domingo, 31 de outubro de 2010

EIDOS INFO-ZINE # 26



SUMÁRIO:

POESIAS:

Casida del Sueño Al Aire Libre: Federico García Lorca

ARTIGOS:

Razão, Paixão e Anarquismo: Jaime Cubero

Voto ou Ação Direta: Liberdade da Lei Áurea ou de Palmares? : Federação Anarquista do Riode Janeiro (FARJ)

Mal estar no mundo do trabalho: Fernanda de Melo Caroline Rodrigues

“2 Militantes Anarquistas Brasileiros Morrem No Mesmo Dia!!!”: Marcolino Jeremias

NOTÍCIAS:

Declaração de princípios e intenções do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO), aprovada no Encontro Nacional de 2010, ocorido em Porto Alegre

Moção de apoio ao Movimento Estudantil da UFU

Etc…

POESIAS



















Casida del Sueño Al Aire Libre*

Flor de jazmín y toro degollado.
Pavimento infinito. Mapa. Sala. Arpa. Alba.
La niña finge un toro de jazmines
y el toro es un sangriento crepúsculo que brama.

Si el cielo fuera un niño pequeñito,
los jazmines tendrían mitad de noche oscura,
y el toro circo azul sin lidiadores,
y un corazón al pie de una columna.

Pero el cielo es un elefante,
y el jazmín es un agua sin sangre
y la niña es un ramo nocturno
por el inmenso pavimento oscuro.

Entre el jazmín y el toro
o garfios de marfil o gente dormida.
En el jazmín un elefante y nubes
y en el toro el esqueleto de la niña.

Federico García Lorca (1898-1936), poeta, teatrólogo e escritor espanhol

Notas:

*Originalmente publicado em: LORCA, Federico García. Obra poética completa. São Paulo: Martins Fontes, 1999


ARTIGOS

Razão, Paixão e Anarquismo*

    Em primeiro lugar, algumas definições sobre o que é ANARQUISMO. É necessário clarear alguns conceitos como anarquia, poder, governo e socialismo. Anarquia significa ausência de poder ou de autoridade constituída. Há uma diferença sutil no discurso, mas importante na realidade, entre poder político e poder social. O primeiro exerce o poder de coação: uma ou mais pessoas têm o poder de obrigar outras a fazer o que não desejam. Ocupam os governos do Estado, o KRATOS, o poder político no sentido grego, qualquer que seja a sua forma, teocracia, aristocracia, monarquia, oligarquia, democracia, em todas as suas instâncias. É contra este poder hipertrofiado nos Estados Nacionais modernos que os anarquistas lutam hoje. Os anarquistas sabem e todos os estudos históricos o demonstram que o exercício deste poder sempre corrompe seus detentores, que acabam exercendo-o em benefício próprio, de uma forma ou de outra, em diferentes graus, sempre em detrimento do povo.
    O outro poder, o poder social, é participado, exercido por todos nas decisões coletivas: o poder de uma assembléia de tomar decisões. Exemplo de proporções enormes foi o poder que tinha a CNT espanhola, com milhões de afiliados, durante a Guerra Civil, de decidir pela organização autogestionária e pelas experiências práticas do anarquismo durante a revolução. É o poder que é exercido por todos em qualquer prática autogestionária, nas decisões realmente coletivas.
    O termo Governo tem o sentido de autoridade diretora e o sentido restrito é o de governo político, centralizador do KRATOS social. Mas, por extensão, tem o sentido de gestão, organização, ordenamento. A expressão “desgoverno” (avião ou carro desgovernado) tem o sentido de desorganização e é análoga ao sentido pejorativo de anarquia. A proposta anarquista é pela organização e, neste sentido, pelo autogoverno, como sinônimo de autogestão.
    Não há expressão mais aviltada do que o termo SOCIALISMO. Assim como para a imensa maioria das pessoas é inconcebível as sociedades humanas se organizarem sem Estado, tal a desinformação, para a maioria das pessoas, socialismo passou a ser sinônimo de estatização. Intelectuais das mais variadas tendências, nas universidades, na imprensa escrita e em todos os meios de comunicação repetem a mesma pregação. Tudo o que se refere a socialismo passa pelo Estado.
    Quando dizemos que o anarquismo é antes de tudo sinônimo de socialismo, temos que dar um mínimo de clareza ao nosso conceito de socialismo: daí a expressão socialismo libertário. Socializar é tomar a propriedade e os instrumentos de trabalho, enfim toda a riqueza e o que a produz, disponível à sociedade, acabando com a exploração do homem sobre o homem. Mas, para o socialismo libertário, não basta socializar os bens materiais: é preciso socializar o saber, a informação e todos os bens culturais. Mas, o que é fundamental, jamais haverá socialismo se não fizer a socialização do poder – a primeira coisa a ser socializada é o poder, que começa com a autogestão das lutas. Destruir o poder político e fortalecer o poder social, eis o que significa autogestão, a real igualdade e liberdade em todo o processo de transformação.
    O anarquismo não é uma doutrina rígida, com artigos de fé, tábuas da lei, com profetas, com excomunhões, processos de heresia e sanções. É antes um conjunto de doutrinas e princípios cujos postulados básicos são convergentes, e que está sempre aberto a novas contribuições. Estes postulados básicos formam um fundo comum que, no amplo universo das múltiplas e alternativas atividades libertárias, são o anarquismo propriamente dito.
    O sentido de justiça e equidade, a revolta contra a exploração econômica do homem pelo homem e o combate ao Estado – com a consciência plena de que é a instituição que garante o regime de exploração e privilégio como fonte geradora de opressão e violência sobre o indivíduo e a coletividade – têm a liberdade como um dos mais altos valores humanos; liberdade e autonomia plenas a partir do indivíduo para a associação livre fundada na solidariedade e no apóio mútuo.
    O anarquismo combate todas as formas de autoritarismo, combate todo o poder de coação, tudo o que restringe, limita, sufoca e asfixia o potencial criativo do ser humano.
    Todo o ser humano tem a necessidade de desenvolver seu físico e sua mente em graus e formas indeterminadas; todo o ser humano tem o direito de satisfazer livremente essa necessidade de desenvolvimento; todos os seres humanos podem satisfazer essas necessidades por meio da cooperação e da vida associativa voluntariamente aceita. Cada indivíduo nasce com determinadas condições de desenvolvimento. Pelo fato de nascer com aquelas condições tem necessidades – em termos políticos, tem o direito – de se desenvolver livremente. Sejam quais forem suas condições, ele terá a tendência de se expandir integralmente. Ele terá o desejo de conhecer, saber, exercitar-se, gozar, sentir, pensar e agir com inteira liberdade. Esta necessidade é inerente ao próprio ser. Se o crescimento físico fosse limitado por qualquer meio artificial, tal fato seria qualificado de monstruoso. Também a limitação do desenvolvimento de sua sensibilidade, do seu desenvolvimento intelectual, moral e afetivo, anulando o seu potencial criativo seria lógico considerar-se uma monstruosidade. No capitalismo esse absurdo se dá em todas as instâncias da vida social e ninguém considera isso um absurdo, somente os anarquistas.
    A descentralização, a autonomia e o federalismo são as vias pelas quais o anarquismo propõe a construção de uma nova sociedade. A descentralização máxima é o indivíduo. Da plena liberdade e autonomia individuais para a organização segundo os interesses e as necessidades, para as instâncias mais complexas até a completa malha social, os princípios não se alteram. Começando pelo indivíduo como unidade celular da sociedade até o mais amplo tecido social, o princípio da autonomia está presente. Os interesses comuns de diferentes níveis e setores – profissionais, de produção de bens, planejamento, geográficos[1], etc. – resolvem-se pelas federações que as necessidades práticas indicarão. A união de interesses com objetivos comuns, sem quebra de autonomia, é a característica básica do federalismo. Assim, as uniões locais de organizam em nacionais até confederações internacionais.
    Em todos os atos, ante todos os fatos, o ser humano analisa, estima, aceita ou repudia o que se dá, o que acontece, formulando um juízo de valor. O tema é vastíssimo e seu estudo pertence à ontologia[2]. Apenas alguns conceitos para nos situarmos enquanto anarquistas. As vias de nosso conhecimento são a sensibilidade, a intelectualidade e a afetividade. Temos portanto uma intuição sensível, uma intuição intelectual e uma intuição páthica (do grego afeto, paixão). Há uma interatuação entre elas. Podemos racionalizar um sentimento de simpatia ou de antipatia[3], como podemos, através de uma dedução lógica, provocar a nossa santa fúria.
    Quase todos colocam os valores numa escala hierárquica: uns num grau mais elevado que outros[4]. O filósofo alemão MAX SCHELER (1874-1928) apresenta a seguinte ordem, que não é aceita por todos:

Valores religiosos (santo e profano)

Valores éticos (justo e injusto)

Valores estéticos (belo e feio)

Valores lógicos (verdade e falsidade)

Valores vitais (forte e fraco)

Valores utilitários (conveniente e inconveniente)

    Há variáveis, na subordinação dos valores, que se refletem de pessoa para pessoa ou até na mesma pessoa conforme o momento, mas sempre, na maioria das circunstâncias que a vida oferece, um prevalece sobre os outros[5]. Para o anarquista todos os valores se subordinam aos valores éticos, porque todos os atos humanos são passíveis de juízo ético.
    O que é ser anarquista? Ser anarquista é antes de tudo uma atitude ética. Ante a iniqüidade, um ímpeto de justiça leva o anarquista a romper racional e afetivamente com o sistema vigente. Romper com a autoridade é afirmar a própria independência humana. Ser anarquista é procurar realizar no quotidiano a plenitude do ato humano, e o ato humano só o é quando livre, fundado na vontade, no conhecimento dos fins e no poder de realizá-lo. Contra toda a desmoralização do ato humano, a luta anarquista não tem limites. Ser anarquista não tem limite. Ser anarquista é lutar pela liberdade de todos, tendo a consciência de que a liberdade dos outros aumenta a minha própria e não a limita.
   As paixões humanas [6] sempre foram objeto de estudo dos anarquistas. Apenas para ilustrar, vamos citar as teses apresentadas no 2°. Certâmen Socialista, realizado no dia 10 de novembro de 1889 no palácio de Belas Artes de Barcelona.
   Proposta do Círculo Operário de Barcelona: “Suponho uma sociedade verdadeiramente livre ou anarquista e sendo a instrução elevada ao grau máximo concebível, podem ser causas de desarmonia social as chamadas paixões humanas?” Foram apresentados seis trabalhos escritos sobre tal questão. No primeiro, apresentado por Teobaldo Nieva, é destacado o papel das paixões no desenvolvimento físico e mental da humanidade e como as religiões, as correntes filosóficas, os poderes político e econômico têm sufocado esta energia criadora. O autor se estende na crítica às religiões, a todas as formas autoritárias e repressivas e conclui que, apesar de tudo, elas continuam a ser a seiva vivificante da vida. As paixões são definidas e, ao contrário dos pecados capitais que são sete (orgulho, avareza, luxúria, etc.), as paixões são infinitas: o amor sexual, a paixão pelo belo, pela arte, pelo bem comum, etc. E, na sua essência, as paixões são benéficas, libertam. O desequilíbrio e as injustiças que o capitalismo e o autoritarismo provocam são as causas dos desvios e das práticas viciosas.
    Proposta do Centro de Amigos de Reus: “Benefícios ou prejuízos que a humanidade obteria adotando o amor livre”. Foram apresentados dois trabalhos, o primeiro de Soledad Gustavo. O trabalho começa acrescentando ao título a expressão “Em Plena Anarquia”. A autora considera que o amor livre na atual sociedade seria desastroso, uma desmoralização. Seria irrealizável. Uma sociedade plenamente livre e igualitária, perfeitamente justa teria como base de todas as liberdades a união livre dos sexos. Considera que só a comunidade assumindo a subsistência das mulheres e crianças resolveria o problema da dissolução das uniões. Só uma sociedade anarquista possibilitaria a escolha livre. Para a autora, a maioria considera o amor livre uma variedade de prazeres sensuais. Pura ignorância do que significa liberdade [7].
    Já Anselmo Lorenzo, em seu trabalho, faz uma incursão nas civilizações antigas rasteando as diferentes formas e costumes que envolvem a união dos sexos. Desde povos que viviam na mais absoluta promiscuidade, aos que adotaram a poligamia e a poliandria, até a monogamia e os padrões que regem o casamento na atual sociedade, para concluir que não se tem direito algum de afirmar que o conceito atual de casamento e família seja original, legítimo e unicamente natural. Havendo liberdade e igualdade os indivíduos e a sociedade se organizarão e praticarão a forma que mais lhes convier.
    A expressão amor livre, hoje eivada de conotações pejorativas, se confunde com a amizade colorida dos anos 70, por isso preferimos a expressão amor libertário [8]. Simplesmente a união de dois seres que se amam, sem injunção de espécie alguma. Sem interferência do Estado, da Igreja, da família, dos fatores econômicos, etc. sem preconceitos de espécie alguma. O amor sexual é como uma florescência da vida [9]. Suas práticas são tão diversas, tão diferentes seus graus de desenvolvimento, como imenso é o campo da afetividade. Impossível reduzir o amor a uma definição concreta. Impossível determiná-lo por condições particulares fixas. Nada mais variável. O amor sexual se apresenta sempre impregnado do sabor particular de cada associação humana; sujeito a normas, formalismos e rituais que variam com o organismo social. O amor sexual desprovido de ritualismos ridículos, fórmulas jurídicas, só será possível quando a sociedade tiver superado as contradições que a impedem de resolver os problemas que afetam as necessidades básicas das pessoas.
    A história do movimento anarquista é pontilhada de extremos de paixão e lucidez [10], de amor e de heroísmo, que seria impossível registrá-los todos aqui.
    Há no ser humano um desejo inerente de ir além, de ter uma vida diferente da que vive. Há assim um ímpeto utópico. O desejo de alcançar uma realidade que ainda não existe. Há as utopias de evasão, que expressam um desejo de afastamento da realidade vivida, que denominamos fuga da realidade, e há utopias de superação, que condensam desejos de alcançar estágios superiores ainda não vividos. Para que o homem alcance uma superação constante de si mesmo (o que seria a efetivação de uma revolução permanente não só em si, como também em seu meio) é necessária uma dose de utopia, porque sem o desejo de tornar tópicos os valores mais altos é impossível estimular a criação [11]. Os que julgam que o ímpeto utópico é uma fraqueza, resultado de uma deficiência humana, pouco sabem de psicologia.
    É preciso muito sonho, muito desejo, muita crença nas possibilidades de cada um e na de todos para que possamos superar obstáculos, vencer dificuldades, construir possibilidades remotas, tornar em ato o que parecia um sonho impossível.
    A história do anarquismo é, como dissemos, partilhada por estes atos de lucidez, paixão, heroísmo e amor que sempre foram e serão muito gratificantes para os que viveram tais momentos de plenitude libertária.

Jaime Cubero( 1926- 1998), anarquista brasileiro.

Notas:

*Originalmente publicado na Revista “Libertárias”, São Paulo, nº4, Dez, p.64-68, 1998. Este artigo corresponde, em parte, a palestra proferida por Jaime Cubero na Universidade Federal de Uberlândia, em 01/12/1994, durante a inauguração do Nephispo (Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Política), coordenado, na época, pelas professoras Christina Roquette Lopreato e Jacy Alves de Seixas. Os originais deste artigo foram preparados por José Orsi Carlos Morel.

[1] Que vão desde o espaço físico das comunidades até a ecologia de grandes regiões.

[2] Axiologia (do grego axios = valor, valia + logos = teoria) é o termo atualmente utilizado para designar a teoria do valor, que investiga a natureza, a essência e os diversos aspectos que o valor pode tomar na especulação humana. Timologia (do grego tumh´= Avaliação + logos = teoria) é a disciplina que estuda o valor da avaliação, o valor extrínseco de alguma coisa. Ambas são disciplinas regionais da Ontologia. Dizemos que alguém faz valer algo, isto é, dá-lhe um valor, valoriza. Há uma frase do grande anarquista MAX STIRNER, que tem servido de lema para muitos anarquistas individualistas “...No limiar de nossa época não está gravada a antiga inscrição apolínea conhece-te a ti mesmo mas sim a nova inscrição faze valer a ti mesmo.

[3] No plano psicológico, nossos sentidos realizam sempre uma escolha entre diversos estímulos, recebendo apenas aqueles que correspondem aos esquemas sensório-motores e aos esquemas noéticos, intelectuais ou afetivos, racionais ou emocionais. Também no plano sociológico, os processos são os mesmos, desde as escolhas realizadas pelos indivíduos, que seguem normas afetivas, como na estruturação dos grupos sociais. O valor está presente em todos os atos que praticamos.

[4] Exemplos práticos da aceitação e predominância de alguns valores sobre os outros: valores mercantis e utilitários da nossa época (padrão desde a pré-infância); “Lei do Gerson”; ter em oposição ao ser.

[5] Todas as eras da Humanidade conheceram suas escalas de valores, ora predominando uns, ora outros. A classificação de SCHELLER pode ser ampliada, como muitos o fazem, ou até mesmo INVERTIDA. Para os socialistas autoritários, os marxistas, no ápice encontram-se os valores utilitários; para os anarquistas os valores éticos prevalecem sobre os demais; para os fascistas são os valores vitais e utilitários que predominam; para os cristãos, socialistas ou não, os religiosos.

[6] Todo o potencial criativo do ser humano é despertado por um impulso apaixonado, nas infinitas variáveis de sua manifestação. O último livro publicado de ROBERTO FREIRE, “Tesudos de Todo o Mundo: Uní-vos” é rico de exemplos deste aspecto.

[7] Não podemos esquecer que são conceitos emitidos em 1889, há 106 anos, quando a total dependência da mulher e dos filhos ao homem, em qualquer união conjugal, era objeto das discussões e de acerbas críticas dos anarquistas. Uma de suas trincheiras de propaganda. Hoje, em que pese todos os avanços e conquistas, a situação não mudou muito. A paternidade responsável e a solução para o problema das dissoluções conjugais só se verifica em casos isolados.

[8] Em uma palestra, na CASA DA SOMA, sobre amor livre, abordamos o assunto, juntamente com ROBERTO FREIRE e concluímos por essa conceituação. A expressão amor libertário é de ROBERTO FREIRE, a quem considero, entre os autores anarquistas que conheço, o maior e mais profundo na abordagem do tema, em termos atuais.

[9] O amor sexual permeia e influi no comportamento humano e nas ações políticas porque é intrínseco à natureza humana e está presente na história da humanidade.

[10] Citemos, entre muitos, os nomes de Louise MICHEL e de Emma GOLDMANN, os Mártires de Chicago, BAKUNIN, entre tantos, tantos outros. Bakunin, por exemplo, nos dá a seguinte definição de revolucionário: “... é aquele que, junto à inteligência, à energia, à lealdade e ao espírito de conspiração, possua também a paixão revolucionária e o diabo no corpo.” É literalmente impossível citar aqui os exemplos que transcendem todas as ideologias.

[11] Os antigos denominavam jubileu a indulgência plenária, solene e geral, concedida pelos papas aos católicos, nos primórdios do cristianismo, porque os homens tiravam de suas costas o peso do temor do castigo pelos pecados cometidos, ao livrarem-se das culpas. O termo tomou depois outros sentidos, mas mantém o conteúdo conceitual de satisfação plena, ou seja de uma profunda alegria. Não se trata de uma alegria qualquer, como certas alegrias passageiras, que deixam atrás de si uma marca sombria, até mesmo um rastro de tristeza. Trata-se do júbilo: uma das mais belas manifestações da paixão humana. Essa alegria, esse júbilo, é sempre excitante e criador de energias. O júbilo é predominantemente da intelectualidade e da afetividade implica um gozo mais profundo das coisas que almejamos. Para o anarquista, esta é a sua grande compensação.


Voto ou Ação Direta: Liberdade da Lei Áurea ou de Palmares?*



Vocês estão sendo enganados, bons eleitores, vocês estão sendo ludibriados, eles os bajulam quando dizem que vocês são a justiça, o direito, a soberania nacional, o povo-rei, homens livres. Colhem seus votos e é tudo. Vocês não são mais do que frutas... bananas. Zo d’Axa. “Aos eleitores”. 3 de maio de 1898[1].


    Mais um ano eleitoral chegou. E, mais uma vez, lá estão os políticos. Nas ruas, nos jornais, nos onipresentes “santinhos” ou na tela da televisão: prometem transformações, vomitam slogans ridículos, dizem que “agora vai ser diferente”. No entanto, passam as eleições e as coisas não mudam profundamente.
    Escândalos de corrupção, elevados níveis de violência, precário sistema público de saúde, falência da educação, repressão aos anseios camponeses por reforma agrária, criminalização de movimentos sociais populares. Mazelas e misérias historicamente construídas pelo modo capitalista de viver e de organizar a sociedade.
    Se há mudanças mínimas, liberdades duramente conquistadas e relativos alargamentos na “área da cela” na qual sobrevivemos (como diria o anarquista Noam Chomsky) elas foram fruto da pressão de movimentos organizados, do clamor das ruas. Movimentos que não se contentaram em ser guiados pela pauta das casas legislativas.
    Ainda que, a partir do século XVIII, a burguesia tenha se voltado contra o absolutismo do Antigo Regime – em nome de “liberdade, igualdade e fraternidade” – a noção de soberania popular foi se relativizando (e se enfraquecendo) na medida em que o poder burguês foi consolidado. Uma vez no comando, a burguesia não hesitou em limitar a participação popular a um mínimo, utilizando-se de ferramentas tanto de repressão quanto de convencimento. E, com muito custo, foi absorvendo em seu favor alguns dos anseios das massas – sufrágio universal, participação da mulher, voto secreto, etc.
    Atualmente, os elementos persuasivos são largamente utilizados por um eficiente aparato de propaganda. O slogan governamental decreta: “O destino do eleitor está em suas próprias mãos”. Assim, o discurso oficial identifica o ato de votar (ou apertar botões, em sua versão mais moderna) como o momento máximo de “cidadania”. Não se discutem evidentemente, os limites desse modelo ou as formas de aumentar a participação de todos em seus destinos, de modo efetivo. A eleição acaba sempre sendo um bom negócio paras as elites. Uma das maiores armas das oligarquias é justamente a desmobilização – que se amplifica ciclicamente no ritual das urnas. A direita só clama por mobilização popular quando se organiza com vistas ao retorno da “ordem” ou ao fascismo. Mas o fascismo torna-se necessário apenas quando as ameaças parecem transbordar as urnas, e as ameaças às estruturas do sistema só ocorrem com muita mobilização e organização popular.
    A pseudodemocracia vigente adormece a possibilidade de esclarecimento, de conscientização, de organização e de ação política em seu sentido mais incisivo: o de atuar na pólis, na cidade, no bairro, no cotidiano, a partir de organismos autônomos, horizontais, assembleias, associações de bairro, conselhos de operários – ou quaisquer outras definições do que, na essência, significa democracia direta.
    Os anarquistas sempre estiveram atentos frente às estratégias mistificadoras da democracia burguesa. Buscando fugir da ação política institucionalizada – como diria Jaime Cubero, essa grande “arma burguesa de retardamento” da democracia direta – a proposta anarquista caminha no sentido de estimular a autonomia, o protagonismo dos cidadãos, a política feita de forma direta; distinguem-se assim de outros setores da esquerda que apostam em vias eleitorais.
    A participação nas eleições pelos partidos políticos de esquerda nos mostra a problemática de usar meios inadequados para alcançar certos fins. Há os que querem usar as eleições “apenas como propaganda”, como se fosse possível competir com o aparelho burguês por seus próprios mecanismos, sem caricaturar ou ridicularizar as propostas socialistas em rede nacional!
    Outros dão ênfase apenas à questão tática da eleição, argumentando que seria perfeitamente possível aliar a luta parlamentar às estratégias de massas[2] – a dos movimentos sociais. No entanto, percebe-se que essa ação “inofensivamente” tática vai se tornando paulatinamente “estratégica”, fazendo que estes grupos progressivamente deformem o projeto original[3] que defendiam. Estes vão ajustando lentamente seus projetos aos meandros da democracia burguesa, dos gabinetes, das condições legais, muito eficazes em anular projetos radicais.
    Não se trata de uma questão substancialmente “moral” ou de “traição” – ainda que a imoralidade e a mentira possam também fazer parte de todo o processo. Estamos falando de um tipo de dinâmica que é própria da ação parlamentar: a ação institucional vai solapando a ação de massas. O que era um projeto “periférico” ganha cada vez mais contornos de “centro”. Nas novas periferias geradas no processo, ficarão os movimentos sociais que esses partidos hegemonizam ou influenciam (as suas “bases de apoio”).
    Os parlamentares e mandatos “combativos” destes partidos de esquerda – já encastelados como centros, ou seja, poderosos aglutinadores de recursos financeiros e políticos – impõem assim o ritmo das lutas de fora para dentro dos movimentos. O resultado é o pior possível: movimentos que ficam subordinados aos limites da legalidade burguesa ou às figuras carismáticas – a forma mais irracional[4] de subordinação política. A elite sabe que, se um candidato “radical” se candidata para contestar estas estruturas, é possível aplicar a mais antiga das fórmulas democrático-burguesas: caso se candidate que JAMAIS se eleja; caso se eleja garanta que não governe; e caso governe... derrube-o!
    Nestas eleições, portanto, tanto faz votar nulo, no “menos pior” ou não ir votar. O voto útil “contra a direita”[5] e a política cínica (ou ingênua) do “melhorismo” ignoram que os exploradores já têm seus postos garantidos na estrutura de poder independente do resultado das eleições: estão representados no BNDES, nos projetos das empreiteiras, nos monopólios de comunicação, nas estruturas verticais de trabalho e de organização e no extermínio da juventude pobre e negra pela polícia.
    Um governo “mais à direita” pode reprimir mais os movimentos sociais é verdade. Um “mais à esquerda”, pode ao invés de reprimi-los, comprar ou cooptar os movimentos. Contudo, os prejuízos de ambas as políticas são igualmente terríveis, se a primeira ataca mais os direitos dos trabalhadores, a segunda os desarma completamente para defendê-los. Os governos evidentemente mudam, e enquanto houver capitalismo, todos sabem que isso não é nenhuma novidade.
    Deveríamos nos perguntar, não as condições que desejamos para construir nossas lutas, mas sim, como podemos impor nossas pautas – a dos movimentos sociais –, aos carniceiros, sejam eles de direita ou de esquerda? Que tática e princípios nos servimos para enfrentar a repressão ou a cooptação?
    Decerto não os removeremos destes postos sem um intenso e árduo trabalho de organização popular que possua fins revolucionários. Para isso, é necessário criar, fomentar e desenvolver a autonomia da classe em seus próprios organismos; fortalecermos um movimento de movimentos; criarmos um povo forte. Um povo que não dependa de líderes, messias ou candidatos a super-heróis.
    É somente pela base que construímos experiências concretas de organização popular e assentamos as experiências de poder popular. Com a massificação dos organismos populares e a generalização da democracia direta, poderemos um dia ameaçar a ordem vigente e construir, nos mecanismos que levam à sua ruptura, uma nova experiência político-social. Assim fizeram os comunnards da Comuna de Paris em 1871; os trabalhadores espanhóis em 1936; os operários e camponeses russos em 1905 e 1917. Assim fazem os zapatistas, e assim fez o povo de Oaxaca em 2006, que, com suas assembléias populares, expulsou o governo e a polícia da cidade e se autogeriu politicamente, dando vida à Comuna de Oaxaca.
    Aqui vamos tentando, experimentando e caminhando; mas tendo a certeza de que os caminhos da emancipação popular definitivamente não passam pelas urnas. Se passassem – parafraseando um velho ditado libertário – as eleições seriam obviamente proibidas.

Outra Campanha: Nossas urgências não cabem nas urnas!

    A Outra Campanha – inspirada no exemplo de ação autônoma dos zapatistas mexicanos – busca construir uma nova forma de fazer política, com base no protagonismo e na luta popular. E, em vez de pedir o voto, incita a organização autônoma, a formação de coletivos, a vontade de interferir no próprio destino. E, no lugar de “santinhos” e slogans, quer: “autogestão, cooperativismo, ajuda mútua, ação direta, ocupações, mobilizações, socialismo libertário, gestão não-hierárquica, democracia direta, organização em grupos locais e coletivos em federações, e reforma agrária coordenada pelos próprios camponeses”. No Brasil, a Outra Campanha está sendo organizada por vários grupos e conta com adesões nos estados do Alagoas, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, etc. Saiba mais sobre a Outra Campanha no site:


Federação Anarquista do Rio de Janeiro ( FARJ)

Notas:

*Originalmente publicado no JORNAL LIBERA , Rio de Janeiro, nº 146, Jul-Set, p.1-2, 2010.

[1] Apud: VVAA. Os anarquistas e as eleições. São Paulo: Imaginário, 2000.

[2] O que leva a deformações como assistir a partidos de esquerda falarem em rede nacional, de “democracia direta”.

[3] Foi assim com o PT e com a maioria dos partidos verdes da Europa, que, partindo de projetos gestados no interior dos movimentos sociais, tornaram-se apenas geradores de quadros da nova burocracia.

[4] Ou diríamos “a infantilização da política”? Uma projeção da forma familiar paternalista-burguesa ao nível político?

[5] Cf. COUTO, Evandro. Como Votam os Anarquistas? In Socialismo Libertário nº 18.



O mal estar no mundo do trabalho



    O trabalho na sociedade contemporânea tem ocasionado uma série de doenças físicas e psicológicas na vida das pessoas. Assim, o absenteísmo e o afastamento do trabalho têm crescido de forma assustadora. Nesse sentido, aumenta a procura por medicamentos para camuflar o sofrimento proporcionado pelo laborar de cada dia. Mas, por que o trabalho tem sido responsável por tantas coisas de ordem negativa? A partir da Primeira Revolução Industrial, o capitalismo consolida-se e com ele a exploração do homem pelo homem. As máquinas entram para o rol de toda a produção. Isso faz com que homens e mulheres não identifiquem-se mais com o produto final. Pois, há uma fragmentação do mesmo.
    Esse fato gera uma angustia e ao mesmo tempo uma descaracterização do trabalho de tais sujeitos. Além disso, o capitalismo exige que as pessoas trabalhem em um ritmo frenético e acelerado, quanto menor o tempo utilizado maior serão os lucros obtidos. Somando-se a isso, altas e exaustivas jornadas de trabalho em ambientes insalubres e mal iluminados compunham a rotina de tais indivíduos.
    Desse modo, vigias tentavam a todo instante fiscalizar tudo o que ocorria nesses ambientes. Era preciso controlar nos mínimos detalhes cada atividade executada pelo trabalhador. Assim, existiam horários demarcados e cronometrados para ir ao banheiro, para comer. Conversas e olhares para o companheiro ou companheira que estivesse ao lado eram proibidos. Uma vez que, esse tipo de comportamento poderia vir a atrasar o ritmo intenso da lógica capitalista. Nessa direção, conforme salienta Michel Foucault, a sociedade moderna irá utilizar de dispositivos que tinham como intuito a transformação dos corpos em corpos que fossem, ao mesmo tempo, politicamente dóceis,mas, economicamente produtivos. Sendo assim, qualquer tipo de manifestação contra esse modelo de trabalho, era logo impedido de se expressar pelos donos dos meios de produção.
    Como pôde ser evidenciado, em linhas anteriores, estamos fazendo alusão a uma sociedade que predominou entre os séculos XVIII e XIX, e não a sociedade pós-moderna e tecnológica do século XXI. Entretanto, ao realizarmos uma análise mais detalhada e acuida, surge uma indagação pertinente: será que é possível encontrar profundas modificações quanto ao sentido e a lógica do trabalho entre esses dois distintos momentos históricos? O que iremos perceber, é que de fato houve mudanças no que se refere ao contexto histórico do qual fazemos parte. Hoje, o mercado de trabalho ampliou-se com a introdução dos meios de comunicação (a internet, por exemplo) e também com a questão da globalização.
    Todavia, a exploração, as altas e exaustivas jornadas de trabalho em troca de salários parcos continuam quase as mesmas. Isso em virtude de um número maior de pessoas terem conseguido especializar-se, nas mais diversas áreas do conhecimento. O resultado disso, pode ser traduzido em um grande contingente de trabalhadores a procura de algum emprego e ao mesmo tempo a saturação desse mercado de trabalho que encontra-se abarrotado de gente.
    Portanto, as exigências em torno de quem almeja um emprego são exorbitantes. Afinal, procura-se quem? Um trabalhador polivalente, preparado para lidar com o inesperado e que busque a todo instante soluções imediatas e práticas diante dos problemas que possam vir a surgir em seu cotidiano. Um trabalhador que coloque em primeiro lugar a instituição na qual se insere, fale diversas línguas, tenha conhecimentos em informática, domine a arte da comunicação, esteja atento as informações e acontecimentos tanto a nível nacional quanto internacional. Pois, tudo poderá interferir no modo de funcionamento da empresa/organização.
    Por conseguinte, muda-se o contexto, mas, o desgaste físico e psíquico de laborar tornam-se, a cada dia que se passa maiores. O que fazer diante disso? Acredito, que enquanto futura profissional na área da saúde, o nosso papel consiste em ser o de procurar possibilidades de intervenções para atenuar as conseqüências desastrosas que a sociedade capitalista tem ocasionado na vida das pessoas.
    Penso que não existem regras, formulas e teorias já dadas de antemão a fim de sanar esse tipo de situação. Entretanto, refletir sobre essas questões é, antes de qualquer coisa, um papel político e um dever social que temos de ter com a comunidade em que estamos inseridos.

Fernanda Caroline de Melo Rodrigues é graduada em História pelo Unipam (Centro Universitário de Patos de Minas) e graduanda em Psicologia pela mesma instituição.



“2 Militantes Anarquistas Brasileiros Morrem No Mesmo Dia!!!”

Nair Lazarine Dall’Oca

    Nair Lazarine Dall’Oca nasceu em 23 de abril de 1923, em Araçatuba, filha de Carmino Lazarine e Rosa Furlan (ambos brasileiros de Ribeirão Preto), um modesto casal que teve 7 filhos. O pai de Nair, além de marceneiro, também lecionou na escola rural, onde ela estudou durante três anos.
    Casou-se com Virgilio Dall’Oca e ambos mudaram-se para São Paulo, para viverem com os tios de Virgilio, Aída e Nicola D’Albenzio, ambos anarquistas. Nicola D’Albenzio, então ativo militante da Federação Operária de São Paulo (F.O.S.P.), aos poucos desperta o interesse do jovem casal pelas idéias libertárias.
    Por volta de 1936, o casal conheceu o Centro de Cultura Social de São Paulo, com sede na avenida Rangel Pestana, nº 251 (antiga Ladeira do Carmo, nº 9), que na época contava com muitos sócios e freqüentadores, inclusive muitos espanhóis que viriam para São Paulo, após a implantação da ditadura de Franco na Espanha.
    Nair trabalhou como costureira, Virgilio trabalhou como servente de pedreiro, cobrador de ônibus, motorista de caminhão e, por fim, taxista.
    A difícil condição econômica do casal, não os impediu de contribuir financeiramente em inúmeras campanhas de solidariedade, como por exemplo, no apoio aos refugiados anarquistas durante o final da guerra civil espanhola (1939), organizado pelos anarquistas brasileiros respondendo ao apelo do jornal Tierra y Libertad.
    Após a implantação do estado novo em novembro de 1937, o Centro de Cultura Social foi obrigado a fechar sua sede. Os anarquistas que desde o início da ditadura de Getúlio Vargas, vinham disputando o espaço nos sindicatos com os reformistas, perdem seu principal campo de atuação.
    É neste contexto social, que um grupo de anarquistas, em sua maioria vegetarianos e naturistas, vai desenvolver um projeto de construção de uma chácara na cidade de Itaim, no interior do estado de São Paulo, que marcará um período completamente novo na trajetória do anarquismo brasileiro.
    O grupo de voluntários anarquistas que comprou o terreno e que principiou o trabalho da construção da Nossa Chácara era composto inicialmente por: Germinal Leuenroth, Nicola D’Albenzio, Virgilio Dall’Oca, Justino Salguero, Salvador Arrebola, Antônio Castro, João Rojo, Benedito Romano, José Oliva Castillo, Roque Branco, Antônio Valverde, Cecílio Dias Lopes e Lucca Gabriel. Sempre acompanhado de seus familiares.
    A Sociedade Naturista Amigos da Nossa Chácara, foi registrada em 9 de novembro de 1939, e mesmo após a reabertura do Centro de Cultura Social em 9 de julho de 1945, a Nossa Chácara continuou sendo palco (além de inúmeras confraternizações) de congressos libertários nacionais e reuniões clandestinas, que foram essenciais e possibilitaram a reorganização do movimento anarquista brasileiro, que havia passado pelo difícil período repressivo da ditadura Vargas.
    O casal Dall’Oca e o grupo pioneiro da Nossa Chácara, além das doações financeiras, prestaram inúmeras contribuições em trabalho pesado e sofrido, que tornaram-se de valor incalculável devido aos benefícios coletivos que proporcionaram. Com a mesma importância, Aída D’Albenzio e Nair Dall’Oca, muitas vezes, foram as principais responsáveis pela alimentação de todos que freqüentavam a Nossa Chácara.
    Quando surgiram os jornais “O Libertário” (outubro de 1960) e “Dealbar” (setembro de 1965), apesar de não escrever artigos, o casal Dall’Oca contribuiu financeiramente para ambos e ainda colaborava na distribuição.
    O casal também contribuiu com a Editora Mundo Livre do Rio de Janeiro, que chegou a publicar os seguintes livros anarquistas: “O Retrato da Ditadura Portuguesa” de Edgar Rodrigues (1962), “A Doutrina Anarquista ao Alcance de Todos” de José Oiticica (2ª Edição - 1963), “Anarquismo – Roteiro de Libertação Social” de Edgard Leuenroth (1963), “O Humanismo Libertário e a Ciência Moderna” de Pedro Kropotkine (1964) e “Erros e Contradições do Marxismo” de Varlan Tcherkesoff (1964).
    Após a implantação da ditadura militar no dia 1º de abril de 1964, a Sociedade Naturista Amigos da Nossa Chácara, resolveu vender sua propriedade no Itaim, para comprar um sítio, em Mogi das Cruzes, que seria mais apropriado para a continuação do projeto libertário. A campanha pró-compra do sítio foi iniciada em 28 de agosto e 1965, e foi concluída em 31 de dezembro de 1966. Na lista de pessoas que contribuíram financeiramente para a compra do Nosso Sítio, consta os nomes dos Dall’Oca, inclusive da filha Clara.
    No início de 1969, o Centro de Cultura Social fecha a sua sede, inclusive, por uma questão de segurança. O perigo pressuposto pelos anarquistas paulistas, será corroborado durante os dias 8 e 21 de outubro de 1969, quando o Centro de Estudos Professor José Oiticica (C.E.P.J.O.), dos anarquistas do Rio de Janeiro, foi invadido e assaltado pelos militares da aeronáutica e seus membros foram processados, presos e alguns, inclusive, torturados fisicamente.
    Durante esse período, os militantes paulistas se organizaram e arrecadaram dinheiro anonimamente (por precaução), para ajudar nos custos do processo militar instaurado contra os anarquistas do Rio de Janeiro que durou até 1972. Foi uma grande demonstração de solidariedade militante, e a família Dall’Oca estava presente para contribuir com a campanha.
    Após ter morado alguns anos em Itanhaem, a família Dall’Oca fixou residência na cidade de Santos.
    Nair Lazarine Dall’Oca faleceu no dia 20 de agosto de 2010, aos 87 anos, devido uma parada cardíaca, sendo que sua saúde já estava bastante debilitada pelo mal de Alzheimer. Deixa esposo, filha e netos. Apesar de nunca ter falado em público ou ter escrito textos, Nair foi uma militante sempre presente, que legitimou o anarquismo através da prática da ação direta.

Francisco Cuberos

    Francisco Cuberos nasceu em 18 de fevereiro de 1924, em São Paulo, filho do brasileiro Antônio Cuberos e da espanhola Isabel Vinheto, um jovem casal operário que teve 6 filhos (Maria Antonia, Antônio, Francisco, Jaime, Aurora, Mercedes).
    Na adolescência, chegou a participar de uma célula do Partido Comunista, no bairro da Móoca, durante um mês, saiu por divergências internas e por não concordar com o artigo 13 dos estatutos do Partido, que naquela época dizia que nenhum membro do grupo poderia ter relações com pessoas (mesmo que fossem amigos ou familiares) de uma outra facção política. Inicialmente trabalhou como operário em fábrica de calçados e depois como vendedor de calçados.
    Por volta de 1942, participou do grupo Centro Juvenil de Estudos Sociais, juntamente com: Liberto Lemos Reis, Nito Lemos Reis, Maria Apparecida Cubero, Aurora Cubero, Mercedes Cuberos e outros, onde estudavam e debatiam temas ligados ao anarquismo.
    Em 1945, os membros desse grupo de estudos foram descobertos por Edgard Leuenroth, Rodolpho Felippe, Pedro Catallo e convidados a participarem do Centro de Cultura Social de São Paulo, que se localizava na rua José Bonifácio, nº 387.
    Nesse mesmo ano, Francisco Cuberos conheceu o grupo de teatro social do Centro de Cultura Social, que estava representando a peça “1º de Maio” de Pietro Gori. E no ano seguinte, já estava participando do grupo e representando essa mesma performance teatral.
    Entre as peças anarquistas que Francisco Cuberos participou (usando o pseudônimo de Cuberos Neto), constam-se: 1º de Maio – Drama em 1 ato, de Pietro Gori (1946); Uma Mulher Diferente – Drama Social em 3 atos, de Pedro Catallo (1947); O Coração É Um Labirinto – Drama em 3 atos, de Pedro Catallo (1947); O Herói E O Viandante, de Pedro Catallo (1947); Nada – Drama em 4 atos, de Ernani Fornari (1948); A Insensata – Drama Social em 3 atos, de Pedro Catallo (1950); Tabu – Comédia em 3 atos, de Francisco X. Svoboda (1951); O Maluco Da Avenida – Comédia em 3 atos, de Carlos Arniches (1954); Feitiço – Comédia em 3 atos, de Oduvaldo Viana (1954); Ciclone – Drama em 3 atos, de W. Somerset Maughan (1955); Está Lá Fora Um Inspetor – Drama em 3 atos, de J. B. Priestley (1956); Os Mortos – Drama Social em 3 atos, de Florêncio Sanchez (1957); Pense Alto – Drama, de Eurico Silva (1958); O Que Eles Querem – Comédia em 3 atos, (1958); O Testemunho, de Waldyr Andrade Kopezky (1966); Mundo Pedra, Pedra Mundo – Musical; Como Rola Uma Vida – Drama em 2 atos, de Pedro Catallo (1967); Onde Anda A Liberdade, de Waldyr Andrade Kopezky (1967) [1]; Os Guerreiros, de Waldyr Andrade Kopezky (1967); O Último Programa De Cubanacan – Monólogo, de Alberto Centurião (1997); A Greve De 1917, de Fábio Ferreira Dias (1997); Colônia Cecília, de Renata Pallottini (1999); A Velha Guarda Ou A Revolução Partida, de Murilo Dias César (1999); Liberdade! Liberdade!, de Millor Fernandes e Flávio Rangel (2000); O Santo Inquérito, de Dias Gomes (2000); Morte Acidental De Um Anarquista, de Dario Fo (2001); Deus Lhe Pague, de Joracy Camargo (2001); O Homem Do Princípio Ao Fim, de Millor Fernandes (2001); Bella Ciao!, de Luiz Alberto de Abreu (2001).
    Em 1951, teve seu primeiro casamento com Mercedes Cuberos, que durou três anos.
    Em 14 de março de 1955, Francisco Cuberos é o primeiro militante a ser citado no prontuário do Centro de Cultura Social, número 1914, arquivado no DEOPS/SP (Departamento de Ordem Política e Social), como secretário geral da entidade.
    Em 1959, casou com Maria Martinez Jimenez, conhecida pelos mais íntimos como Maruja, e no ano seguinte inicia sua carreira como ator profissional.
    Profissionalmente, entre as peças que Cuberos Neto representou, constam-se: Nega De Maloca (1960), Os Elegantes (1960), Oração Para Uma Negra (1961), A Semente (1961), As Almas Mortas (1962), A Escada (1962), Antígone América (1962), Senhorita Julia (1969), Os Dois Cavaleiros De Verona (1974), O Verdugo (1974), Machado De Assis (1974), Peri E Ceci (1974), Mahagonny (1976), Gota D’Água (1977), Curto-Circuito (1987), Canção De Natal (1991). Na televisão, estreou com a novela Sangue Do Meu Sangue (1969), e depois: Programa Penélope (1970), O Comprador De Fazendas (1970), Vitória Bonelli (1972), Os Fidalgos Da Casa Mourisca (1972), A Barba Azul (1974), A Viagem (1975), Ovelha Negra (1975), Gaivotas (1979), Um Homem Muito Especial (1980), Vento Do Mar Aberto (1981), Música Ao Longe (1982), Aventuras Amorosas De Seu Quequé (1982). Já no cinema, iniciou com a série O Vigilante Rodoviário (1961), continuando com: Amemo-nus (1970), O Sexualista (1975), Ainda Agarro Este Machão (1975), Tiradentes – O Mártir Da Independência (1976), Antônio Conselheiro E A Guerra Dos Pelados (1977), No Tempo Dos Trogloditas (1978), Os Três Boiaderos (1979) A Virgem E O Bem Dotado (1980), Gaijin – Os Caminhos Da Liberdade (1980), ... E A Vaca Foi Para O Brejo (1981), Amélia – Mulher De Verdade (1981), As Vigaristas Do Sexo (1982), Amado Batista Em Sol Vermelho (1982), Arapuca Do Sexo (1983), A Luta Pelo Sexo (1984), O Santo Salvador E O Demônio (2003), entre outros trabalhos...
    Mesmo após a implantação da ditadura militar no dia 1º de abril de 1964, o Centro de Cultura Social continua realizando suas atividades, principalmente através das peças libertárias promovidas pelo Laboratório de Ensaios, grupo formado pela iniciativa de Francisco Cuberos, Waldyr Andrade Kopezky e Ailso Braz Corrêa.
    Francisco Cuberos também participou da Sociedade Naturista Amigos De Nossa Chácara, grupo libertário que teve um papel fundamental na organização dos congressos anarquistas brasileiros.
    Em dezembro de 1968, foi promulgado o ato institucional nº 5, e o Centro de Cultura Social que já vinha passando por inúmeros problemas internos e financeiros, resolve no início do ano seguinte, encerrar suas atividades, inclusive, por uma questão de segurança.
    Nesses tempos de repressão, os militantes anarquistas de São Paulo, passam a se reunir clandestinamente na loja Calçados Cuberos, na avenida Celso Garcia, nº 725. Essa loja era propriedade de Francisco e Maruja Cuberos (depois Jaime Cubero, também juntou-se a iniciativa), e é necessário destacar a coragem que a família teve para ariscar a sua vida e o seu trabalho, na reorganização do movimento anarquista nesse período.
    Participou da reabertura do Centro de Cultura Social em 1985.
    Em 21 de agosto de 1986, foi um dos sócios-fundadores do arquivo Círculo Alfa de Estudos Históricos (C.A.E.H.) juntamente com: Nito Lemos Reis, Antonio Martinez, José Carlos Orsi Morel, Jaime Cubero, Antônio Francisco Correia, Felix Gil Herrera, Liberto Lemos Reis, Fernando Gonçalves da Silva e Ideal Peres[2].
    Em 18 de dezembro de 2004, por indicação de Marcolino Jeremias, Francisco Cuberos foi convidado a participar do programa Provocações, da TV Cultura, onde foi entrevistado pelo seu antigo diretor de teatro, Antônio Abujamra. O programa foi exibido em rede nacional em 3 de abril de 2005.
    Em 28 de novembro de 2007, desligou-se do Centro de Cultura Social, quando a entidade estava renovando seus estatutos internos, por não concordar com algumas modificações.
    Faleceu no dia 20 de agosto de 2010, aos 86 anos, em decorrência de uma pneumonia agravada pelo mal de Parkinson, deixa esposa, filhos e uma longa trajetória nos meios libertários, especialmente no teatro social, sua eterna paixão.

Marcolino Jeremias é pesquisador do movimento anarquista e operário em Santos/SãoPaulo e membro fundador da Editora “Opúsculo Libertário”.

Notas:

[1] Os Guerreiros, cujo título original era Os Generais, contava a tentativa frustrada de transformar um general em um ser humano, isso em plena ditadura militar brasileira.

[2] Contrariando o bom senso e a ética anarquista, os novos membros desse grupo continuam mantendo fechado esse arquivo para a pesquisa pública e, inclusive, para os militantes anarquistas que se interessam por estudos históricos. Para piorar, os atuais membros desse arquivo não produzem sequer pesquisas públicas com os documentos que possuem...

NOTÍCIAS:

Declaração de princípios e intenções do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO), aprovada no Encontro Nacional de 2010, ocorido em Porto Alegre.


O Fórum do Anarquismo Organizado (FAO) é um espaço de debate e articulação entre organizações, grupos e indivíduos anarquistas que trabalham ou têm a intenção de trabalhar utilizando como base os princípios e a estratégia do anarquismo especifista.O objetivo maior do FAO é criar as condições para a construção de uma organização anarquista no Brasil. Tarefa que sabemos não ser de curto prazo, mas que precisa ser iniciada desde já.
No Encontro Nacional de 2010, realizado em Porto Alegre, os grupos e organizações presentes entenderam que era o momento de aprofundar a organicidade e prosseguir em relação aos objetivos previamente estabelecidos.
Por isso, após intensas discussões, deliberamos que deveríamos dar um salto qualitativo e ir além dos dois eixos propostos anteriormente: a organização e a inserção social. Entendendo que eles já estão incorporados em nossos grupos e organizações e que a questão da organização e da inserção social não são mais tão polêmicas nos meios anarquistas – e a atuação dos grupos e organizações e do próprio FAO contribuíram significativamente para isso –, decidimos dar mais um passo para a construção de uma organização de âmbito nacional, que sempre foi um de nossos objetivos.
O passo seguinte é, para nós, aprofundar a organicidade, e foi assim que decidimos adotar o especifismo, como forma de organização anarquista para os grupos e organizações do FAO, estabelecendo princípios políticos e ideológicos que definem, em nossa concepção, tanto o anarquismo, como essa opção organizativa. Com esse objetivo, o Encontro Nacional reformulou a definição do FAO (ainda que ele continue sendo um fórum), estabeleceu seus princípios, assim como a estratégia a ser defendida, e reviu seus compromissos.

Autor(a): Fórum do Anarquismo Organizado

Fonte: www.farj.org

Moção de apoio ao Movimento Estudantil da UFU

Frente aos constantes ataques empreendidos pela grande mídia e às nefastas ações autoritárias dos setores conservadores da Universidade Federal de Uberlândia, o CAHIS-UFU vem expressar publicamente solidariedade aos companheiros, dentre eles estudantes dos próprios cursos de graduação em História, que vem sendo criminalizados por acusações absurdas, tanto mais numa sociedade supostamente democrática.
Parece não mais ser segredo a aversão ao debate junto à comunidade por parte de determinados grupos reacionários hoje instalados em espaços que gerenciam a universidade. Prova disso são as contantes decisões tomadas às escuras, em reuniões fora do semestre letivo, como no caso da terceirização da mão-de-obra do Restaurante Universitário.
Por sua vez, as acusações contra o Movimento Estudantil, tais como a de “formação de quadrilha” e “cárcere privado” distorcem profundamente o caráter reivindicatório manifesto durante a ocupação da reitoria ocorrida no dia 12 de março de 2010. Aqueles que estiveram presentes, cerca de 300 manifestantes, podem confirmar que os pontos levantados pelos estudantes foram muito além da pauta da “proibição da venda e consumo de bebidas no interior dos campi”. As diversas falas desses estudantes revelaram tantos outros aspectos problemáticos na realidade da universidade atualmente, como a precariedade do campus avançado do Pontal e a truculência e ineficácia do sistema de segurança e vigilância.
Assim, na tentativa de expressar nosso posicionamento destacamos a partir desta moção que:

Acreditamos e valorizamos o debate democrático dentro da universidade em suas mais diversas esferas.

Repudiamos qualquer tentativa de criminalização a qualquer movimento social organizado, tanto mais quando isso for originário de bases falsas e/ou infundadas.

Apoiamos integralmente os companheiros que vem sendo acusados injustamente pelos setores retrógrados da mídia e da Universidade e pelos aparatos de repressão do Estado.

CAHIS-UFU 2010

Centro Acadêmico dos Cursos de Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia

Gestão: “O impossível é dever de tod@s!”.



[França] Informe de membros da CNT-AIT sobre as manifestações contra os planos de Sarkozy

A situação na França está subindo de temperatura:
Por um lado, os jovens alunos estão participando efetivamente da luta. O governo teme que essa situação possa levar a um "cenário grego". Em 2006, a luta dos estudantes contra a "reforma do CPE" conseguiu derrubar uma lei que tinha sido aprovada.
A juventude francesa, que está sob repressão policial constante, expressa agora a sua raiva contra o sistema e especialmente contra a polícia. Houve alguns confrontos muito duros contra os agentes antidistúrbios nas cidades mais populares, nos subúrbios ao redor de Paris, mas também em cidades de toda a França.
Num primeiro momento, o governo criticou os jovens por serem manipulados e disseram que o lugar deles era na sala de aula, não na rua. Mas como o governo aprovou uma lei anos atrás que estabelecia que os adolescentes podiam ser penalmente responsáveis pelos seus atos, a juventude respondeu que se eles tinham idade suficiente para ir para a cadeia com 13 anos, também podiam discutir política e se manifestar nas ruas.
Agora o governo está tentando incitar o medo dos "jovens delinqüentes" que participam do movimento apenas para quebrar tudo e pela violência. Mas, na realidade, esses argumentos não funcionam muito bem (até agora) e as pessoas continuam apoiando o movimento.
Ademais, os trabalhadores em determinados setores estratégicos, como transportes, portos e transportes de combustível, essencialmente, mantém sua greve e até mesmo aumentaram o seu nível de luta.
Pelo menos dois terços dos depósitos de combustíveis foram deixados vazios (em parte pelo bloqueio, em parte porque as pessoas estavam com medo da escassez e correram para as bombas de gasolina... este sentimento irracional de pânico foi uma grande ajuda para os grevistas pela confusão que foi criada).
A rede de abastecimento esteve prestes a entrar em colapso. Isso levaria a um colapso total da economia, assim o próprio presidente decidiu hoje enviar o exército e a polícia para interromper o bloqueio. Os trabalhadores decidiram evitar o confronto e continuar a luta por outros meios.
Além disso, vemos o início da auto-organização em algumas áreas e cidades. Mesmo que isso ainda não tenha um caráter massivo pode ter um impacto significativo no movimento geral.
Por exemplo, em Toulouse, o sindicato local da CNT-AIT, convocou assembléias populares. A razão destas assembléias populares é para dar liberdade de expressão, para demonstrar que a política não é apenas para profissionais ou especialistas, para promover o pensamento crítico e a auto-organização.
Durante as primeiras manifestações, estas assembléias reuniam apenas 50 pessoas, mas depois o número aumentou 10 vezes (300 no dia 2 de outubro, 500 no dia 12, entre 500 e 700 no dia 16). Essas assembléias populares foram montadas com calma e determinação. Por exemplo, em 2 de outubro, quando a polícia exigiu que a assembléia fosse dissolvida, o público se recusou e continuou reunido durante 3 horas ocupando o centro da cidade sem ser incomodado. Tudo pelo poder que dela emana. Isto resultou em uma manifestação espontânea no centro da cidade. Este modelo organizacional está se expandindo, na Universidade de Mirail, cidades como Auch, Montauban, Figeac (onde existem outras seções da CNT-AIT) ou Poitiers (onde não há nenhuma).
Sobre a repressão policial, em algumas cidades os antidistúrbios estão muito nervosos. Eles agem com muita brutalidade. Na cidade de Caen dispararam à queima-roupa uma granada de gás lacrimogêneo no rosto de um manifestante. A lata de alumínio da granada se incrustou em seu crânio, e ele teve a sorte de sobreviver. A CNT-AIT de Caen está em contato com a família do manifestante. Vamos mantê-lo informado sobre este assunto. Em Montreuil, um subúrbio de Paris, um estudante foi atingido com um tiro de "flash" disparado pela polícia, o impacto na cara fez com que ele perdesse parte do rosto e pode perder um olho.
Mas em muitas outras cidades, especialmente em cidades portuárias como St Nazaire, Le Havre, Boulogne foram registrados fortes confrontos entre manifestantes e a polícia.
Desde o início do conflito mais de 2000 pessoas foram detidas durante as diversas ações.
Além dos embates mais espetaculares, muitas ações menores foram organizadas para tentar popularizar a idéia da greve geral. Por exemplo, em 13 de outubro participamos de um piquete em frente à fábrica da Peugeot em Aulnay para atrair outros trabalhadores para o movimento. Mas devemos dizer que embora muitos trabalhadores simpatizem com a causa não podem se unir ao movimento pelo montante de dívidas que eles têm que pagar. É por isso que nós estamos pensando sobre as ações que as pessoas podem fazer sem perder todo o seu salário, como a sabotagem, interrompendo a produção, bloqueios econômicos circulares... por exemplo, na biblioteca da Universidade de Paris XIII, os trabalhadores estão em greve cada um em um dia diferente. Ao fazer isso, o sistema para sem que os trabalhadores percam muito...
Tentamos ampliar os focos do movimento num sentido mais capital em seu aspecto internacional. Por exemplo, em Clermont Ferrand, o nosso sindicato local organizou durante a última manifestação um ato em solidariedade com os trabalhadores do Peru, em frente a uma loja da Zara.
Mas neste sábado começa uma semana de feriados nacionais, o governo espera que o movimento estudantil se esvazie e que o resto o siga.

Continuaremos informando...

Pelo comunismo libertário!

Longa vida anárquica!

Em solidariedade,

Membros da CNT-AIT Paris


Inauguração da Biblioteca Anarquista Terra Livre

Domingo, dia 31 de Outubro, dia de eleger o próximo candidato a presidência do Brasil, certo? Errado!
Neste próximo domingo a Biblioteca Terra Livre estará realizando a INAUGURAÇÃO da sua nova sede. O evento de inauguração ocorrerá no período da tarde e contará com uns comes e bebes!
A todos que tiverem interesse em comparecer para conhecer um pouco mais dos projetos da Biblioteca e dar uma olhada no acervo de livros, filmes, jornais e periódicos são bem-vindos.

Endereço:Rua Engenheiro Francisco Azevedo, 841 sala 07

Perdizes – São Paulo – SP -Brasil – 05030-010




Rediscutindo o anarquismo e o sindicalismo

CELIP (Círculo de Estudos Libertários Ideal Peres) convida: Palestra com Lucien Van der Walt.

O historiador sul-africano Lucien Van der Walt (fundador da Zabalaza Anarchist Communist Front ZACF) estará no Brasil nos próximos dias e participará de eventos para a discussão do livro que escreveu em co-autoria com Michael Schmidt. Black Flame: The Revolutionary Class Politics of Anarchism and Syndicalism [A Chama Negra: a política revolucionária e classista do anarquismo e do sindicalismo] foi publicado pela AK Press dos EUA em 2009 e aguarda publicação em outros idiomas.
Considerado por muitos o melhor livro de história do anarquismo já publicado, Black Flame é fruto de um trabalho de 10 anos, possui uma análise global e discute anarquismo e sindicalismo no mundo todo, tanto a partir de uma análise política/sociológica, como histórica. Um dos únicos livros que baseia suas conclusões em análises dos acontecimentos que envolveram o anarquismo e o sindicalismo em todos os cantos do mundo, incluindo o Brasil.
Trata de diversos temas: (re)definição do que é anarquismo, a partir de uma análise histórica bastante completa e não-eurocêntrica; a discussão dos primeiros tempos com as primeiras concepções da análise social; estratégia e tática diferenciando as duas principais linhas do anarquismo, o anarquismo de massas e o anarquismo insurrecionalista; anarquismo e sindicalismo; luta armada e violência; sindicalismo duplo, reformas e debates táticos; organização política anarquista; classe, internacionalismo, gênero, raça e imperialismo.
Para leitores do inglês, ver: http://black-flame-anarchism.blogspot.com/


Realização: Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)



O Coletivo Mundo Ácrata convida todos a participarem de seu I CURSO LIVRE DE ANARQUISMO.

O objetivo do curso é a discussão conjunta dos pensamentos, conceitos e práticas anarquistas “básicos”, partindo de seus “clássicos”. Convidamos todos aqueles que se interessem pelo tema, mesmo que não tenham qualquer estudo ou contato anterior com o anarquismo.
Não é necessária inscrição prévia ou qualquer tipo de pagamento.Ao fim de cada módulo temático, haverá emissão de certificado

INFORMAÇÕES DO PRIMEIRO MÓDULO: PIERRE-JOSEPH PROUDHON

Datas:

●1° Encontro: 06/11 (Texto base: Capítulo V de “O que é a propriedade?”)

●2° Encontro: 20/11 (Texto base: Capítulos VI ao XI de “Do princípio Federativo”)

●3° Encontro: 04/12 (Texto base: Capítulos I e III de “Sistemas de contradições econômicas ou Filosofia da miséria”)

●4° Encontro: 11/12 (Texto base: Excerto do Capítulo II de “Miséria da filosofia”)

→ Todos os encontros serão realizados aos sábados, 14:00 h, Sala (1H235)

Uberlândia-Minas Gerais

UFU-Campus Santa Mônica.



I FEIRA DO LIVRO ANARQUISTA DE PORTO ALEGRE

Sexta (5 de novembro)

Lançamento de livros e confraternização

Horário: a partir das 19:00

Dias de Guerra, Noites de Amor – Crimethinc

Zonas Autônomas – (vol. 2) – Hakim Bey

Sábado (6 de novembro)

Oficina

Costura de Livros sem frescura

Horário: 11:00 ao 12:30

Proponente: Editora Deriva

Almoço

Horário: A partir das 13:00

Bate-papo

Anarquismo e Geografia

Horário: 14:30 – 16:00

Convidado: Dilermano Cattaneo

Bate-papo

História pelos Anarquistas

Horário: 16:30 – 18:00

Convidado: Anderson Romário Pereira Corrêa

O saber histórico serve para compreender e explicar o processo pelo qual as sociedades e os indivíduos passaram para chegar a ser o que são hoje. Conhecer este processo é um dos pressupostos para poder agir sobre ele. O saber histórico serve também como discurso para justificar ações e posturas presentes. O texto “A história na visão de anarquistas” pretende conhecer como alguns anarquistas “clássicos” pensavam a História. A modesta intenção do texto é provocar a discussão entre aqueles que se identificam com o anarquismo e que procuram referências teóricos e metodológicos para seus estudos em História.

Filme e bate-papo

Acratas

Horário: 19:00

O documentário reconstói narrativamente a experiência dos “anarquistas expropiadores” no Rio da Prata dos anos 30. Documentário independente realizado com fotografias, filmes de época, materiais de arquivo e testemunhos de sobrevivientes.

Conta também com intervenções do historiador anarquista Osvaldo Bayer, quem tem escrito sobre o fenómeno dos anarquistas expropiadores, Abel Paz, historiador da revolução espanhola e do intelectual ítalo-uruguaia Luze Fabbri.



Domingo (7 de novembro)

Oficina

Stencil

Horário: 10:00

Proponente: Alisson

Almoço

Horário: A partir dás 13:00

Bate-papo

Anarcologia e Protopia

Horário: Das 14:30 às 16:00

Convidado: Alt

Um papo sobre saberes anarquizantes (Anarcologia). Sobre ações históricas em favor da autonomia e experiências comunalistas: das barricadas de Comuna de Paris aos Caracóis da Selva Lacandona. Embates territoriais em contextos de ampliação do aparato de repressão e controle no contexto urbano. Possibilidades protópicas, a estratégia das zonas autônomas, formas de libertação da imaginatividade.

Bate-papo

Política e anarquismo

Horário: 16:30 – 18:00

Convidado: Bruno Lima Rocha

Bate-papo

Feminismo e Anarquismo

Horário: 18:30 – 20:00

Convidado: Ação Antisexista

Propomos um diálogo sobre as conexões entre anarquismo e feminismo.

Existe anarquismo sem feminismo? Qual a importância dos principios libertários para o feminismo contemporâneo?

Estaremos também lançando os zines Nem Escravas Nem Musas #2 e Reajindo – Defesa pessoal para mulheres de todas as idades



L-Dopa Publicações

Literatura reveladora e relevante


Neste ano de 2010, a L-Dopa Publicações trouxe à luz diversos lançamentos que estão agora disponíveis ao leitor. Queremos convidar a todos para conhecer nossos livros, que podem ser encontrados em nosso site, com a possibilidade de compra eletrônica.
O objetivo de nossa editora é levar ao público, em breve, mais e melhores títulos de literatura e política. Contamos com seus comentários e opiniões.

Você não pode ser neutro num trem em movimento
Howard Zinn

O Quarto da Claraboia – Contos
O’Henry

No Café: Diálogos sobre o Anarquismo
Errico Malatesta

A Antibruma
Nils Skare

A Sonata dos Espectros
August Strindberg
A Tragédia da Espanha
Rudolf Rocker

A novela Kappa, de Akutagawa Ryunosuke, mestre da literatura japonesa, foi traduzida diretamente do japonês e já está no prelo. Uma das últimas obras do autor, Kappa é uma sátira mordaz sobre a sociedade humana, espelhada nos seres mitológicos japoneses que dão título à obra. Também está sendo editada a novela O Estranho Misterioso, texto póstumo de Mark Twain. Ambas as obras devem ser lançadas pela L-Dopa Publicações até o fim deste ano.


CONTATOS

Fernanda Caroline de Melo Rodrigues: fernandaanarquista@yahoo.com.br
Thiago Lemos Silva: thiagobakunin@yahoo.com.br

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