calado de vez, já que a maioria dos companheiros não conseguia conciliar, mais, a sua atividade estudantil ou profissional com o Eidos, Fernanda Caroline me sugeriu, porque não voltamos a publicar o Eidos e começamos a gritar na Internet? Daí em diante, vocês já sabem o que aconteceu.
Lendo este editorial alguém pode exclamar: que ridículo! O grito que vocês exaltam é ridículo em um mundo marcado pelas experiências totalitárias (de direita e esquerda), dado o horror que elas encerram.
Assim como John Holloway, temos consciência disso. Pois, o nosso grito também sempre foi (e continua sendo) um grito de horror. Horror diante da constatação de que a humanidade pôde (e ainda pode) criar algo tão monstruoso quanto o nazismo e o estalinismo, o que nos impede de ter um otimismo ingênuo. Mas, se reduzimos o nosso grito a um grito de horror, então nunca iremos conseguir transcender a “amargura da história” e seremos, inexoravelmente, tragados pela depressão política. Por esse motivo, o nosso grito é, simultaneamente, de horror e de esperança, trocando em miúdos: é precisamente por causa do horror que, ainda, temos esperança.
Boa leitura e gritemos, juntos!


Thiago Lemos Silva


ENSAIOS


Pobre indivíduo contemporâneo...


Os tempos contemporâneos, é dito, marcam-se pelo individualismo. A primazia do eu colocar-se-ia com força em uma sociedade onde o nós perdeu grande parte de seu valor. É preciso perguntar, porém: de qual individualismo falamos? Que eu é este a que nos referimos ao o elevarmos de forma tão segura? Trata-se, por exemplo, da individualidade autônoma e livre de Stirner? Ou ainda do eu forte e criativo de Nietzsche?
 Não há grandes controvérsias na consideração de que, de uma forma ou de outra, o outro tem participação na formação do eu, seja na função de um “igual”, com o qual se identifica positivamente, ou de um “diferente”, com o qual se contrasta. O que acontece, entretanto, se o outro só existe como algo indefinido e fluído? Se as referências sociais externas estão em um movimento tão frenético que não permitem uma formação clara da individualidade? Como o indivíduo contemporâneo – considerando que vivemos tal realidade hoje - constrói seu próprio eu? A partir de si mesmo?
Tem-se, entre as pessoas, a intensificação de sentimentos de vazio e insegurança, angústia e incerteza sobre o certo, o errado e o futuro; ampliam-se cada vez mais as sensações de mal-estares difusos e indefinidos, embora persistentes e incômodos. Às vezes busca-se a estabilidade, a segurança no conhecido e familiar, mas é-se impelido, empurrado, pelo movimento constante.
Não devemos ficar “parados” ou não acompanharíamos os novos costumes. Há o risco constante de perder-se o emprego. Não se manter no “ritmo” da sociedade leva à incapacidade de lidar com os filhos e netos da mais recente “geração perdida”. A tecnologia o devorará, os companheiros de tribos e turmas não mais o reconhecerão... ...você mesmo não se reconhecerá e então se perceberá à deriva, flutuando em meios aos vagalhões etéreos de uma imensidão de vazio; vazio de referências, vazio de valores que compõem seu eu, que não tardará a se fragmentar na total ausência de significados. Acabará em nada.
Eis o niilismo contemporâneo. Vemos então o “poderoso” indivíduo contemporâneo que, na realidade, é arremessado de um lado para outro nestas ondas vazias, como os ventos de Netuno que se movem a mais de mil quilômetros por hora, mas cujas partículas são tão esparsas que moveriam pouco mais que um cata-vento. Violento movimento de imobilidade.
O tempo urge, sempre no encalço do indivíduo, pronto a devorá-lo como o velho Cronos a seus filhos, destroçando sua frágil individualidade que se apóia apenas em sucessões breves de referenciais sociais fluídos e que logo não estarão mais lá. A duração temporal, o fio que se desenrola continuamente desde o passado até o futuro a que se referia Henri Bergson, é constantemente rompido.
E o que esperar de valores e atitudes éticas deste indivíduo fragilizado, em risco constante de niilificar-se? O que esperar de alguém cujas tremulas pernas mal o sustentam: que ele consiga oferecer seu braço para ajudar um outro a caminhar?...
“Ei, espere um pouco. Você questiona o significado e a existência de ética em uma época em que as preocupações com o meio ambiente ampliam-se mais e mais. Quando se multiplicam campanhas contra o preconceito e pela diversidade cultural e quando ações de filantropia pululam a todo canto!” Sim, não podemos negar tais fatos. Apesar disso, a fluidez também atingiu a esfera das “boas ações”. Luta-se pelo – ou contra - o aborto em dado momento, nada-se junto aos golfinhos em prol da preservação da vida marinha em outro e, mais tarde, caminha-se na marcha pelos direitos humanos... ...se tudo isso não ocorrer “justamente” (que azar!) na hora que tenho que buscar meu carro na oficina...
Tempos de “ética indolor”, como sugere Gilles Lipovetsky. Se em outras épocas corria-se o risco de ser baleado em um piquete pela jornada de oito horas, ver os filhos morrerem de inanição pelo corte de pagamento durante uma greve, perecer no exílio pelas perseguições políticas, hoje temos professores que se recusam a um dia de paralisação por melhores condições de trabalho ou teriam (ai de mim!) que realizar a reposição das horas-aula em um sábado! Eis um motivo que comoveria os Mártires de Chicago!
Mas não comecemos com as lamentações. Não condenemos de forma tão simplista o pobre indivíduo contemporâneo como se tudo isso fosse uma questão de escolha puramente racional entre alternativas de ação claramente delineadas para todos. Se tudo parece ruir a seu redor, se o futuro parece perturbadoramente incerto, como esperar que o indivíduo sacrifique o que lhe parece o bem mais precioso da atualidade: o tempo? Ele não o fará. Não sacrificará seu tempo para outro como sequer sacrifica-o para si mesmo. Tempo não é dinheiro: é mais que dinheiro. Significa o palco da formação de si mesmo.
Há uma grande fascinação pela sabedoria oriental. O budismo e o hinduismo atraem milhares de ocidentais atualmente... “Hã? O quê?... O Dalai Lama dedica-se aos estudos das sutras desde os quatro anos de idade? É... bem... é que eu gostaria apenas de umas “dicas” da sabedoria budista para aplicar em minha vida, entende? Não tenho tempo para estudar filosofias... nem quero virar monge.” “Doze horas por dia durante vinte anos era a fórmula de Giardini para dominar o violino? Espere aí, eu estou só experimentando o violão. Se eu não gostar vou para a bateria, ou o oboé...”
Criar uma continuidade temporal tão grande na constituição do eu é algo considerado impensável na contemporaneidade. Uma prática que requeira sacrifícios, sofrimentos e dedicação prolongados pode ser louvada como algo “sobre-humano” (para os padrões “humanos” atuais) ou taxada de “fanatismo” (para os padrões de “moderação” atuais). Lembrando: a individualidade hoje deve renovar-se com freqüência ou simplesmente perecerá. Será pisoteada e ultrapassada pelas mais recentes tecnologias, referenciais, grupos de convívio, exigências empresariais, ditames da moda...
Os tempos contemporâneos, é dito, marcam-se pelo individualismo. A primazia do eu colocar-se-ia com força em uma sociedade onde o nós perdeu grande parte de seu valor. De qual individualismo falamos? Trata-se da individualidade autônoma e livre de Stirner? Ou ainda do eu forte e criativo de Nietzsche?
Nenhuma destas. O indivíduo contemporâneo é frágil, temeroso, niilista... Reafirma a altos brados seu próprio vazio e espera ouvir, ao menos, algum eco de seu interior; espera que uma resposta surja de si mesmo para guiá-lo na solidão vã de nossos tempos.


 Fabrício Monteiro é doutorando em História pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia); professor de História na rede pública municipal de Uberlândia e autor do livro “O niilismo social: anarquistas e terroristas no século XIX”, pela Editora Annablume.








ARTIGOS


Anarquismo e seus paradigmas éticos-estéticos*


“É tarefa do filósofo anarquista, não provar a iminência de uma idade do ouro, mas sim justificar o valor da crença em sua possibilidade”. Herbert Read.


Ainda neste encontro tive a oportunidade de discutir minha pesquisa realizada no âmbito do Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC/SP e do Centro de Cultura Social de São Paulo, que consiste na compreensão de uma estética da existência especifica a militantes libertários da capital de SP no período de 1940-1970. Minha fala aqui pretende ser uma continuação deste tema na medida em que vou enfatizar a importância de experiências de centros culturais e núcleos filo-dramáticos de orientação libertária; experiências essas que foram o foco na atuação daqueles militantes e continuam sendo dentro da atuação do Centro de Cultura Social de São Paulo.
Félix Guattari (1992) chamou a atenção para a importância dos fatores subjetivos ao longo da história. Acontecimentos como a revolta dos estudantes chineses, o colapso da ex-URSS e a queda do muro de Berlim, ultrapassaram o âmbito da simples reivindicação ideológica: esses acontecimentos foram acompanhados de um estilo de vida, de uma concepção das relações sociais, de uma ética e estética coletivas. Observa igualmente “que a história contemporânea está cada vez mais dominada pelo aumento de reivindicações de singularidade subjetiva"(Ibid., p.13) e propõe uma concepção que possa dar conta das amarrações territorializadas idiossincráticas – ou Territórios existenciais. Esses territórios seriam instâncias locais de produção sui generis de subjetividade coletiva a partir da criação de uma espécie de paradigma estético, na medida em que essas instâncias tornam possível a manifestação de práticas coletivas como território existencial auto-referencial( Ibid., p.19). Nessa perspectiva, os diversos grupos libertários possuem cada qual seu próprio sistema de modelização da subjetividade, ou seja, um certo sistema de valores a partir do qual os indivíduos se posicionam em relação aos seus desejos e afetos na gestão de suas pulsões.
Obviamente, para nós importa a elevação de subjetividades que engendrem rupturas moleculares com as maneiras convencionais de visão de mundo, capazes de provocar micro-desestabilizações na ordem social de coisas. A pós-modernidade é caracterizada por uma dissolução das micro solidariedades, por uma degenerescência do tecido social: a tela do vídeo e o fone-de-ouvido dos walkmans apontam um estilo de vida da sociedade capitalista contemporânea que inverte solidariedade em caridade e liberdade em segurança. É preciso, pois, reinventar modos de vida compatíveis com um equilíbrio social/ecológico e penso que neste sentido o anarquismo forneça uma concepção de relações sociais alternativa.
Todavia, penso igualmente que uma re-fundação do “político” no anarquismo passe necessariamente por sua dimensão estética: não é possível pensar diferentemente o mundo sem uma mudança das mentalidades, sem a promoção de uma nova arte de viver em sociedade capaz de provocar múltiplas revoluções moleculares.
Como recompor universos de subjetividades ou recompor subjetividades libertárias? Penso que não se trata de produzir representações coletivas universalistas, mas sim de uma criação heterogênea e poética – do grego poiein: criar, inventar, gerar – de formas de atuação e vivência libertárias. A função poética, neste sentido, possui qualidades mais eficazes de catalização de universos existenciais, do que as chamadas ciências humanas. Como mostrou Michel de Certau (1999), existem procedimentos populares minúsculos e cotidianos que jogam com os mecanismos das disciplinas apenas para alterâ-los, que operações microbianas se proliferam no seio das estruturas tecnocráticas alterando seu funcionamento e que uma criatividade dispersa, tática e bricoladora, dos grupos e indivíduos se compõe numa rede de anti-disciplina.
Foucault, por sua vez, chama de “artes da existência”: “(...) práticas refletidas e voluntárias através das quais os homens não somente se fixam regras de conduta, como também procuram se transformar, modificar-se em seu ser singular e fazer de sua vida uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e responda a certos critérios de estilo” (FOUCAULT1984, p. 15). Essas práticas constituiriam uma “moral” cuja importância recai nas formas das relações que o indivíduo mantêm consigo, nos procedimentos pelas quais essas práticas são elaboradas e nos exercícios pelos quais os indivíduos permitem transformar seu próprio modo de ser; por isso Foucault diz que seria uma moral orientada para a ética, ao contrário da moral cujo valor recai sobre códigos morais ligados há instâncias de autoridade que os fazem valer pela imposição sob pena de incorrer num castigo; neste campo da moral, a subjetivação se dá de forma jurídica... .
Então, é possível falar de uma estética da existência libertária? Sim, se com isso entendemos “uma maneira de viver cujo valor moral não está em conformidade a um código de comportamento nem a um trabalho de purificação, mas depende de certas formas, ou melhor, certos princípios formais gerais”( Ibid., p.82). Não sendo o modo de subjetivação definido por leis universais que determinem os atos proibidos e permitidos, eles não apontam para uma renúncia de si, mas para um “saber fazer”, uma estilização da atitude e uma estética da existência.
Uma tal importância aos modos de subjetivação não são um privilégio de nossa época; a história mostra como capitalismo através de instituições de autoridade prescreveu pela violência regras de condutas cuja assimilação pelos dominados é atributo indispensável da dominação.
Foi o que levou Bourdieu alterar a célebre formulação de Max Weber sob a qual o Estado contemporâneo é definido como “uma comunidade humana que reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física”( WEBER, 1993, p.56), Bourdieu (1997), dirá que a violência exercida é física e simbólica de maneira que a atuação do Estado se dá no nível da objetividade sob a forma de estruturas de mecanismos específicos, quanto no nível da subjetividade sob a forma de estruturas mentais. Por que o Estado tem como principal característica produzir e impor categorias de pensamento que usamos para pensar tudo, podemos falar de uma razão ou pensamento de Estado cujo instrumento privilegiado é a escola. O inculcamento dos valores de Estado através da concentração dos instrumentos e instituições criadas para esse inculcamento, transformou os modos de subjetivação aos quais Foucault demonstrou existirem difusamente na antigüidade, em subjetivação oficial; ou seja, uma subjetividade que era apoiada apenas no reconhecimento coletivo tornou-se uma subjetivação objetivada em códigos burocratizados e garantidos pelo Estado. Desta forma, o Estado passa a ter não apenas o monopólio dos corpos (violência física), mas, e, sobretudo, o monopólio das mentes (violência simbólica) e este último constitui o que poderíamos chamar razão principal da dominação, pois é através dele – o monopólio das mentes – que os Estados produzem seus exércitos, quero dizer, produzem corpos úteis e dóceis.
Essa violência simbólica encontra sua eficácia na mobilização pelo Estado de reconhecimentos oficiais acumulados nos diversos níveis das relações sociais; da mesma maneira que o feiticeiro mobiliza toda uma crença acumulada no funcionamento da feitiçaria, o Estado, produzindo, impondo e acumulando subjetividades pelos instrumentos de inculcação, garante a todos os seus atos de autoridade uma legitimidade, ao mesmo tempo, que cria pessoas autorizadas na verbalização e ritualização destes atos. Essa capacidade de instituir por uma magia oficial uma prescrição pública nomeada por agentes autorizados (escolas, institutos, universidades, etc.) é o que constitui o seu poder de estatização dos espíritos: através dele o Estado formula uma definição social legítima e define o que está autorizado a ser os diversos agentes sociais. Ao fazermos parte do pensamento de Estado tornamo-nos cúmplices do Estado, tornamo-nos homens estatizados, homens regulamentados, servidores do Estado. Esse processo de subjetivação jurídica, como todo processo de subjetivação, se faz acompanhado de “práticas de si”, de profundas disposições corporais que podem ser identificadas na obediência conseguida pelos Estados aos chamados à ordem: uma submissão verdadeiramente introjetada que leva os homens a anularem seus próprios desejos e paixões.
E o anarquismo, ficou indiferente a isto? Creio que não e penso que, depois do capitalismo, o anarquismo tenha sido a corrente de idéias que mais deu importância aos processos educacionais de uma maneira geral: o primeiro, evidentemente para escravidão e o segundo para alçar níveis de liberdades individuais. De fato, encontramos já nas memórias da revolução de 1848 de Proudhon os esboços de uma idéia dos usos dessa magia oficial pelo Estado. Dirá Proudhon que a “Autoridade, assim como a divindade, não é matéria de saber, é (...) matéria de fé”, e pergunta-se “Por que cremos no governo? De onde procede, na sociedade humana, essa idéia de autoridade, de poder; essa ficção de uma pessoa superior chamada Estado?” (PROUDHON,1947, p.15); é feita uma analogia onde o impulso que leva crer em deus é também o mesmo mecanismo que sustenta os governos: a fé na incapacidade individual e na superioridade do Estado. Por outro lado, a aposta anarquista na pedagogia e nas diversas práticas culturais foi alta e ousaria dizer única. Escolas Modernas, centros de cultura, grupos de estudos, universidades populares, ateneus, enfim, sempre onde foi identificado uma atividade militante podemos encontrar uma ou mais práticas pedagógicas e culturais. Isso é evidente quando ressalta as inúmeras experiências de teatro operário e piqueniques, recitais de poesia, grupos musicais... inúmeras práticas que nos permitem falar de uma arte da existência anarquista no início deste século.
Poderíamos vincular as razões destas práticas a maneira pela qual os militantes propõem realizar seu projeto político-social: anulando as possibilidades de quaisquer lutas e conquistas que não se façam pela ação direta dos indivíduos e fazendo confundir-se nestas lutas meios e fins para que o amálgama marxista seja descartado e o sentido de utopia ultrapasse os limites do sonho, essas artes da existência se tornam a consolidação das concepções projetadas e criam espaços sociais de contra-poderes, redes antí-disciplinares e, o mais importante, teias de sociabilidade por onde o projeto político se expande e ganha campo.
Porém, os discursos acompanhados por essas práticas também lhes imprimem um forte caráter tático-estratégico que nos leva a pensar que os anarquistas, de alguma maneira, travavam com o Estado uma disputa pelos espíritos, no sentido de denunciar outros discursos e práticas estatais ao mesmo tempo em que propõem aos grupos sociais modos de vivências.
Nesta disputa pelos espíritos, práticas de centros de cultura e grupos filo-dramáticos foram privilegiadas pelos anarquistas. Já no II Congresso Estadual Operário de São Paulo, em 1908, é aprovada a resolução que “aconselha aos sindicatos a fundação de centros dramáticos sociais e de sessões onde se entretenham os sócios em palestras amigáveis” (VARGAS, 1980, p.13); Edgar Rodrigues conta como a representação da peça anticlerical Electra em Sábado de Aleluia escandalizou a sociedade paulista no ano de 1901, assim como no ano de 1902 o jornal O Amigo do Povo noticia a representação – interrompida pela polícia - da peça Primo Maggio de Pietro Gori (RODRIGUES, 1992, p.110-111); esses primeiros registros de atividades dramaturgas indicam todo um processo anterior de associação e autoconhecimento do movimento. Rodrigues registra uma intensa atividade dramaturga na cidade de São Paulo, com finalidades diversas: de solidariedade, propaganda, comemoração ou simples entretenimento. As atividades tinham geralmente o seguinte formato: 1-Concerto Musical de hinos ou canções operárias e revolucionárias; 2-Conferência de algum tema relevante onde os oradores eram personalidades como Oresti Ristori, José Oiticica, Edgar Leuenroth, Florentino de Carvalho, Fábio Luz, etc.; 3-Representação teatral, e; 4-Baile. “Era hábito comemorar o 1º de Maio, 14 de Julho (tomada da Bastilha) e o 13 de Outubro (fuzilamento de Ferrer) com representação de peças sociais” (Ibid, p.112).
Todavia, paralelo a estas práticas vemos a produção de discursos que vão da orientação das práticas à oposição de outras tidas como autoritárias. Um discurso elaborado que versará sobre a importância social da arte e do artista será encontrado nos escritos do inglês Herbert Read e em artigos nos jornais operários brasileiros do início deste século. Em Anarquia e Ordem Read dedicará um capítulo inteiro com o título Poesia e Anarquismo onde, na qualidade de poeta e anarquista, o autor esboçará concepções revolucionárias da arte; segundo ele “Para criar é preciso destruir, e o agente da destruição na sociedade é o poeta. Eu creio que o poeta é necessariamente anarquista, e que deve opor-se a todas as concepções organizadas de Estado, não somente as que herdamos do passado, mas também aquelas impostas à humanidade em nome do futuro. Neste sentido não faço distinção entre fascismo e marxismo” (READ, 1959, p. 60). A arte, para o homem civilizado, converteu-se num dos poucos meios de liberação das repressões e neste sentido crivou uma forte vinculação com a liberdade individual onde o ato de criar é único, singular e livre. Em um artigo datado de 16/07/1948 no jornal A Plebe, Souza Passos exprime uma concepção de arte muito próxima de Read e reveladora da importância atribuída à arte por esses militantes. Começa criticando aqueles militantes que retém do anarquismo apenas seu aspecto de crítica social em detrimento de sua finalidade estética e grifa que “a arte, essencialmente anárquica, por que é, sem dúvida, a expressão mais livre do individualismo e que tem uma função criadora, quase nunca esta ligada aos motivos de luta e combate (...) Isto tem feito com que (...) não se conceba o anarquismo senão como um ideal de famintos, apenas como instrumento de reivindicações proletárias, encerrado num problema econômico e moral das massas trabalhadoras. [E sendo a arte livre criação] (...) imagine-se até onde chegaria a força criadora do indivíduo num ambiente em que ele não sentisse a necessidade de coibir-se a si mesmo! (...) E o que pretende o anarquismo é justamente dar ao indivíduo a posse de si mesmo, integrá-lo na consciência plena de todas as suas faculdades criadoras. [Termina o artigo proclamando que] (...) o anarquismo é a mais elevada expressão artística da humanidade”.
A arte foi logo percebida como um veículo de projeção da sociedade ideal e como função natural e comum a todos os indivíduos vinculada a necessidades expressivas. O teatro engajado, ou Teatro Social como fora chamado, ao mesmo tempo que promovia o agrupamento englobava a aprendizagem, o lazer, a propaganda e as aspirações artísticas dos militantes. Um tal mecanismo não poderia deixar de ser objeto de reflexão; através das práticas teatrais, conseguia novos adeptos ao mesmo tempo que transmitia com clareza e eficácia uma mensagem. Os múltiplos significados coletivos que sustentam as peças fazem do espetáculo um reconhecimento coletivo de personagens e situações e motivam as reações; o espetáculo passa a ser uma espécie de porta-voz de sentimentos coletivos e portador de uma moral vivenciada nos exemplos representados no palco. Daí a defesa de um Teatro Social e a crítica ao chamado teatro católico ou burguês: “O teatro assim chamado dos “bons costumes”, devidamente autorizado pela polícia e pelo clero” (1º/09/1934 n.º 70 A Plebe).
Já ao teatro do povo compete:


“Desenvolver um alta e serena filosofia social de justiça, de liberdade, de igualdade e, paralelamente fazer uma acerba crítica do mundo atual eis o que há a esperar do teatro do povo, ativando pelo imediato efeito de vivissecção dramática o fogo instintivo da insubmissão, a curiosidade civil e redentora do Desconhecido. Não é fazer do escritor um retórico moralista, pois que ele não pode viver a sua arte, indiferente ao seu meio e aos seus contemporâneos” (Novo Rumo, 19/09/1906).


“O teatro é elemento da vida social de um povo, influencia na razão de ser das sociedades e, concomitantemente fotografa o estado adiantado da sua civilização. Como o professor comunica aos discípulos as invenções dos sábios, o ator transmite às camadas populares a vida das sociedades, o jogo das paixões, as determinantes psicológicas dos caracteres. Como o professor, ele educa igualmente, notando-se que mais influência direta exerce no povo porque mais cala no íntimo das multidões” (A Lanterna, 28/02/1916).




Penso que essas preocupações que o anarquismo teve no passado nos mostram que a construção de uma estética da existência era viva e sentida; fazer sua história e exame pode nos apontar novos caminhos e desvios.


Nildo Avelino é doutor em Ciências Políticas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); membro do Centro de Cultura Social de São Paulo (CCS-SP) e autor do livro  “Antologia de existências: ética e estética anarquistas” pela Achiamé.


Notas:
* Texto apresentado na Mesa Redonda “Formas Libertárias de Intervenção Social para o século XXI” do “Encontro Internacional de Cultura Libertária”, promovido pelo NAT/UFSC entre os dias 4 e 7 de setembro de 2000.


Referências:


BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas – sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1997


CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: vol.1 – Artes de Fazer. 4ª ed., Petrópolis: Vozes, 1999.


GUATTARI, Felix. Caosmose – um novo paradigma estético. São Paulo: Ed. 34, 1992


 FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 2 – o uso dos prazeres. 7ª ed., Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1984.


PROUDHON, Pierre Joseph. Las confesiones de un revolucionario para servir a la historia de la revolucion de febrero de 1848. Buenos Aires: Editorial Americalee, 1947


READ,Herbert. Anarquia y ordem – Ensayos sobre Política. Buenos Aires: Editorial


RODRIGUES,Edgar . O anarquismo na escola, no teatro, na poesia. Rio de Janeiro: Ed. Achiamé, 1992


VARGAS,Maria Thereza . Teatro operário na cidade de São Paulo. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, Departamento de Informação e Documentação Artística, Centro de Pesquisa de Arte Brasileira, 1980.


WEBER,Max . Ciência e Política – duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1993




Malatesta: crítico de Kropotkin*




 As dificuldades encontradas pelos militantes anarquistas em organizar e articular o movimento nos últimos decênios do século XIX eram imensas, os motivos possuíam uma natureza diversa, e se traduziam em problemas econômicos, políticos e, principalmente, ideológicos. Para além das dificuldades econômicas e políticas, que na época não eram poucas, ainda mais se levarmos em consideração que os libertários estão, ainda, sofrendo com a forte perseguição e repressão da burguesia em virtude dos eventos vinculados a Comuna de Paris em 1871, existiam também os problemas ideológicos. Segundo Margareth Rago, a desorganização do movimento era, naquele momento, resultado também “do impacto das concepções libertárias antiorganizativas, estimuladas, por sua vez pelas idéias deterministas de Kropotkin”. (RAGO, 2001, p.30).      
Os anarquistas, que de acordo com os dizeres de Max Netlau (2003), se filiam à corrente realista ou refletida do anarco-comunismo, dentre os quais o maior professador é Errico Malatesta, irão construir, nesse contexto, as suas críticas aos comunistas libertários adeptos da corrente harmonista ou espontaneísta, que tem em Kropotkin seu principal expoente.
Na direção de tais preocupações, o objetivo do presente é artigo apresentar algumas considerações a respeito do debate entre Malatesta e Kropotkin, destacando as críticas que o libertário italiano dirigiu ao libertário russo, fundamentais para se entender como que, na virada do século XIX para o século XX, elas constituíram um novo caminho para o movimento anarquista a nível internacional.
 Percebendo que o anarquismo não se restringia apenas à mera concepção de uma sociedade livre, Kropotkin, almejando conferir uma base científica [1] ao pensamento libertário, procurava mostrar que ele é parte de toda uma filosofia social, a qual deveria ser desenvolvida, utilizando-se não o método metafísico e dialético, mas sim o método empregado pelas ciências naturais: o método indutivo-dedutivo. De acordo com Christina da Silva Roquette Lopreato, por reconhecer tal método, “como o único método científico de análise, (Kropotkin) o empregava para estudar tanto a natureza animal como para analisar o homem e a sociedade” (LOPREATO, 2002, p.561). A citação abaixo subscrita pode confirmar isso:


“Para nós, a natureza é um todo do qual o homem e a sociedade fazem parte... Nosso método é o das ciências naturais exatas... de forma a englobar toda a natureza e todos os efeitos de ordem social em um a mesma unidade de idéias sem, no entanto, cair nos mesmos excessos de Augusto Comte e de Herbert Spencer em suas tentativas do mesmo gênero.... A anarquia ... possui sua base filosófica na compreensão materialista , mecânica  da Natureza, na qual o homem, sua vida psíquica e sua vida societária são compreendidos como fatos da história natural ” (KROPOTKIN apud SEIXAS, 1995, p.142-143)


Analisando as condições de vida e/ou sobrevivência entre os animais, Kropotkin observa a luta que as espécies devem travar contra a natureza desapiedada e inclemente. Entretanto, notifica não ter encontrado:


“Nenhum sinal de luta cruel pelos meios de subsistência, entre os animais pertencentes a uma mesma espécie, fenômeno que a maioria dos darwinistas considera o traço dominante e característico da luta pela vida e a principal força ativa do desenvolvimento gradual no mundo dos animais”. (KROPOTKIN apud LUIZETO, 1987, p.35).


Muito pelo contrário, em suas observações diretas Kropotkin percebeu que a garantia da sobrevivência e evolução das espécies animais se encontra na prática da ajuda mútua. Posteriormente, ao estudar as sociedades humanas não pôde acatar, de maneira aceite e concorde, a máxima, corrente entre muitos pensadores, em especial os burgueses, que depreendia ser a luta entre as pessoas uma lei natural.
Mediante os estudos que promoveu, chegou a conclusões totalmente diferentes ou adversas: sempre que houve algum desenvolvimento progressivo nas sociedades humanas, ao longo da História, é porque as lutas cessaram ao máximo possível e em seu lugar atuaram os princípios da ajuda mútua. Assim, Kropotkin conclui que, “na ampla difusão desses princípios estava a melhor garantia de uma evolução mais elevada do gênero humano”. (KROPOTKIN apud LUIZETO, 1987, p36).
 Segundo Kropotkin, tal qual na natureza, na sociedade existem leis genéricas e universais que determinam o caminho que os homens devem percorrer. A revolução anarquista não contraria essas leis, mas, se insere dentro delas, entendendo o processo revolucionário como uma exigência natural e insubstituível, ditada por uma espécie de necessidade histórica. Argüido da crença otimista de que a revolução libertária estaria fadada a se realizar, o geógrafo russo cria que o papel dos intelectuais anarquistas nesse período pré-revolucionário se reduziria à propaganda política, levada por meio de jornais e outros veículos alternativos de comunicação.
 A conscientização através da propaganda política seria suficiente para que o proletariado entrasse no caminho certo, tomasse ciência do papel revolucionário que deveria desempenhar no processo sublevatório que daria fim ao capitalismo e, por extensão, ao Estado burguês. Depois da revolução, os trabalhadores reorganizariam a sociedade segundo os critérios políticos e econômicos do comunismo libertário. Mas isso não deveria, num primeiro momento, se converter em preocupação, pois os trabalhadores, uma vez livres das travas coatoras da sociedade burguesa, e guiados pelos seus instintos naturais de ajuda mútua, saberiam, melhor do que qualquer outro grupo, reorganizar a sociedade.   
 Conforme explicita Jacy Alves de Seixas, o intento de Kropotkin ao inscrever “o homem e a sociedade dentro da totalidade representada pela natureza” (SEIXAS, 1995, p.142) exprime o seu desejo de “fazer da Historia social um reflexo mais ou menos límpido da Historia natural. Ambas são consideradas inelutáveis, determinadas em sua trajetória por leis especificas que prefiguram o sentido a ser percorrido”. (SEIXAS, 1995, p.142).
Já Malatesta se recusa a vincular o anarquismo a qualquer sistema filosófico ou cientifico de pensamento[2], para Malatesta, o anarquismo, antes de ser teoria, seria ação[3]. Partindo de tais reflexões, acreditava que a revolução social não deveria ser concebida como o fruto de uma atitude natural e instintiva, cuja necessidade demandaria de um hipotético princípio universal agindo no processo histórico e conduzindo toda a humanidade para um dado fim. Para ele, a revolução social será produto da vontade[4]dos homens, em consonância, é claro, com as especificidades do tempo e lugar onde essas transformações se processariam. Nesse sentido, atesta que:


“Temos querido afirmar o poder da vontade contra todas as teorias essencialmente fatalistas que, ou são teorias vãs sem efeito prático, e então são um estorvo lógico que debilita todo o raciocínio......então tendem a extinguir todo entusiasmo e a paralisar toda atividade”. ( MALATESTA apud RAGO, 2001, p 67)
          
Os comunistas libertários vinculados a Kropotkin, percebiam o seu afastamento frente às “massas”, mas se negavam a trabalhar diretamente nas organizações operárias, com o subterfúgio de que isso era, além de desnecessário, nocivo; pois os anarquistas poderiam cair na tentação de querer liderá-las ou dirigi-las, entrando assim em contradição com os ideais primitivos que regem o anarquismo.                
 A respeito do assunto, o anarquista italiano comenta que:


“Ainda que reconhecendo a necessidade de organização na sociedade futura... (alguns anarquistas) são hostis a qualquer organização que não tenha objetivo direto a anarquia e não siga os métodos anarquistas. E alguns se afastaram de todas as associações operárias que propunham a resistência e a melhoria das condições na ordem atual das coisas, ou se associaram com o objetivo de desorganizá-las Para esses camaradas, todas as forças organizadas em um objetivo que não fosse radicalmente revolucionário, seriam talvez subtraídos a revolução. Acreditamos, ao contrário e a experiência já nos mostrou isso muito bem, que seu método condenaria o movimento anarquista a uma perpétua esterilidade”. (MALATESTA, 1989, p.54)


 Rejeitando essa concepção mecânica e determinista da revolução, e, portanto o espontaneísmo, que é uma conseqüência lógica de tal teoria, Malatesta apelava para a necessidade da formação de uma vontade revolucionária, por esse motivo insistia tanto na organização dos trabalhadores e dos grupos anarquistas para a efetivação dos projetos libertários. E ademais, para que a revolução libertária fosse de fato “levada a cabo”, seria necessário estar no meio do povo e não fechados em gabinetes, fazendo especulações e teorizando sobre o mundo sem estabelecer contato com a realidade. Cumpre aqui retomar as palavras do próprio Malatesta que define tal situação dentro dos seguintes termos:


“É preciso conceder que eu jamais fui daqueles intelectuais anarquistas que quando, da dissolução da Internacional, retirou-se benevolentemente para uma torre de marfim, entregando-se as reflexões filosóficas, e reconhecer que, onde quer que eu me encontrasse, fosse na Itália, França, Inglaterra ou qualquer outro lugar, jamais deixei de combater essa atitude de isolacionismo altivo”. (MALATESTA, 1985,p.207)


A seu ver, não existiria melhor lugar que as associações operárias, em especial os sindicatos, para que houvesse mudanças substanciais e significativas. Segundo ele, nos sindicatos, os trabalhadores encontram seus companheiros e aprendem a cooperar com os outros em prol dos interesses de sua classe. As lutas por reformas e melhorias imediatas, realizadas por meio de greves, tanto as parciais quanto as gerais, fariam com que os trabalhadores adquirissem gradativamente a consciência dos antagonismos existentes dentro das relações capital/ trabalho, da verdadeira função do Estado e conseqüentemente do papel revolucionário a ser desempenhado na sociedade capitalista.


“Creio ser necessário e urgente que os anarquistas se organizem, para influir sobre a marcha que as massas impõem em sua luta pelas melhorias e pela emancipação. Hoje, a maior força de transformação social é o movimento operário (movimento sindical) e de sua direção depende, em grande parte, o curso que tomarão os eventos e o objetivo a que se chegará a próxima revolução. Por suas organizações, fundadas para a defesa de seus interesses, os trabalhadores adquirem a consciência da opressão sob a qual se curvam e do antagonismo que os separam de seus patrões, começam a aspirar uma vida superior, habituam-se a vida coletiva e a solidariedade”. (MALATESTA, 1989, p.85).


 Essa “ginástica revolucionária” prepararia e concederia a experiência necessária para que o proletariado,via ação direta, realizasse a revolução. Iniciadas por amplas greves, estas se generalizariam por toda a sociedade, sendo procedidas por atos insurrecionais, que integrariam no processo revolucionário outros setores sociais, como por exemplo, os camponeses e os soldados. No seu desenrolar a burguesia seria expropriada dos seus bens, os meios de produção seriam socializados e diretamente administrados pelos trabalhadores através de órgãos e associações voluntárias, tais como comitês de fábrica e conselhos operários, que livremente federados, se articulariam com a finalidade de substituir o Estado, que depois da revolução, seria destruído e desalojado da tarefa de gerir o corpo social. 
A  proposta de Malatesta foi com o passar do tempo gradativamente se consumando em realidade. Como precisa George Woodcock (2002), o movimento sindical, sobretudo na França, começou a se regenerar a partir de 1884, quando o governo francês adotou uma cláusula na sua nova Constituição, que permitia ao movimento operário criar organizações para a defesa de seus interesses econômicos. É claro que o objetivo visado pelo governo era tentar seduzir os trabalhadores. Mas ocorreu que a medida causou um efeito contrário e o sindicato acabou ganhando um caráter reivindicatório e francamente combativo. Isso só se tornou possível a partir do momento em que os anarquistas entraram maciçamente nos sindicatos e começaram a fazer propaganda do ideal ácrata[5].
Enfim, para Malatesta, a concepção que Kropotkin tinha do anarquismo era “demasiado optimista, demasiado fácil y confiada em las armonías naturales” (MALATESTA, 1988, p.24).




Thiago Lemos Silva é mestrando em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU)


Notas:
* Versão ligeiramente resumida e modificada de artigo já publicado em: Cadernos Fazendo História,Patos de Minas, v 6. Mar, p. 7-13, 2007


[1]Sobre o impacto do ideário cientificista na obra de Kropotkin veja: Lopreato (2002).


[2]De acordo com Malatesta, o anarquismo, “em su gênesis, sus aspiraciones, sus métodos, de lucha, no tiene ningun vínculo necesario com ningun sistema filosófico.
El anarquismo nácio de la rebelion moral contra lãs injusticias sociales. Cuando aparecieron hombres que se sintieron sofocados por el ambiente social em que estaban forzados a vivir y cuya sensibilidade se vio ofendida por el dolor de los demás como se furera próprio, y cuando esos hombresse convecieron de que buena parte del dolor humano no es consecuencia fatal de leyes naturales o sobrenaturales inexorables, sino que deriva, em cambio, de hechos sociales dependientes de la voluntad humana y eliminables por obra el hombre, se abrió entonces la via que debia conducir al anarquismo” (MALATESTA, p.9, 1988)


[3] A anarquista italiana Luce Fabbri (a um só tempo herdeira e crítica de Malatesta) concorda com o mestre no que se refere ao papel que este outorga a vontade enquanto elemento determinante no processo revolucionário e na construção da futura sociedade libertária. Porém, se distancia dele na medida em que contesta suas afirmações sobre aporte filosófico do anarquismo. Para Fabbri, o anarquismo deveria ser pensado com um sistema filosófico “porque se distancia muito dos sistemas puramente políticos ‘que podem ou não se realizar segundo a vontade humana’ justamente porque investe em todos os campos, além de encontrar sua aplicação em um sistema prático de organização social, é também um modo particular de considerar a vida em todas as suas manifestações... De fato, além de existir uma organização política anárquica, há também uma moral, uma crítica, uma pedagogia anárquicas” (FABBRI apud RAGO, 2001, p.337).


[4]Como se pode perceber o conceito de vontade é um princípio fundante do anarquismo malatestiano, no entanto ele não é portador de uma dimensão absoluta, pois não ignora a existência de condicionamentos (sociais, econômicos, políticos e culturais) que influenciam o homem e limitam uma ação totalmente livre. Como indica corretamente Mauricio Tragtenberg: “Não negava ele a causalidade nos fenômenos sociais e históricos, apenas reagia pela negação da subjetividade, da vontade humana no processo histórico. Uma vida consciente e ativa pressupõe a eficiência da vontade, sujeita às limitações de ambiente e época histórica”. ( TRAGTENBERG, 2003, p.196)




[5] Para que tal hipótese não pareça totalmente descabida, cito Fernand Pelloutier, pai do sindicalismo revolucionário francês, que na sua célebre “Carta aos anarquistas” justifica a brevidade do seu instigante texto convocando os libertários a ingressarem nos sindicatos argumentado que as palavras que irá dizer “encontram uma ilustração perfeita na pessoa de propagandistas como Malatesta, que sabem unir tão bem a uma paixão revolucionária indomável a organização metódica do proletariado”. (PELLOUTIER apud VASCO, 1984, p.80). No entanto, não se deve deixar enganar quanto à importância que Malatesta outorga ao sindicato, pois é parcial e restrita. Ele mesmo chega a dizer que o sindicato figura como uma espécie de “faca de dois gumes”, que pode tanto ajudar quanto atrapalhar o processo revolucionário e a realização do projeto libertário. Para uma análise mais pormenorizada desse assunto veja: Silva (2007)








Referências:


LOPREATO, Christina da Silva Roquette. Sobre o pensamento libertário de Kropotkin: indivíduo, liberdade e solidariedade. História e Perspectivas. Uberlândia, nº. 26, p.557-592, Jan/Dez 2002.       


LUIZETO, Flavio. Utopias Anarquistas. São Paulo: Brasiliense. 1987.


MALATESTA, Enrrico. Escritos Revolucionários. São Paulo: Imaginário. 1989.


_______. Sindicalismo: A crítica de um anarquista. In: WOODCOCK, George. Os grandes escritos anarquistas. Porto Alegre: L & PM. 1981.


_______. Anarquismo y Anarquia. Buenos Aires: Tupac Ediciones. 1988.


NETLAU, Max.Em memória de Errico Malatesta. Revista Verve. São Paulo. n°4, p.170-184,Out 2003.


RAGO, Margareth. Entre a historia e a liberdade: Luce Fabbri e o anarquismo contemporâneo. São Paulo Unesp. 2000


SEIXAS, Jacy Alves. Anarquismo e socialismo no Brasil: as fontes positivistas e darwinistas sociais. História e Perspectivas. Uberlândia, n°12/13, p.133-148, Jan/Dez 1995.


SILVA, Thiago Lemos. Revolucionário ou reformista? Prós e contras do sindicato segundo Errico Malatesta. Revista Urutágua. Maringá, nº11, Dez/Jan/Fev/Mar/2007. 


TRAGTENBERG, Maurício. Malatesta e sua concepção voluntarista de anarquismo. Revista Verve. São Paulo. n°4, p.195-227,Out 2003.


VASCO, Neno. Concepção Anarquista do Sindicalismo. Porto: Afrontamento. 1984.


WOODCOCK. George. História das Idéias e dos Movimentos Anarquistas. V.1 e V.2. Porto Alegre: Ed. L & PM, 2002.




ENTREVISTAS


PROTESTO NÃO É CRIME!   
ENTREVISTA COM A FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA


O jornal Socialismo Libertário, periódico nacional do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO), conversou com um militante da Federação Anarquista Gaúcha, FAG, neste momento em que se aproxima a data da audiência na qual 6 militantes da organização foram intimados. Será no dia 19 de julho e contará com a presença da governadora Yeda Crusius em pessoa, fazendo a sua denúncia contra a FAG.


Socialismo Libertário:Poderíamos fazer uma pequena retrospectiva dos fatos que levaram vocês a terem a sede invadida pela polícia civil e seus militantes intimados judicialmente?


Militante Faguista: Em 21 de agosto, durante uma sinistra operação de guerra montada pela Brigada Militar no despejo da ocupação dos trabalhadores do MST na fazenda Southall, no município de São Gabriel, foi assassinado Elton Brum. O crime foi ato premeditado do Estado. O companheiro Sem Terra foi alvejado pelas costas pela polícia com disparo de calibre 12. Esse fato comoveu todo o movimento popular e sindical, direitos humanos e grupos de foro internacional. Imediatamente se organizaram caravanas solidárias para São Gabriel, a cidade onde se consumou um golpe de morte que era anunciado pelas escalada de violência do Estado contra o protesto e a pobreza. Em Porto Alegre no mesmo dia levantamos com outros setores organizados da lutaum ato de solidariedade ao MST e de repúdio ao governo de Yeda Crusius e a Brigada Militar. Dessa mobilização imediata resultou a decisão da FAG de levar pra rua uma campanha de agitação denunciando o crime e responsabilizando os seus mandantes, nesse caso o chefe das operações e o governo do Estado. Pois a própria Yeda Crusius em pessoa fez uma queixa crime contra os militantes da FAG por calúnia e difamação e abriu este processo judicial que se arrasta até sabe-se lá quando.          


SL:Como vocês definiriam a conjuntura para os movimentos populares no RS, nos últimos anos?


MF: Em uma análise discutida e aprovada pelo Conselho Federal da organização que recorria aos fatos repressivos e os esquemas corruptos que sucediam a leitura que fizemos era de evidências de um Estado policial com alto grau de truculência, dentro do regime democrático burguês, aos pobres e os setores organizados da luta. Vivemos a combinação explosiva de um governo corrupto até a medula, de uma oposição parlamentar rendida as cláusulas neoliberais do empréstimo do Banco Mundial e uma pauta repressiva implacável às manifestações da pobreza e do protesto social nas ruas ou no campo. Essa conjuntura ainda teve a mediação de um discurso reacionário que ganhou circulação pela mídia e pedia mão pesada contra as “desordens” que vem de baixo. Nessa produção poderosa da comunicação dominante ganhou palco e holofote o comandante da Brigada Militar Paulo Roberto Mendes que foi batizado “capitão Nascimento dos Pampas”. Paralelo ao fogo cruzado dos inquéritos, investigações e polêmicas que convulsionavam a máquina do governo e também do ajuste fiscal que desmontou com os serviços públicos e a política social, o comandante Mendes era o símbolo da ação do Estado.
Em 2008 a luta de classes no estado do RGS passou por um momento brutalmente repressivo enquanto o governo de Yeda Crusius se equilibrava na corda bamba para passar impune a fraude com dinheiro público do Departamento Estadual do Trânsito, a língua solta do vice-governador Feijó, a morte mal explicada do representante do estado em Brasília, caixa dois de campanha pra compra da mansão da governadora, etc...  Como dissemos, em 2008 a mão pesada desceu o cacete. Pra lembrar melhor. Em janeiro o encontro estadual do MST em Sarandi foi cercado, paralizado e invadido por um contingente absurdo da polícia constituindo numa grave violação dos direitos democráticos. Em fevereiro uma manifestação do Encontro Latino Americano de Organizações Populares (ELAOPA) em Porto Alegre, durante conferência mundial das cidades teve que se defender da agressão policial. Em Rosário do Sul, na jornada das mulheres camponesas pelo 8 de março uma ocupação em terras da zona de fronteira que são ilegalmente invadidas pela empresa sueco-finlandesa Stora Enzo terminou reprimida selvagemente sem discriminação de crianças. Pela metade do ano mais episódios. Uma batalha em frente a um supermercado da rede Wall Mart em Porto Alegre deixou vários companheiros de mov. Sociais do campo e da cidade feridos e  um em estado grave. Em Passo Fundo na ocupação da Bunge mais violência policial. Um piquete de grevistas do sindicato dos bancários em Porto Alegre foi surrado covardemente. A marcha dos sem, que todos os anos se realiza na capital do Rio Grande foi proibida de chegar perto do palácio do governo e dispersada a balas de borracha e bombas pelas forças repressivas.
Uma ação do Ministério Público estadual pediu a cabeça do MST, suspendeu as escolas itinerantes, quis por fora da lei, proibir, amordaçar, a maior força social dos oprimidos do país. A conjuntura tinha prenúncios sinistros de morte, de perda de companheiro, dada a escalada repressiva que investiu com força sobre a resistência popular. Nos bairros e vilas da periferia, nas favelas, a prisão sobretudo da juventude negra e pobre foi incorporada no aparelho como política de limpeza social. Foi assim que se fez em 21de agosto de 2009 o assassinato do trabalhador sem terra Elton Brum. Em meio a peleja histórica que faz o MST no coração do latifúndio, na “terra dos generais” chamada São Gabriel.
Pois nos parece que desse padrão repressivo intenso que resistimos agora nos sobrou a judicialização dos conflitos. É onde estamos. O governo Yeda voltou a caça as bruxas no final de mandato contra os seus opositores. Pelo menos três casos são emblemáticos desses ataques judiciais. O protesto em frente a residência da governadora organizado por sindicatos e partidos de esquerda; a campanha publicitária do fórum dos servidores públicos, liderada pelo Cpers-Sindicato contra o governo; e a propaganda da FAG denunciando os responsáveis pelo assassinato de Elton Brum. Todos chamados ao Foro Central na 6ª vara criminal para responder a queixas crimes da governadora como réus.  




SL: Por que, na opinião de vocês, o assassinato de Elton Brum não gerou uma onda de protesto, como costuma ocorrer nestes casos, como por exemplo, na Argentina (Dario Santillán e Maxiliano Kosteck) ou Grécia (Alexandrous Grigoropoulos)?


MF: O assassinato estava inscrito dentro de uma conjuntura mais geral onde atravessavam as lutas e mobilizações populares contra a dura política de ajuste fiscal do governo. Temos nossa própria avaliação, nossas hipóteses sobre isso. Estava formada no Rio Grande do Sul uma campanha que tinha centro na luta política contra o governo, pelo Fora Yeda, que contava como setor mais dinâmico das cidades o sindicato dos trabalhadores da educação. O governo Yeda vinha colecionando escândalos e cambaleando no fogo cruzado da crise política, com fraturas expostas na própria base. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada na Assembleia Legislativa do estado que deu cena ao PT e suas ambições eleitorais. O reformismo ganhou protagonismo como intermediário político da luta que se ampliava nas ruas e nos locais de trabalho do setor público. Com o tempo o parlamento e a comissão de inquérito passou a ganhar lugar mais decisivo, deslocou a ação direta popular. Esse é o primeiro elemento.
O segundo é o prejuízo que resultou a falta de independência de classe do movimento sindical, especialmente das forças organizadas na CUT, que se burocratizaram aos trâmites da CPI e os interesses evidentes do PT em sangrar o governo até as próximas eleições esvaziando a luta das ruas e ganhando protagonismo pela oposição no parlamento. Essa relação de correia da central sindical com o PT explica a ausência completa de um plano de ação contra os acordos do governo Yeda com o Banco Mundial que na Assembleia Legislativa tiveram aprovação unânime, incluso do PT e do PC do B. Pois a falta de independência de classe que nos referimos impediu que se realizassem modalidades mais fortes de ação que pudessem provocar a caída do governo.
Em terceiro, o acontecimento de São Gabriel, o assassinato de Elton Brum, elevava o grau da crise política gaúcha para uma situação em que um plano de ação direta unificado, do campo e da cidade, como por exemplo: a paralisação de todo o serviço público, piquetes nas zonas industriais ou o bloqueio de estradas e rodovias poderiam ter desestabilizado seriamente o governo do estado e mudado a correlação de forças a nosso favor.
A concepção reformista não procura decisão pela luta direta dos interessados, o que pode fugir do seu controle, mas pelos intermediários. O movimento popular e sindical é grupo de pressão enquanto os agentes parlamentares decidem e ganham os créditos.  


SL: Qual tem sido o papel da imprensa gaúcha nos episódios de violência policial?


MF: Das mídias burguesas foi evidentemente de uma desinformação criminosa. Os grupos dominantes da comunicação são parte fundamental de uma estrutura de poder que pôs na agenda da política a criminalização do protesto e da pobreza. 


SL:Que papel tem uma organização política anarquista num momento como este?


MF: Somos uma pequena organização dentro desse cenário, contudo fizemos nosso lugar nas lutas que fizeram pauta na sociedade. Estar junto com os que lutam deve ser um lema dos anarquistas, em qualquer lugar. Lutar contra um governo corrupto e neoliberal e defender resolutamente as liberdades públicas, apostando na força social das ruas, na ação direta popular é nossa razão de ser. É aí que se abre perspectiva libertária, que se geram relações de força para formas de poder popular contra os intermediários reformistas.     


SL:Vocês têm recebido solidariedade de fora do RS, como têm sido isso?


MF: Muita, muita solidariedade. De todos os cantos do Brasil, de nossa América Latina e do Mundo. Logo depois da invasão da polícia na sede da FAG, em poucos dias, se fizeram atos solidários no Uruguai, na Argentina, na Espanha, na França, etc... Distintos grupos, organizações, militantes, meios alternativos e libertários nos fizeram chegar seu apoio. Somos muito agradecidos por todos e todas que nessa hora se moveram por essa causa.


SL:O que esperar para o dia 19 de julho?


MF: Mobilização da FAG e de todos e todas que sejam solidários, ou que façam causa comum na pauta contra a criminalização do protesto. No dia 19 de julho estaremos concentrados para um ato de protesto. Não reconhecemos a acusação de calúnia e difamação que a governadora nos imputa. Estaremos até o fim por justiça e punição dos responsáveis pelo assassinato de Elton Brum.


SL:Palavras finais?


MF: Não tá morto quem peleia!!!


Entrevista enviada por Rafael Costa membro da  Federação Anarquista Gaúcha (FAG), editor do do blog Vento de liberdade (http://vento-de-liberdade.blogspot.com/ ) e autor do livro( HQ) “ Mais que palavras” pela Achiamé.




RESENHAS
A idéia dos sovietes


Miguel Bakunin, antecipando-se as mazelas dos regimes/ sistemas totalitários (taylorismo, nazismo, fordismo, stalinismo, toyotismo, fascismo, bolchevismo, mayoísmo, castrismo, leninismo, maoismo e outros tantos de igual matiz) que permearam o século XX e se estende anacronicamente até ao atual, ponderou: "Liberdade sem socialismo é privilégio e injustiça; socialismo sem liberdade é escravatura e brutalidade."
As ponderações bakunianas levam-nos a um velho ditado popular que propõem a separação entre alhos e bugalhos... Faz-se, portanto, necessário reavivá-lo em nossas mentes e corações sempre que ouvirmos falar da impossibilidade prática de comungarmos socialismo e liberdade.
Visto que o sistema de verdades absolutas – proposto pelos ideólogos do capitalismo – tenta a todo custo impor a impossibilidade de uma convivência harmoniosa entre ambos. E que em alguns momentos são tratados, pelos referidos 'senhores da verdade', como termos antagônicos na sua própria essência libertária.
E por crermos na possibilidade real de um passo à frente na construção de relações não-autoritárias nas esferas da política (federalismo) e economia (autogestão); bem como no campo social (solidariedade), concordamos com a cientista política germânica Hannah Arendt:


"Passava a haver certa diferença somente naqueles momentos, raros e decisivos, em que, no decorrer do processo revolucionário, ficava claro de repente que, se não fossem comandados por programas e ideologias partidárias oficiais, os operários desenvolveriam idéias próprias quanto às possibilidades do governo democrático em condições modernas. Em outras palavras, a linha divisória entre o econômico e o político não é uma questão de radicalidade das reivindicações econômicas e sociais, mas exclusivamente da proposição de nova forma de governo."


Consideramos, portanto, mais do que justa a divulgação deste resenha sobre o livro de Pano Vassilev que foi publicado no ano de 2008, em consórcio firmado entre as editoras organizadas pelos compas Plínio/ IMAGINÁRIO  e Raphael/ FAÍSCA.
Neste livro, o autor búlgaro “desenvolve a idéia dos sovietes, mostrando suas origens e distanciando-a daquilo que ficou conhecido no século XX com o desenvolvimento da União Soviética”.
Para Vassilev, a origem dos sovietes é libertária e possui raízes nas experiências libertárias dos séculos XIX e XX, não possuindo nada em comum com o ‘sistema soviético’, concretizado de maneira autoritária e centralista, que submeteu as diversas localidades da Rússia revolucionária a um poder central de Moscou.
Vassilev defende que a idéia dos sovietes, ao contrário, é uma nova organização social, “livre e comunista, com a regulação da produção e da distribuição dos bens na futura sociedade por meio de encontros, reuniões de trabalho entre delegados diretos, sempre substituíveis e desprovidos de qualquer poder, das organizações profissionais e dos centros de distribuição”.
Ele continua: “esta idéia nada tem em comum com o caráter próprio dos bolcheviques, sua tendência estatista e seu sistema ditatorial na regulamentação da vida social”. Vassilev trabalha a origem e o desenvolvimento histórico desta idéia dos sovietes, passa por seu surgimento, pela evolução da idéia dos conselhos na Rússia e das relações dos anarquistas russos com ela.
Pano Vassilev, no seu livro (A IDÉIA DOS SOVIETES), não se limita a denunciar os entraves criados pela estrutura vertical (burocrática) dos marxistas – sejam eles leninistas, trotskistas, stalinistas e outras matizes que se apóiam numa contradição político-filosófica, que é o centralismo democrático – ao desenvolvimento da Revolução Russa (1905, 1917 e 1921), mas mostrar com vários exemplos práticos, formas de organização (sovietes) que primam por um socialismo ancorado na liberdade, autogestão, autonomia, federalismo, assembléismo etc...


El brujo tavares é editor do blog “O homem revoltado” (http://ohomemrevoltado.blogspot.com/ )


NOTÍCIAS


Moção de Apoio ao Movimento Estudantil da UFU


No primeiro semestre de 2010 o Movimento Estudantil da UFU se manifestou contra medidas propostas pela reitoria da Universidade Federal de Uberlândia, reivindicando de forma pacífica (entre outras pautas) a retirada do quadro do general Costa e Silva fixado na reitoria e o direito de socialização (arte, cultura e lazer) nos espaços da universidade, ou seja, contra a privatização do espaço físico das universidades públicas e de medidas arbitrárias que ferem princípios democráticos historicamente conquistados. Uma das pautas polêmicas – contra a proibição da venda/consumo de bebidas alcoólicas no interior da universidade em momentos de confraternização – que levanta inclusive a questão do consumo consciente de bebidas alcoólicas pela juventude ganhou maior relevância na mídia descaracterizando o movimento enquanto um ato político. Dentre as principais reivindicações estavam à luta pela paridade no conselho universitário e a arbitrariedade com que a nova gestão vinha impondo suas decisões.
Diante desse quadro, o movimento estudantil dessa universidade passou a ser fortemente criminalizado pela mídia burguesa e por setores conservadores da comunidade universitária, sendo acusado de cárcere privado, depredação do patrimônio público e formação de quadrilha.
Frente a isso, a ANEL vem a público se manifestar contra a criminalização pela qual vem passando o movimento estudantil da Universidade Federal de Uberlândia. Defendemos incondicionalmente a liberdade de expressão, manifestação e organização política dos movimentos sociais, logo do movimento estudantil.




Assembléia Nacional dos Estudantes Livres


A OUTRA CAMPANHA


NAS ELEIÇÕES, O NOSSO VOTO É NO PODER POPULAR
Se aproxima mais um período de eleições onde toda a população é chamada para votar. Todos nós já estamos fartos de tantas promessas, mentiras e escândalos de corrupção. ENTÃO:


CONSTRUIR UM POVO FORTE COM A OUTRA CAMPANHA


- Outra campanha, para convocar a luta e a organização popular, não para pedir votos, é o trabalho que nos mobiliza para fazer política. Porque a política não é assunto só para especialistas ou representantes.


- Outra campanha para lutar por um programa de emergência que atenda as necessidades do povo e enfrente os problemas sociais mais graves da cidade. Para recuperar a dignidade do que sofre na vida o preço da promessa não cumprida, pois somente a ação direta dos de baixo contra os que oprimem é capaz de fazer justiça.


- Outra campanha para construir um povo forte, para organizar os desorganizados, para unir os movimentos sociais que lutam, para fazer política com as próprias mãos com independência do governo, do partido e do patrão, pela decisão das assembléias e da luta popular em unidade.


- Outra campanha para dar voz a quem não é deixado falar, para construir participação popular onde o poder faz exclusão, para criar capacidade política pelos lugares de trabalho, estudo, moradia, pela cultura e os meios de comunicação comunitários.


- Outra campanha para construir poder popular, pra acumular forças com democracia de base e tomar de volta a política dos corruptos, das oligarquias e dos grupos dominantes do poder.
Lançamento da Outra Campanha: 21/08
Simpa (Sindicato dos Municipários de Porto Alegre)
João Alfredo, 61 ( Em frente ao largo do Zumbi dos Palmares)


Em breve os comitês locais da Outra Campanha.
Fonte:http:outracampanhabrasil.blogspot.com


Nota de falecimento
 Faleceu nesta data, 20/08/2010, o ator e anarquista Francisco Cuberos Neto. Sapateiro na juventude, em 1940 Cuberos torna-se militante do Centro de Cultura Social onde conhece o anarquista e ensaísta Pedro Catallo que o apresenta ao teatro operário; torna-se rapidamente um dos principais articuladores do núcleo de teatro do CCS, o “Laboratório de Ensaio”.
No CCS, Cuberos viveu intensamente; ali conheceu Maria Martinez Jimenez, companheira de toda vida, e ali celebraram sua união. Mesmo afastado, o CCS jamais perdeu o alegre traço da sua militância.
Cuberos morreu aos 86 anos. Quem o conheceu carrega a delicada imagem que dele fizera seu irmão Jaime: “Passageiro de um barco sem ponto de saída nem ponto de chegada, homo viator em busca permanente da superação”.
 Saudades dos companheiros do Centro de Cultura Social.
Agosto, 2010.
Fonte: http://www.ccssp.org/


REA 111 ON-LINE
Informo que a Revista Espaço Acadêmico, edição nº 111, agosto de 2010, foi publicada.
Destaque da edição: ESPECIAL: FUTEBOL & POLÍTICA. Acesse: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current
Por favor, colabore com a divulgação da revista! Envie aos amigos, colegas e listas que participem.
Permanecemos abertos às sugestões, críticas e contribuições
Muito obrigado.
Abraços e tudo de bom,
Fonte: Antonio Ozaí da Silva
E-mail: antoniozai@gmail.com


Programação 2º semestre de 2010 do Centro de Cultura Social de São Paulo


07/08, sábado 16h:
"World Cup Soccer and the popular struggle of social movements" [“Copa do Mundo de Futebol e a luta popular dos movimentos sociais”], com Jonathan (Integrante da Frente Anarquista Comunista Zabalaza da África do Sul).


21/08, sábado 16h:
Cinema & Anarquia: “Desaparecido” de Costa-Gavras (USA, 1982).


28/08, sábado 16h:
“O paradigma indiciário na construção do conhecimento” [I], com Anna Gicelle Alaniz (Doutora em História pela USP e integrante do CCS).


11/09, sábado 16h:
“O movimento punk numa história do anarquismo no Brasil”, com Bruno Pereira de Oliveira (Historiador formado pela PUC Campinas).


18/09, sábado 16h:
Cinema & Anarquia: “Salvador” de Oliver Stone (USA, 1986).


02/10, sábado 16h:
"A trajetória do Centro de Cultura Social (1933-2007)", com Lúcia Parra (Historiadora formada pela USP e integrante do CCS).


16/10, sábado 16h:
Cinema & Anarquia: “A história oficial” de Luis Puenzo (Argentina, 1985).


23/10, sábado 16h:
“O paradigma indiciário na construção do conhecimento” [II], com Anna Gicelle Alaniz (Doutora em História pela USP e integrante do CCS).


06/11, sábado 16h:
Cinema & Anarquia: “Pra frente, Brasil” de Roberto Farias (Brasil, 1982).


27/11, sábado 16h:
“Foucault e a potência da retórica”, com Nildo Avelino (Doutor em Ciência Política pela PUC-SP e integrante do CCS).


04/12, sábado 16h:
Leitura Dramática, “As Criadas” de Jean Genet. Direção de Alberto Centurião (Dramaturgo, ator e diretor de teatro, integrante do CCS).


Minicurso:
“Biopolítica: formas de racionalizar sobre o melhor governo ou a melhor segurança”, com Edson Lopes (Doutorando em Ciência Política pela PUC-SP, autor de Política e Segurança Pública: uma vontade de sujeição [Contraponto, 2009], integrante do CCS).


1º encontro: “Biopolítica: multiplicidades no conceito”.
2º encontro: “Protegere e a inconstância nobre”.
3º encontro: “Segurança: formas de governar pela vida”.


***aguarde confirmação das datas***


Rua Gal. Jardim nº 253 sala 22 (metrô República)


São Paulo/São Paulo


Fonte: Nildo Avelino-Centro de Cultura Social de São Paulo (CCS-SP)
E-mail: nildoavelino@gmail.com




LANÇAMENTO DOS LIVROS ÉLISÉE RECLUS


A Biblioteca Terra Livre e a Editora Imaginário tem o prazer de convidá-los para o lançamento de três livros de Élisée Reclus em português. 


- Do Sentimento da Natureza nas Sociedades Modernas
- Renovação de uma Cidade / Repartição dos Homens
- Da Ação Humana na Geografia Física / Geografia Comparada no Espaço e no Tempo


DEBATE sobre a vida e obra do geógrafo anarquista com a presença dos pesquisadores Amir El Hakim, David Ramírez, Fabíola T. Nunes e Marcelo Miyahiro. (Geografia/USP). 
Quando:
Quinta – 26/08 – 19h 
Onde:
Antiga Biblioteca da História e Geografia (FFLCH/USP)Av.Prof. Lineu Prestes, 338
Av.Prof. Lineu Prestes, 338
Cidade Universitária – São Paulo
Contato:bibliotecaterralivre@gmail.com
Fonte: http://bibliotecaterralivre.wordpress.com/




NEPHISPO
(Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Política)
CONVIDA
Noitadas anarquistas


Noitadas anarquistas - com este nome inauguramos as atividades de um grupo de estudos no interior das “jornadas” do NEPHISPO. Buscamos a constituição de um lócus dinâmico de pesquisa e reflexão crítica sobre temáticas e questões relativas à história, historiografia, ética, sensibilidade e pensamento anarquistas e sua contemporaneidade. Pensamos este grupo mais como um “encontro de amigos” (Derrida), espaço de provocações e diálogos heterônimos, do que a reunião de “especialistas” em anarquismo e seus, mais ou menos obedientes e disciplinados, aprendizes. Nesta ótica, nossos seminários e atividades são abertos a estudantes, professores, pesquisadores e a todos os interessados e sensibilizados (mesmo que pontualmente) pelo campo político e cultural do anarquismo.
Coordenação: profa. Jacy Alves de Seixas


Palestra-debate:


PERTINÊNCIAS DE UMA IM-PERTINENTE
HISTORIOGRAFIA ANARQUISTA


LANÇAMENTO DO LIVRO:
O NIILISMO SOCIAL – ANARQUISTAS
E TERRORISTAS NO SÉCULO XIX


PALESTRA E AUTOR: Fabrício P. Monteiro
[doutorando do PPGHIS-UFU]


02 de setembro, às 19:00h
Sala 1h48 – bloco H
UFU/ Santa Mônica
Uberlândia-Minas Gerais




SIMPÓSIO “Educação, Cultura e Filosofia – aproximações”


Dias 13 e 14 de setembro de 2010.
Local: Salão de Júri (Faculdade de Direito)
Horário: 19 às 22 h 20 min
Realização: Cursos de História e Pedagogia do UNIPAM


O Simpósio Temático – “Educação e Filosofia: aproximações”, ocorrido no ano passado, inaugurou uma série de debates, contemplando a contribuição de pensadores clássicos do Ocidente e suas reflexões acerca da educação. Neste ano, estamos propondo a continuidade daquelas reflexões, agora no Simpósio Temático: “Educação, Cultura e Filosofia – aproximações”. Na mesma orientação do anterior, pretendemos irrigar o debate abordando agora, personalidades do pensamento brasileiro, na área de Ciências Humanas e a interface com pensadores estrangeiros.


Segunda-Feira – dia 13 de setembro
19 horas: Abertura – Prof. Me. Marcos Antônio Caixeta Rassi
19 h 15 min: Milton Santos – Conferencista Prof. Me. Roberto Carlos dos Santos
20 horas: Anísio Teixeira – Conferencista Prof. Me. Henrique Carivaldo de Miranda Neto
20 h 50 min: intervalo
21 horas: Maurício Tragtenberg – Conferencista Prof. Thiago Lemos Silva
21 h 50 min: debate


Terça-Feira – dia 14 de setembro
19 h 15 min: Edgar Morin – Conferencista Profa. Esp. Fátima Aparecida Santos
20 horas: Carlos Rodrigues Brandão – Conferencista Profa. Eunice Aparecida Caixeta
20 h 50 min: intervalo
21 horas: Florestan Fernandes – Conferencista Prof. Esp. Altamir Fernandes de Sousa
21 h 50 min: debate


Inscrições: LEPEH – FAFIPA
Valor: R$ 2,00 e um lápis
Rua Major Gote 808
Patos de Minas- Minas Gerais


Seminário Anarquismo e Ecologia


Salvador-Bahia


"nem os fracassos, nem as zombarias podem desviar os experimentadores"




“... a história nos diz que toda a obediência é abdicação e toda servidão é morte antecipada”


Élisée Reclus


No próximo mês de outubro de 2010, mais precisamente nos dias 15 (sexta-feira a partir das 19h00) e 16 (sábado a partir das 09h00), estaremos refletindo sobre os pontos tangenciais e/ ou perpendiculares entre a ideologia anarquista e a necessária defesa da biosfera proposta pelos grupos de ecologistas neste processo de vigência do capitalismo.
Sistema este que – mesmo quando usa a ‘pele de cordeiro’ da social-democracia – sempre estará em busca de maiores lucros para que se tenha uma maior acumulação de capital. E isso, sem a merecida reflexão sobre as perniciosas consequências de suas ações nos processos de deteriorização dos recursos ambientais, sociais, culturais, humanos e individuais.
A ideologia anarquista prima pela espontaneidade, auto-disciplina e ação direta dos indivíduos e, também, dos coletivos; autonomia entre os grupos federalizados; auto-gestão na produção econômica; e federalismo nessas relações horizontais inter agrupamentos de uma dada região produtora etc...
Já os ecologistas buscam a aplicação imediata de propostas que minimizem as ações deletérias do capitalismo, tais como a permacultura, mandala, reciclagem, cooperativismo, economia solidária, mutirões, escambos, adjuntórios, desenvolvimento sustentável, ações eco-produtivas e educativas, etc...
Isto posto, recorro a uma máxima que ainda se faz atual, que é da verve do revolucionário francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865):
"O conceito de propriedade implica na exploração do homem pelo próprio homem, logo todo sistema erguido sobre esse conceito não pode seguir outro rumo senão o da escravidão".
Partindo do princípio de que a propriedade condiciona perversamente às relações (solidariedade ou competição?) entre os homens e entre o homem e a natureza. Protelando, assim, uma possível convivência pacífica entre os homens e uma harmoniosa relação homem-natureza de confecção (produção) de artes, bens de consumo e serviços.
Preservar o homem e o seu entorno ou acumular riquezas e destruir tudo em que colocarmos os olhos da cobiça. Eis a questão sobre a qual devemos refletir para ultrapassarmos o patamar da miséria que aflige uma parcela significativa dos sete bilhões de pessoas que populam sobre esta rocha perdida na imensidão do cosmo, que chamamos desinteressadamente de planeta Terra.
Neste seminário (anarquismos & ecologias) iremos exercitar o diálogo entre a prática prevencionista da ecologia e a vivência anti-autoritária dos anarquismos; bem como tentar arrancar os antolhos que nos são impostos desde a tenra idade pelos sistemas de reprodução do poder disciplinador, alienante, coercitivo e predador (Escola, Igreja, Estado e o Capital).
Poderemos então assistir – se assim o desejarmos – ao surgimento de um espaço salutar para o questionamento dos sistemas e instituições autoritárias, dentre elas destaque para o capitalismo em todas as suas variantes, que vai do fascismo à social-democracia. Mas que em comum têm a defensora de “pactos sociais” entre os ‘patos ingênuos’ e os ‘espertos caçadores’ com suas escopetas de calibre 12.
Buscaremos – como referêncial teórico – o pensamento do anarquista e geográfo francês Élisée Reclus (1830 – 1905), que com a sutileza das palavras de um poeta, assim define, a anarquia:
“... é a mais alta expressão da ordem. Para que o socialismo chegue à sua completa expressão é preciso que salvaguarde ao mesmo tempo os direitos do indivíduo e os direitos colectivos.O homem não é um acidente, mas sim um ser livre, necessário e activo que se une com os seus semelhantes mas que não se confunde com eles”.
Um segundo referêncial teórico, este mais contemporâneo, que também adotaremos em nosso seminário (anarquismos & ecologias) é a leitura que fez o escritor anarquista estadunidense Murray Bookchin (1921 - 2006) sobre a ecologia como ação concientizadora do homem-livre neste sistema de exploração/ escravidão:
“O anarquismo não é apenas uma sociedade sem governo, mas uma sociedade harmoniosa que procura expor o homem a todos os estímulos da vida urbana e rural, da atividade física e mental, da sensualidade não reprimida e da espiritualidade, da solidariedade ao grupo e do desenvolvimento individual, das singularidades regionais e da fraternidade universal, da espontaneidade e da auto-disciplina, da eliminação do trabalho e do estímulo à criatividade.
Na sociedade esquizóide em que vivemos, tais objetivos são considerados não só irreconciliáveis, como, até, diametralmente opostos, mas isso ocorre pela própria logística da sociedade moderna.
A separação entre a cidade e o campo, a especialização do trabalho, a atomização do homem – e seria absurdo tentar acreditar que essa dualidade poderia ser resolvida sem que se tivesse ao menos uma idéia geral sobre a estrutura física da sociedade anarquista”.
Reafirmamos, pois, o nosso convite para que em outubro de 2010 estejamos todos juntos no Seminário ANARQUISMO & ECOLOGIA, pois:
“é preciso, sem vacilo ou exitação dizer: basta!”
Basta de destruição ao meio-ambiente;
Basta de exploração dos verdadeiros produtores;
Basta da insidiosa sujeição/ escravidão do homem!


El brujo tavares é editor do blog “O homem revoltado” (http://ohomemrevoltado.blogspot.com/


PS: Em breve divulgaremos a programação


Colóquio Internacional Tramas e dramas do político: linguagens, formas, jogos


18-21 de outubro de 2010


Programação das sessões
18 de outubro (8h.) - 2a feira
ABERTURA
Jacy Seixas  / Josianne Cerasoli / Izabel Marson / Stella Bresciani


1. DIZENDO A NAÇÃO: CONTEXTURAS DE SABER E PODER
Linguagens e paisagens: o cadinho cultural que informa e enforma o Brasil
Márcia Naxara
Política e conhecimento na tessitura da crítica de Joaquim Nabuco à república e suas congêneres latino-americanas
Izabel Marson
La langue du droit ou la fabrique du politique. Sociologie historique de la science électorale en France (XIXe-XXe siècle)
Yves Déloye


18 de outubro (14h.)
2. LINGUAGENS DO (TRANS)NACIONAL: PÁTRIA, LATINIDADE E O QUID OCIDENTAL
Duas Argentinas? Imagem e contra-imagem na construção e perpetuação das tramas de uma nação
José Alves de Freitas Neto
Romanidade, latinidade, ideia latina – um tema com variação?
Virgínia Camilotti
Republicanismos: entre a “liberdade dos antigos” e a “liberdade dos modernos”
Fernando Catroga


19 de outubro (9h.) - 3a feira
3. FIGURAÇÕES DO URBANO: ESTÉTICA, CIÊNCIA, TÉCNICA
O revival colonial nas Américas: maquinações de política, ciência e arte
Josianne Cerasoli
Explorar caminhos e linguagens na trajetória política do engenheiro-arquiteto Francisco Prestes Maia
Marisa Carpintéro
Entre a técnica e a política: as múltiplas linguagens do urbanismo
Stella Bresciani


19 de outubro (14:00) 4ª feira
4. DE UTOPIAS E CATÁSTROFES: (IR)REVERSIBILIDADES DO TEMPO
Tucídides e a Peste de Atenas, ou da (in)utilidade e (des)valia da história: os modos humanos, a (des)memorização e o (ir)reconhecimento dos acontecimentos
Francisco Murari Pires
A imaginação utópica e o lugar da catástrofe
Iara Lis Schiavinatto
Ruy Guerra e a política: vida e arte
Vavy Pacheco Borges


20 de outubro (9h.) - 4a feira
5. FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO: ESCRITA E EXPRESSÃO DE SI
Devenir de la parole et de l'écoute dans la condition visible
Claudine Haroche
O equívoco epistolar, o encontro sempre adiado – algumas notas ao redor da correspondência de Mário de Andrade
Joana Muylaert
Linguagens da perplexidade e jogos de subjetivação: a persona, a máscara, o duplo, infinitos desdobramentos
Jacy Seixas


20 de outubro (14h.)
6.DESCONCERTOS DA LINGUAGEM: TENSIONAMENTOS DA SUBJETIVAÇÃO
Sur les nouvelles manières de fluer du langage et leurs enjeux éthiques et politiques à l'ère du capitalisme flex-réticulaire
Pascal Michon
Cinema e história: convenções, imagens e referencialidades nas produções de gênero e sexualidade
Karla Bessa
Vertigens da política: sobre as experiências de Flávio de Carvalho
Daniel Faria


21 de outubro (9h.) - 5a feira
7. SEDUÇÕES DA LINGUAGEM: DIMENSÕES JURÍDICAS E HISTÓRICAS
Tramas e programas de um político: Getúlio Vargas e o reformismo social (1950)
Jefferson Queler
Em tempos do indefensável [ou] In our time, political speech and writing are largely the defense of the indefensible (George Orwell)
Elizabeth Cancelli
Dimensions juridiques contemporaines des langages du politique
Geneviève Koubi


21 de outubro (14h.)
8. ÉTICA, POLÍTICA, RELIGIOSIDADE: ENTRE RAZÃO, VONTADE E PAIXÃO
A arqueologia de uma biografia: Louis-Lèger Vauthier e os socialistas românticos franceses
Cláudia Poncioni
Um outro mundo possível: cultura de paz em Gandhi e Tolstoi
Christina Lopreato
A vontade na política – entre o tempo histórico e o tempo sagrado
Marion Brepohl


22 de outubro (9h.) - 6a feira
BALANÇO E AVALIAÇÃO DO COLÓQUIO


Realização: Núcleo História e Linguagens Políticas: razão, sentimentos e sensibilidades e Núcleo de Estudos e Pesquisa em História Política – NEPHISPO-UFU.


UFU- Campus Santa Mônica
Uberlândia- Minas Gerais
Fonte: http://www.nephispo.inhis.ufu.br/_sgg/m3_1.htm


AGRADECIMENTOS


Gostaríamos de agradecer ao Fabrício Monteiro; Nildo Avelino e Brujo Tavares, por terem enviado os seus trabalhos para edição especial de 10 anos do “Eidos”. A todos, muito obrigado por terem atendido o nosso pedido de forma tão solícita.


CONTATOS


Fernanda Caroline de Melo Rodrigues: fernandaanarquista@yahoo.com.br
Thiago Lemos Silva: thiagobakunin@yahoo.com.br

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