sábado, 13 de junho de 2009

EIDOS INFO-ZINE # 17

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Editorial

Caros Amigos,


No seu número 17, o Eidos traz a publicação de um excerto do livro “Anarco-Sindicalismo (teoria y prática)” de autoria de Rudolf Rocker, onde este anarquista analisa a idéia de conselhos operários, procurando mostrar a sua filiação libertária. Traz também um artigo de Marcolino Jeremias apresentando uma breve síntese da vida e obra do historiador Edgar Rodrigues, que faleceu recentemente e deixou uma profunda tristeza nos meios anarquistas. Logo em seguida tem o artigo de Fernanda Caroline de Melo Rodrigues, que discute a relação aluno-professor a partir das questões suscitadas pelo problema do chamado “fracasso escolar”. Além destes trabalhos, o Eidos apresenta uma resenha de L.G.S. sobre o brilhante livro que Alexandre Samis publicou a respeito da biografia histórica de Neno Vasco. E mais... notícias libertárias.

Boa leitura e anarquizem!

Contatos

Fernanda Caroline de Melo Rodrigues: fernandaanarquista@yahoo.com.br
Thiago Lemos Silva: thiagobakunin@yahoo.com.br



A idéia de conselhos operários


Esta nova e frutífera idéia brotou do reconhecimento de que toda nova forma de vida econômica deve ser acompanhada de uma nova forma política de organização social, e somente assim pôde chegar a ter expressão prática. Por conseguinte, o socialismo deveria ter também uma forma especial de expressão política por meio da qual pudesse se transformar em uma coisa real, e acreditaram ter encontrado essa expressão em um sistema de conselhos operários. Os países latinos, que é onde a Internacional encontrou maior apoio, desenvolveram seu movimento com base na luta econômica e nos grupos de propaganda socialista, trabalhando segundo a orientação dada pelo congresso da Basiléia em suas resoluções.
Como viam no estado apenas o agente político e o defensor das classes possuidoras, não se esforçaram para a conquista do poder político, já que viam neste, com um instinto certeiro, a condição prévia indispensável para toda opressão e exploração. Quer dizer, não optaram por imitar as classes burguesas, nem organizaram um partido político que preparasse o terreno para uma classe de políticos profissionais cuja meta fosse a conquista dos poderes do governo. Entendiam eles que ao mesmo tempo em que o monopólio da propriedade fosse destruído, o monopólio do poder também o deveria, com o objetivo de dar rosto completamente novo à vida social. Partindo da convicção de que o domínio do homem sobre o homem havia terminado, buscavam uma maneira de se familiarizar com a administração das coisas. E por esse motivo, opuseram a política estatal dos partidos, a política econômica dos trabalhadores. Acreditavam que a reorganização da sociedade segundo um modelo socialista, devia ser levado a cabo por meio dos diversos ramos industriais e agrários da produção. Desta visão nasceu a idéia de conselhos operários.
Essa é a mesma idéia em que se inspiraram os vastos setores do proletariado russo da indústria e do campo nos começos da Revolução, por mais que nunca tenha sido tão clara e sistematicamente concebida o quanto foi nas sessões da Primeira Internacional. Mas o bolchevismo pôs bruscamente fim a esta fecunda idéia, pois a ditadura do proletariado se coloca em uma contradição irreconciliável com a concepção construtiva dos conselhos operários, quer dizer, com a reconstrução socialista da sociedade pelos próprios produtores. A tentativa de combinar as duas coisas pela força, tem tido como resultado essa burocracia sem alma, que se revelou tão desastrosa para a revolução na Rússia. O sistema de conselhos não tolera nenhum tipo de ditadura, pelo fato de ambos se embasarem em conceitos diametralmente opostos. Ele implica a vontade nascida dos debaixo, a iniciativa criadora das massas laboriosas. Sob a ditadura, em troca, só existe a vontade estéril que parte dos de cima, que não consente a atividade criadora e que proclama a submissão cega como lei suprema para todos. Ambos não podem coexistir. Na Rússia a ditadura saiu vitoriosa. Desde então não existe mais sovietes naquele país. Tudo o que sobrou deles é o nome e uma espantosa caricatura da sua significação inicial.
O sistema de conselhos do trabalho abarca uma grande parte das formas econômicas empregadas por um socialismo construtivo, que opera por acordo próprio e da à produção o que é necessário para atender todas as demandas da vida... Mas a ditadura é herança da sociedade burguesa, do tradicional jacobinismo francês, que foi levado ao movimento proletário pelos chamados babouvistas e que mais adiante foi tomado por Marx e seus discípulos. A do sistema de conselhos operários está intimamente vinculada em seu desenvolvimento com o socialismo e não se concebe sem este. Em troca, a ditadura nada tem a ver com o socialismo e não pode senão conduzir ao mais estéril capitalismo de Estado.
A ditadura é uma forma definida do poder estatal: o Estado em estado de sítio. Como todos os defensores da idéia do Estado, os da ditadura partem do princípio de que todo o suposto progresso e toda atenção de cada necessidade temporal devem ser impostas ao povo de cima. Este mesmo ponto de partida faz que a ditadura seja o maior obstáculo a revolução social, que necessita, para se realizar, da livre iniciativa e a atividade construtiva do povo. A ditadura é a negação do desenvolvimento orgânico, da estruturação natural efetuada de baixo para cima, é a proclamação da menoridade do povo trabalhador, de uma tutela imposta às massas por uma exígua minoria. Mesmo que seus defensores estejam imbuídos dos melhores propósitos, a lógica férrea dos fatos os conduzirá inevitavelmente ao terreno do mais extremo despotismo, a esse propósito a Rússia nos mostra o exemplo mais claro. E a suposição de que a denominada ditadura do proletariado é algo diferente porque se trata da ditadura de uma classe, não a ditadura de indivíduos, não merece sequer refutação, pois não é mais que um truque sofístico para despistar bobos. É absolutamente inconcebível, qualquer coisa semelhante, a uma ditadura de classe, pois sempre irá supor a ditadura exercida por um determinado que se atribui a faculdade de falar em nome de uma classe, da mesma maneira que a burguesia tratava de justificar todo procedimento despótico em nome do povo.
A idéia de fundar um sistema econômico de conselhos operários foi o contraponto prático do conceito de ditadura do proletariado... Os campeões desta idéia na Primeira Internacional compreenderam que a igualdade econômica é inconcebível sem a liberdade política, em virtude disso estavam firmemente persuadidos de que a liquidação de todas as instituições do poder político deve ser a primeira tarefa da revolução social, tornando impossível qualquer forma de opressão. Acreditavam que a Internacional dos Trabalhadores estava destinada a agrupar gradualmente a todos os autênticos trabalhadores em suas filas, e derrubar ao mesmo tempo o privilégio econômico das classes possuidoras e também todas as instituições políticas coercitivas do Estado capitalista, para substituí-las por uma nova ordem de coisas.

Rudolf Rocker.


Excerto de Rocker, Rudolf. Anarco Sindicalismo (teoria y prática) Barcelona: Ediciones Picazo, 1978, p.33-34. Livre tradução de Thiago Lemos Silva. Disponível em:(http://www.scribd.com/doc/2318063/Rocker-Rudolf-Anarcosindicalismo-teoria-y-practica)




Em Forma De Despedida – Síntese Sobre A Vida E Obra De Edgar Rodrigues


Antônio Francisco Correia, que utilizava o pseudônimo de Edgar Rodrigues, nasceu em Angeiras, ao norte da cidade de Matosinhos, distrito do Porto (Portugal), em 12 de março de 1921, filho de Manuel Francisco Correia e Albina da Silva Santos.
Seu pai era militante anarco-sindicalista e participava do “Sindicato das Quatro Artes”, filiado à Confederação Geral do Trabalho (C.G.T.) e à Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T.), envolvendo vários ofícios da construção civil de Matosinhos. Seus primos, Armindo da Silva Sarilho e Manuel Sarilho, também pertenciam ao Sindicato.
No final de 1933, esse sindicato foi obrigado a fechar sua sede oficial por causa da repressão da ditadura militar comandada por Antônio Oliveira Salazar. Parte do seu acervo cultural foi guardado na casa da família de Manuel Francisco Correia, onde também passou a realizar-se reuniões noturnas de sua diretoria clandestinamente.
O garoto Antônio Francisco Correia, atrás da porta, escutava com muita curiosidade tudo o que era conversado naquelas reuniões.
Em 1936, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (P.V.D.E., depois P.I.D.E.), invadiu de madrugada a moradia de Manuel Francisco Correia e o prendeu.
Antônio Francisco Correia foi várias vezes visitar o seu pai no presídio da polícia política, durante as dez semanas em que ele esteve preso, sem nenhum processo ou julgamento. Quando Manuel Francisco Correia foi solto, foi punido mais uma vez ao ser despedido do seu emprego, o que fez a família passar por uma situação econômica muito difícil.
Dois anos depois, Correia (como era chamado pelos mais próximos) escreveu seu primeiro artigo para o diário “Primeiro de Janeiro” (Porto), mas não foi publicado por causa da censura. Nessa mesma época, já havia começado a escrever os rascunhos que formariam seu primeiro livro.
No dia 1º de maio de 1939, Antônio Francisco Correia e alguns amigos faltam ao serviço como forma de protesto (nessa época era proibido manifestar-se no 1º de maio) e reúnem-se para reafirmar as origens anarquistas dessa data, que é um marco universal.
No dia 1º de março de 1940, filia-se ao Grupo Dramático Flor da Mocidade (teatro amador), de Santa Cruz Bispo, município de Matosinhos, onde conhece Ondina dos Anjos da Costa Santos, que foi sua companheira por toda a vida. Também fez parte da diretoria do Grupo Dramático Alegres de Perafita, onde conheceu o histórico militante anarquista José Marques da Costa.
Em setembro de 1946, o anarquista Luis Joaquim Portela e mais cinco presos políticos fogem da Fortaleza de Peniche. Dois anos depois, Antônio Francisco Correia conhece pessoalmente Luis Portela (1) na clandestinidade e ajuda o companheiro a obter documentação falsa, porém, devido uma delação Luis Joaquim Portela é preso novamente (2).
No dia 19 de julho de 1951, Antônio Francisco Correia conhece pessoalmente o notório escritor anticlerical Tomás da Fonseca e, no dia seguinte, para fugir da perseguição política da ditadura portuguesa, embarca para o Brasil.
Assim que chegou ao Rio de Janeiro, conheceu os companheiros: Roberto das Neves, Manuel Perez, Giacomo Bottino, Ida Bottino, Germinal Bottino, Pascoal Gravina, José Romero, Ondina Romero, Angelina Soares, Diamantino Augusto, José Oiticica, João Peres Bouças, Carolina Peres, Ideal Peres, Afonso Vieira e outros...
A pedido dos dois últimos entregou um texto de sua autoria sobre a ditadura em Portugal, que foi publicado no jornal anarquista Ação Direta (3) e logo estava participando do grupo editor do mesmo. Em seguida, com a ajuda de companheiros como Enio Cardoso, Domingos Rojas e Benjamim Cano Ruiz (entre outros), passou a publicar também textos na imprensa libertária internacional e adotou o pseudônimo de Edgar Rodrigues (4).
Entre os dias 9 e 11 de fevereiro de 1953, participou de um encontro anarquista brasileiro, na residência de José Oiticica, onde conheceu outros militantes ácratas que atuavam em São Paulo: Edgard Leuenroth, Adelino Tavares de Pinho, Lucca Gabriel, Osvaldo Salgueiro e outros... Nesse período, também conheceu pessoalmente o escritor e jornalista espanhol Victor Garcia (Tomás-Germinal Gracia Ibars), o poeta e escritor romeno Eugen Relgis e o companheiro paraguaio Ceríaco Duarte.
Publicou seu primeiro livro “Na Inquisição do Salazar” em maio de 1957, pela Editora Germinal, de Roberto das Neves. Tornou-se membro da Sociedade Naturista Amigos de Nossa Chácara (S.N.A.N.C.) (5).
Em 7 de março de 1958, por iniciativa do Grupo Libertário Fábio Luz (6), foi fundado o Centro de Estudos Professor José Oiticica (C.E.P.J.O.), em homenagem ao recém-falecido José Oiticica (22-07-1882 – 30-06-1957), com o propósito de continuar a prolífera obra do valoroso companheiro. O grupo que assinou a ata de fundação do C.E.P.J.O. era composto por: Edgar Rodrigues, Afonso Alves Vieira, Ideal Peres, Esther de Oliveira Redes, Seraphim Porto, Manuel dos Santos Ramos, Francisco de Magalhães Viotti, Germinal Bottino, Fernando Gonçalves da Silva, Pedro Gonçalves dos Santos, Roberto Barreto Pedroso das Neves, Enio Cardoso e Raul Vital (Atayde da Silva Dias).
Entre as atividades do C.E.P.J.O., constavam conferências, cursos e leituras comentadas sobre arte, política, história, vegetarianismo, psicologia, teatro, cinema, literatura, geografia, sociologia e anarquismo. Os convites para as atividades eram feitos na imprensa diária. O Centro também promoveu, em conjunto com outros grupos, comícios do movimento estudantil e uma campanha pela libertação e asilo político do espanhol anarquista José Comin Pardillos.
Outra iniciativa do C.E.P.J.O. foi a criação da Editora Mundo Livre que publicou os seguintes livros anarquistas: “O Retrato da Ditadura Portuguesa” de Edgar Rodrigues (1962), “A Doutrina Anarquista ao Alcance de Todos” de José Oiticica (2ª Edição - 1963), “Anarquismo – Roteiro de Libertação Social” de Edgard Leuenroth (1963), “O Humanismo Libertário e a Ciência Moderna” de Pedro Kropotkine (1964) e “Erros e Contradições do Marxismo” de Varlan Tcherkesoff (1964).
O Centro de Estudos Professor José Oiticica teve uma atuação anarquista durante doze anos (cinco deles sob a repressão da ditadura militar brasileira, 1964-1985), até ser invadido, assaltado e fechado pelas forças armadas (7). As prisões começaram no dia 8, e continuaram nos dias 9, 10, 15 e 21 de outubro de 1969.
Entre os presos, acusados e denunciados estavam: Edgar Rodrigues, Pietro Michele Stefano Ferrua, Ideal Peres, Antonio Costa, Fernando Gonçalves da Silva, Manoel dos Santos Ramos, Paulo Fernandes da Silva, Roberto Barreto Pedroso das Neves, Eli Briareu de Oliveira, Mário Rogério Nogueira Pinto, Antonio Rui Nogueira Pinto, Maria Arminda Sol e Silva, Antonio da Silva Costa, Elisa da Silva Costa, Roberto da Silva Costa e Carlos Alberto da Silva. Foram impronunciados: Michelangelo Privitera e Esther de Oliveira Redes (8).
Militantes anarquistas anônimos (pela conjuntura política da época) de São Paulo e de outras partes do Brasil contribuíram financeiramente com os gastos judiciais, numa grande demonstração de solidariedade libertária. O processo durou até 30 de novembro de 1971.
No mesmo período em que foi vítima desse processo militar, Edgar Rodrigues iniciou, numa atitude pioneira, a publicação de livros resgatando a história do movimento anarquista no Brasil (9), e posteriormente, a história do movimento libertário português (10).
Edgar Rodrigues escreveu 62 livros (entre 1957-2007) publicados, sobretudo, no Brasil e em Portugal, mas também na Itália, Venezuela e Inglaterra (alguns na terceira edição).
Por volta de 1976, participou junto com a companheira Elvira Boni, do documentário “O Sonho Não Acabou” de Cláudio Khans, exibido algumas vezes na televisão e em eventos libertários.
Colaborou com o jornal anarquista O Inimigo do Rei enquanto ele existiu (1977-1988) e também escreveu mais de 1760 artigos na imprensa de 15 países, entre eles: Voluntad (Uruguai), Solidaridad Obrera (França), A Batalha (Portugal), El Libertario (Cuba), Tierra y Libertad (México/Espanha), El Sol (Costa Rica), C.N.T. (França), La Protesta (Argentina), Solidaridad Gastronómica (Cuba), L’Adunata Dei Refrattari (Estados Unidos), Ruta (Venezuela), Reconstruir (Argentina), Voz Anarquista (Portugal), El Libertario (Venezuela) e muitos outros.
Entre abril-maio de 1986, participou do congresso pela reorganização da Confederação Operária Brasileira (C.O.B.), na sede do Centro de Cultura Social de São Paulo, na rua Rubino de Oliveira, número 85, Brás.
Em 21 de agosto de 1986, foi um dos sócios-fundadores do arquivo Círculo Alfa de Estudos Históricos (C.A.E.H.) juntamente com: Nito Lemos Reis, Antonio Martinez, José Carlos Orsi Morel, Jaime Cubero, Francisco Cuberos, Felix Gil Herrera, Liberto Lemos Reis, Fernando Gonçalves da Silva e Ideal Peres (11).
Nesse arquivo deixou boa parte dos materiais de estudo (livros, jornais, fotos, cartas, atas, memórias manuscritas e demais documentos, muitos deles cópias únicas) que reuniu durante toda uma vida dedicada ao resgate da trajetória das atividades anarquistas no Brasil e no Mundo. Conseguiu todo esse acervo visitando velhos companheiros anarquistas, convencendo-os a escreverem suas memórias, entrevistando-os, tendo correspondência com eles, comprando e conseguindo doações desses materiais com militantes históricos do movimento (novamente numa iniciativa pioneira para seus contemporâneos), tais como: Joaquim Fernandes, Manuel Lopes, Luís Saturnino, Manuel Perez, Ideal Peres, José Marques da Costa, José Francisco dos Passos, João Perdigão Gutierrez, Manuel Marques Bastos, Pedro Catallo, João Navarro, Adriano Botelho, Elias Iltchenco, entre outros... (12)
Não obstante, o sofrido esforço de Edgar Rodrigues para adquirir esses materiais e todos os riscos que enfrentou durante a ditadura militar para preservar esses documentos, os membros remanescentes do Círculo Alfa de Estudos Históricos, na pessoa de José Carlos Orsi Morel, trocou as fechaduras do imóvel do arquivo, localizado na rua Gonçalves Dias, número 220, no bairro do Brás (São Paulo), impedindo que Edgar Rodrigues tivesse acesso ao arquivo, para logo em seguida, numa manobra obscura, expulsá-lo da entidade sem direito à defesa, demonstrando uma atitude completamente antagônica com os princípios anarquistas e os conceitos básicos de justiça.
Em abril de 2002, Rute Coelho Zendron fez “Um Estudo Sobre Edgar Rodrigues” pela P.U.C., que virou um interessante vídeo documentário sobre a vida e obra de Edgar Rodrigues (13).
Edgar Rodrigues faleceu na noite de 14 de maio de 2009 (quinta-feira), na sua residência, no bairro do Méier (Rio de Janeiro), devido uma parada respiratória. Deixa esposa, filhos, netos, uma vasta obra anarquista para ser estudada e um grande exemplo a ser seguido.

Marcolino Jeremias



Notas

(1). Ambos tinham trocado correspondência entre 1932-1937, enquanto Luis Joaquim Portela estava preso.

(2). Em 10 de setembro de 1952.

(3). “Fala Um Operário Português” foi o primeiro artigo publicado por Antônio Francisco Correia, o texto saiu no jornal Ação Direta (Rio de Janeiro), número 80, em maio/junho de 1952.

(4). Antônio Francisco Correia também chegou a escrever usando pseudônimos como Varlin, Zola e outros...

(5). A Sociedade Naturista Amigos de Nossa Chácara foi registrada em 9 de novembro de 1939, e o grupo que iniciou o trabalho de construção dela era composto por: Germinal Leuenroth, Nicola D’Albenzio, Virgilio Dall’Oca, Justino Salgueiro, Salvador Arrebola, Antônio Castro, João Rojo, Benedito Romano, José Oliva Castillo, Roque Branco, Antônio Valverde, Cecílio Dias Lopes e Lucca Gabriel. A Nossa Chácara/Nosso Sítio foi uma iniciativa essencial para a reorganização do movimento anarquista no Brasil, após o final da ditadura de Getúlio Vargas, e foi palco de importantes congressos e encontros libertários entre 1948 até o final dos anos sessenta.

(6). O Grupo Libertário Fábio Luz (depois Grupo de Ação Libertária), formado por militantes como: Edgar Rodrigues, Seraphim Porto, Roberto das Neves, Enio Cardoso e Afonso Vieira, existiu entre a morte de José Oiticica e a fundação do Centro de Estudos Professor José Oiticica. Com o passar do tempo após a fundação do Centro, o Grupo Libertário foi absorvido pelo C.E.P.J.O.

(7). Os militares também invadiram moradias, escritórios profissionais, a Editora Germinal e roubaram centenas de pertences desses locais.

(8). Edgar Rodrigues ajudou a esconder Esther de Oliveira Redes num sítio em Jacarepaguá, e através de troca de serviços “comprou” o impronunciamento dela e retirou vários documentos do processo que poderiam comprometer outros companheiros.

(9). Entre os livros clássicos de Edgar Rodrigues que resgatam a história do movimento anarquista no Brasil, estão: Socialismo e Sindicalismo no Brasil (1675-1913) de 1969, Nacionalismo e Cultura Social (1913-1922) de 1972, Trabalho e Conflito (1900-1935) de 1977 e Novos Rumos – Pesquisa Social (1922-1946) de 1978.

(10). Os principais livros de Edgar Rodrigues que refazem a trajetória dos anarquistas em Portugal são: O Despertar Operário Em Portugal (1834-1911) de 1980, Os Anarquistas e os Sindicatos Em Portugal (1911-1922) de 1981, A Resistência Anarco-Sindicalista à Ditadura (1922-1939) de 1981 e A Oposição Libertária em Portugal (1939-1974) de 1982.

(11). Esther de Oliveira Redes não assinou a ata de fundação, mas esteve presente nas reuniões e contribuía para a manutenção do arquivo até comunicar seu desligamento do mesmo.

(12). Conseguiu com Sônia Oiticica, por exemplo, cartas de quando seu pai José Oiticica, esteve preso na Ilha Rasa (Rio de Janeiro) entre 1924-1925.

(13). Outros estudos acadêmicos sobre Edgar Rodrigues foram feitos, entre eles, constam-se: a tese “Edgar Rodrigues: I Tempi e Le Opere” de Marco Mazzeo, Universidade de Nápoles/Itália (2005) e o trabalho de pós-doutorado (monografia) “A Sementeira de Idéias – Edgar Rodrigues Uma Vida Dedicada A Memória Anarquista”, de Anna Gicelle Garcia Alaniz, para a Faculdade de Educação da Unicamp (2008).




Para além de culpados e inocentes: algumas reflexões sobre as relações entre aluno e professor sob a perspectiva do fracasso escolar


No decorrer das aulas de Contextos Educacionais (disciplina do curso de psicologia), pude vivenciar uma prática de observação que me colocou diante de algumas questões que me levaram a refletir sobre as possíveis causas do fracasso escolar.
A instituição escolar que visitei apresentava uma infra-estrutura de ótima qualidade. Uma vez que a mesma continha ambientes espaçosos, desde a área de alimentação até aquela em que os educandos praticam atividades físicas e esportivas. Além do mais, a referida escola, por ser de dois andares, ao invés de fazer uso de escadas, optou por rampas. Fato este considerado de suma importância, já que assim a presente instituição tem condições de incluir aqueles alunos que fazem uso de cadeira de rodas.
Partindo para a observação, propriamente dita, a aula que presenciei foi a de matemática. A mesma se iniciou a partir de uma correção de exercícios. Desse modo, o professor utilizou como principal recurso metodológico o quadro de giz e o livro didático (o qual grande parte dos alunos o possuía). No decorrer da aula eram sempre os mesmos alunos que respondiam as questões que eram propostas pelo professor. Quanto aos demais escolares, os mesmos pareciam dispersos e se inquietavam por qualquer motivo (a chamada feita pelo professor, a comunicação das notas semestrais, por exemplo).
Percebi também que o desinteresse por parte do professor em fazer uso de recursos didáticos que chamassem a atenção dos alunos e, ao mesmo tempo, fossem condizentes com o contexto em que esses escolares se encontram inseridos (apenas no final da aula, ao iniciar um novo conteúdo é que o professor apontou exemplos do cotidiano para explicar a teoria da probabilidade). Nessa mesma direção também é pertinente afirmar que os educandos também se mostravam, de uma forma geral, desinteressados, alheios ao conteúdo ensinado.
Mas, por que os escolares pareciam desinteressados? Seria, em virtude, da forma como o professor conduzia sua aula? Os seus recursos metodológicos? Da mesma forma, também devemos nos indagar, o porquê da falta de motivação por parte do professor. Seriam as altas e exaustivas jornadas de trabalho? Os parcos salários que o mesmo recebe? A insuficiente e precária valorização que os nossos governantes oferecem a ele? Pois, conforme a própria palavra de tal professor aquela turma era “a pior da escola”.
Na direção de tais preocupações, este trabalho tem como objetivo tecer algumas reflexões acerca das possíveis causas do fracasso escolar, tomando como ponto de partida o referencial teórico-conceitual da psicologia e em especial da psicologia escolar.
Como se sabe, a psicologia irá se sistematizar enquanto ciência no decorrer do século XIX. Século este marcado pela ascensão do capitalismo, de uma nova classe social (a burguesia), e também de ideologias liberais. Como diria um chavão para historiadores, cuja autoria geralmente é destinada a Lucien Febvre, “toda filosofia é filha de seu tempo”. Sendo assim, não foi nada fortuito a psicologia ter nascido justamente sob a égide do liberalismo. Mas, o que vem a ser tal ideologia?


O liberalismo, como visão de mundo, está fundamentado na idéia de que cada homem é um ser moral, possuidor de direitos inalienáveis, que lhe são dados pela sua própria condição de homem. Dotado de potencialidades, o homem deve ser livre para desenvolvê-las. Daí a decorrência da valorização do individualismo em detrimento do reconhecimento da totalidade social. (BOCK, 2000, p. 18).




A partir dessa visão de mundo e de homem o liberalismo tenta camuflar a realidade social, na medida em que constrói a idéia de um ser humano a priori (naturalizada) e que seria através de seus próprios esforços é que o mesmo conseguiria “progredir”, “evoluir” (aqui também é perceptível a influencia do positivismo).
Através dessa perspectiva que a psicologia e, de um modo especial, a psicologia escolar irão criar possíveis argumentos quanto ao fracasso escolar, durante o final do século XIX e até o final da década de 70 do século XX. Em outras palavras:


A história das explicações do chamado “fracasso escolar” das crianças das classes populares é feita de uma seqüência de idéias que, em linhas gerais, pode ser assim resumida: na virada do século, explicações de cunho racista e médico; a partir dos anos trinta, até meados dos anos setenta, as explicações de natureza biopsicológica – problemas físicos e sensoriais, intelectuais e neurológicos, emocionais e de ajustamento; dos primeiros anos da década de setenta até recentemente (mais ainda predominante nos meios escolares), a chamada teoria da carência cultural [...] (PATTO, 1992, p.108).


Seguindo ainda o raciocínio de Patto (1992), no mundo da “carreira aberta ao talento” venceriam os “mais aptos”, afirmava o darwinismo social: nesta linha argumentativa, diferenças individuais ou grupais de capacidade estariam por trás das diferenças sociais. Ora, é com este olhar que devemos compreender o fato de que a psicologia ao analisar o fracasso escolar se voltava para questões naturais e biológicas. Assim, o problema sempre se encontrava no indivíduo e não em um contexto social e histórico maior. Nesse sentido, a psicologia, juntamente com suas teorias, será um instrumento ideológico imprescindível para que o capitalismo criasse e elaborasse justificativas a fim de explicar as desigualdades sociais. Desse modo, “a única pergunta possível ao psicólogo refere-se a “porque os indivíduos não aprendem”, apontando para uma ausência de compromisso da Psicologia com a condição multideterminada das circunstâncias nas quais os indivíduos se humanizam” (MEIRA & TANAMACHI, 2003, p.15).
Somente na década de 80 do século XX, é que uma série de críticas vai se delinear em relação ao que foi dito anteriormente. Propondo, assim, novas compreensões para o fracasso escolar, das supostas classes economicamente “desfavorecidas” e, ao mesmo tempo, uma nova inserção do psicólogo no interior do espaço escolar.
Assim, uma concepção crítica da psicologia escolar rompe com o determinismo histórico ao enfatizar a idéia de que não existe um homem a priori, unilateral. Pelo contrário, esses homens e mulheres irão se constituir a partir de suas relações/interações sociais. Ou seja, o contexto histórico em que esse indivíduo se encontra inserido tem muito a dizer sobre o mesmo. Sendo assim, estamos nos reportando a uma visão sócio-histórica, onde se incorpora uma perspectiva de:


[...] homem histórico, isto é, um ser constituído no seu movimento: constituído ao longo do tempo, pelas relações sociais, pelas condições sociais e culturais engendradas pela humanidade. Um ser que tem características forjadas pelo tempo, pela sociedade e pelas relações (BOCK, 2000, p.24).



Na direção de tais preocupações, o fracasso escolar não pode ser entendido apenas do ponto de vista individual, isto é, culpabilizando tão somente o escolar ou tão somente o professor. Uma vez que, o fracasso escolar é fruto de um contexto social maior que perpassa por relações de uma ordem e de uma dimensão que vão além do aluno e do professor. Pois, o processo de ensino-aprendizagem deve de se tornar inteligível a partir de uma concepção teórica que:


[...] nos permita analisar o processo de escolarização e não os problemas de aprendizagem desloca o eixo da análise do indivíduo para a escola e o conjunto de relações institucionais, históricas, psicológicas, pedagógicas que se fazem presentes e constituem o dia-a-dia escolar. Ou seja, os aspectos psicológicos são parte do complexo universo da escola, encontrando-se imbricados nas múltiplas relações que se estabelecem no processo pedagógico e institucional nele presentes. Tal concepção rompe com as explicações tradicionais sobre o fracasso escolar, mudando o foco do olhar de aspectos apenas psicológicos para a análise do individuo e suas relações institucionais (PROENÇA, 2002, p. 192).




Através dessas novas abordagens, o processo de ensino-aprendizagem deve ser encarado levando-se em consideração uma análise dialética e multifatorial. Dialética, porque se estamos nos referindo ao ensino-aprendizagem, estamos nos aludindo a respeito de algo que ocorre de forma recíproca e mútua, onde tanto o educando como também o educador são responsáveis pelo fracasso ou pelo sucesso de tal pressuposto. Multifatorial, por sua vez, porque como já foi salientado o “problema” deve ser deslocado do indivíduo para um contexto maior, que englobe o político, o social, o econômico, o projeto político pedagógico da escola, dentre outros. É nesse sentido, que se torna possível falar em processo de escolarização, em detrimento de problemas de aprendizagem. Uma vez que, os supostos “problemas de aprendizagem” sempre foram usados como um instrumento ideológico pelas classes dominantes, a fim de mascarar e camuflar a realidade social brasileira. Logo:



[...] os problemas de aprendizagem incidem maciçamente sobre as crianças das classes populares, e é sobre elas que durante décadas recaem as explicações a respeito dos chamados problemas de aprendizagem: ou porque apresentam problemas psicológicos, biológicos ou, mais recentemente, culturais. Além disso, analisa o caráter ideológico e repleto de equívocos presentes nessas explicações, resultado de concepções preconceituosas a respeito do pobre e da pobreza no Brasil (PROENÇA, 2002, p.193).


Portanto, cabe ao profissional de psicologia, em especial ao da psicologia escolar, colocar em voga essas novas concepções e, ao mesmo tempo, atribuir um novo sentido para o processo educacional no interior do espaço escolar. Contribuindo, dessa forma, para a formação e constituição de uma realidade social mais justa, digna e humana, onde as desigualdades sociais não sejam ignoradas e/ou camufladas. Mas, sim compreendidas para que os educandos de hoje, futuros adultos (conscientes) de amanhã, possam vir a criar possíveis alternativas de saná-las.

Fernanda Caroline de Melo Rodrigues


Referências:


ANTUNES, Mitisuko Aparecida Makino; MEIRA, Marisa Eugênia Melillo. Psicologia escolar: Práticas críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

BOCK, A. M. B. As influencias do Barão de Munchhausen na Psicologia da Educação. In: TANAMACHI, E.; PROENÇA, M.; ROCHA, M. Psicologia e educação: desafios teórico-práticos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.p.11-31.

PATTO, M.H.S. A família pobre e a escola pública: anotações sobre um desencontro. Psicologia USP. São Paulo 3 (1/2), 1992. p.107-121.

SOUZA, M. P. R. Problemas de aprendizagem ou problemas de escolarização? Repensando o cotidiano escolar à luz da perspectiva histórico-crítica em psicologia. In: Trento, D. ; Kohl, M; Rego T.. (Org.). Psicologia, Educação e as Temáticas da Vida contemporânea. 1 a. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2002. p.177-196.



Resenha de Minha Pátria é o Mundo Inteiro Neno Vasco, o Anarquismo e o Sindicalismo Revolucionário em dois mundos, de Alexandre Samis, Letra Livre, Lisboa, 2009, 455 págs.

Depois da reedição (fac-similada) de O Socialismo Libertário ou o Anarquismo, de Silva Mendes, a primeira obra teórica de vulto sobre anarquismo que se publicou em Portugal, «Letra Livre» dá-nos agora a biografia de uma das grandes figuras do anarquismo luso-brasileiro, tanto do ponto de vista intelectual como do de actividade militante e, acima de tudo, como exemplo de exigência ética. Este laborioso trabalho de pesquisa empreendido por Alexandre Samis procurou, para além duma exaustiva pesquisa sobre a vida e obra do biografado, situar essa vida nas condições económicas, políticas, sociais e intelectuais da sua época, tanto em Portugal como no Brasil e, em menor medida, no resto do mundo. Neno Vasco que nasceu em Penafiel (1887), foi aos 9 anos com o pai e a madrasta para S. Paulo, onde se demorou cerca de dois anos, quando o Brasil ainda era uma monarquia, e regressou a Portugal para frequentar o liceu (Amarante) e o curso de Direito (Coimbra) onde se graduou em 1901. Em Dezembro desse mesmo ano voltou ao Brasil, já então uma República, onde desenvolveu a actividade militante que iniciara em Coimbra e no Porto. Aí constituiu família, regressando a Portugal em 1911, donde se ausentara no reinado de D. Carlos e que era então uma jovem República. Também aqui um interessante paralelismo entre a evolução política nos dois países. Em Portugal prosseguiu intensa militância, nomeadamente através de constante participação na imprensa operária e libertária. Veio a falecer de tuberculose, algum tempo depois da esposa, a 15 de Setembro de 1920. A sua actividade militante decorreu pois em partes iguais no Brasil e em Portugal, uma década em cada um deles, embora na realidade ele tivesse sempre mantido uma participação activa na imprensa portuguesa quando vivia no Brasil e na imprensa brasileira quando vivia em Portugal. Dificilmente poderia Alexandre Samis escolher melhor exemplo de militante luso-brasileiro. Mas talvez a faceta mais aliciante do livro seja a permanente correlação entre a vida, evolução ideológica e actividade militante de Neno Vasco e as circunstâncias históricas e o ambiente social em que a sua vida e acção decorreram. Essa recriação pormenorizada do meio implicou um enorme trabalho de investigação, com recurso às mais variadas fontes (jornalísticas, literárias, históricas, económicas, sociológicas, correspondência, etc.) que exigiu a consulta não apenas de arquivos nacionais de Portugal e Brasil mas também de arquivos estrangeiros. O carácter erudito desta obra, que foi a sua tese de doutoramento, não apaga a fluidez e vivacidade da biografia, que se lê de um fôlego com curiosidade e interesse constantes. À admiração e amizade que nos liga ao autor não podemos deixar de acrescentar também uma palavra de reconhecimento à Livraria «Letra Livre» por esta meritória iniciativa editorial.

L.G.S.



Notícias libertárias...


Mini-curso sobre anarquismo

Em meio as atividades que irão acontecer durante a Semana de História/X Encontro Regional de Professores de História do Triângulo Mineiro, de 22 a 26 de junho de 2009, na Universidade Federal de Uberlândia/ Campus Santa Mônica, Adonile Ancelmo Guimarães e Thiago Lemos Silva irão apresentar o mini-curso “NÃO SE DEIXAR REPRESENTAR... VIVER A AUTONOMIA: AÇÃO DIRETA E VIOLÊNCIA REVOLUCIONÁRIA NO PENSAMENTO ANARQUISTA”.
Obs. 1: o valor cobrado pela organização do evento para a inscrição do mini-curso é de três reais. As inscrições poderão ser feitas no site do evento: http://www.semanadehistoria.ufu.br/?conteudo=noticias.php.
Obs. 2: a data, o horário e o local ainda serão definidos pela organização do evento. Posteriormente, estas informações serão repassadas para aqueles que se inscreverem no mini-curso.




Prefeita de Patos de Minas corta o ponto de funcionários


Em virtude da paralisação dos funcionários públicos da Prefeitura de Patos de Minas no dia 07 de maio, a atual prefeita, Béia Savassi, cortou o ponto dos servidores que aderiram a greve. Ao pisotear em cima dos trabalhadores patenses, finalmente a prefeita mostrou a todos para quem realmente governa. Apesar do seu populismo demagógico, Béia Savassi está, como qualquer outro prefeito, governador ou presidente, alinhada com a elite. Esperamos que daqui pra frente os trabalhadores municipais tomem consciência disto. Como já dissemos na edição anterior, toda essa situação só confirma uma das verdades mais banais que existe, qual seja: os trabalhadores só podem obter as conquistas que são capazes de tomar! Portanto, ação direta neles!

Anarquista chileno é assassinado



O companheiro Juan Cruz, jovem anarquista de 28 anos, faz vários meses que junto a sua namorada solidarizava-se ativamente com a luta empreendida pelos comuneiros da zona autônoma de Temucuicui. Hoje de madrugada, foi assassinado em conseqüência de um covarde disparo na nuca e até o momento a "justiça" não deu conta de identificar os culpados; na imprensa do capital, inclusive, chegaram a afirmar que havia sido morto em uma simples briga depois de uma festa.
A verdade é que já faz vários dias que a Comunidade Autônoma de Temucuicui tem sido recorrentemente atacada por outros Mapuche portando armas de fogo. Juan, depois de participar no centro de Santiago, na terça-feira passada, de uma manifestação em apoio a seus irmãos e irmãs, decidiu viajar pela noite a Temucuicui devido a que sua companheira havia sido agredida junto a outras mulheres da comunidade (entre elas a esposa do preso político Jaime Huenchullán) e ameaçada de morte por MIJAIL CARBONE QUEIPUL: essa foi a última vez que tivemos contato com nosso companheiro Juan.
O Estado e suas forças repressivas apesar dos brutais enfrentamentos (que no ano passado eram mensais), do amedrontamento constante, da prisão e da delação, não haviam conseguido frear o processo de recuperação de terras levado adiante dignamente pelas e pelos comuneiros da Comunidade Autônoma de Temucuicui, o que se tornou patente na necessidade de mudar de estratégia: utilizar os Mapuche "institucionalizados" para fazer o trabalho sujo, dedicando-se somente a contemplar tranquilamente como uma parte deste povo assassina a outra que luta. JUAN CATRILLANCA, MIJAIL CARBONE QUEIPUL e o resto de mercenários da "Comunidade" Ignacio Queipul, foram às marionetes dos interesses da CONADI, do Estado Chileno e dos grandes latifundiários em uma das zonas mais intensas do conflito Mapuche. As ameaças de morte, os espancamentos, os ataques armados se repetiram por toda a semana, ainda que a polícia se faça de cega e quando se decidia atuar fazia em favor dos agressores. Não é difícil deduzir quem apertou o gatilho que assassinou o nosso irmão, os antecedentes estão à mão e a conclusão é evidente. A situação em Temucuicui se tornou insustentável, pelo que nossa ativa solidariedade se faz necessária hoje mais que nunca, já que este conflito criado pelo Estado e o Capital pode piorar ainda mais. De nós depende que isto não ocorra.

Por A.N. A - Agência de notícias libertárias.


Antônio Ozai publica livro sobre Maurício Tragtenberg

O livro “Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária”, de autoria de Antônio Ozai Silva foi publicado em 2008 pela Editora Unijuí. Segundo Walter Praxedes “O leitor tem em suas mãos um livro que representa um exercício de pedagogia crítica porque rememora para as gerações atuais e futuras o pensamento e a prática do pensador social, educador e ativista político Maurício Tragtenberg, reconhecido por sua atuação libertária nos processos educativos e políticos, tanto no sistema escolar formal, quanto nas redes de movimentos sociais, e sempre empenhado em trazer para o espaço burocrático administrado da universidade a concepção do conhecimento como projeto de emancipação; bem como em realizar uma intervenção política libertária que leve para o restante da experiência social os conhecimentos construídos na universidade. Ao discutir os vários momentos da trajetória pessoal, política e pedagógica de Maurício Tragtenberg, este livro torna explícita a intenção do autor em realizar uma possível continuidade para a pedagogia do exemplo proposta e praticada por Tragtenberg e experienciada diretamente por Antonio Ozaí da Silva, em uma demonstração de que nos processos investigativos e educativos não há sujeitos nem objetos, pois o outrora professor Tragtenberg, com sua ação pedagógica se transforma em tema de um estudo de um ex-orientando, atualmente professor, pesquisador e ativista empenhado em uma política cultural radical, e que através deste trabalho nos propicia uma espécie de sublimação da dor que sentimos com a perda daquele que consideramos o mestre Maurício Tragtenberg”.

Quem quiser adquirir o livro deve entrar em contato com: editorapedidos@unijui.edu.br


Medida judicial impede menores de Patos de Minas de sair após 11:00 da noite

Em Patos de Minas, depois de constatar aumento considerável das ocorrências de violência envolvendo menores de 18 anos, o juiz anunciou que a partir de 1º de junho os que não têm 16 anos estão proibidos de comparecer a lugares públicos depois das 11h da noite. Aqueles que têm entre 16 e 18 anos não podem frequentar bares, restaurantes e outros estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas, desacompanhados dos responsáveis. Os proponentes de tal medida acreditam, de forma equívoca, poder encontrar a resolução deste problema acreditando se tratar apenas de uma questão jurídica. Ora, os problemas jurídicos não existem de per si, como se estivesse desconectados dos problemas econômicos, políticos e culturais que existem em uma sociedade. Para remediar tal problema seria necessário analisar os “delitos” cometidos por estes jovens a partir de uma perspectiva mais integrada, que leve todos estes fatores em consideração, o que parece impossível para os juristas patenses que só conseguem enxergar as coisas a partir da visão estreita do Direito. Logo, a adoção de uma postura mais conseqüente os levaria aceitar a existência de problemas, sobretudo os de ordem econômica, que eles tentam esconder ou negar.

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